Com mais de 90% de leitos de UTI ocupados, Porto Alegre tem momento mais preocupante da pandemia

Com mais de 90% de leitos de UTI ocupados, Porto Alegre tem momento mais preocupante da pandemia

Quatro hospitais da Capital estavam com 100% de ocupação

Jessica Hübler

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Com mais de 90% de todos os leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) ocupados, Porto Alegre está vivenciando “o momento mais preocupante de toda a pandemia”. A afirmação é do coordenador do Complexo de Regulação da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Jorge Osório. Na tarde de hoje, quatro hospitais estavam com 100% dos leitos de UTI ocupados: Fêmina, Hospital da Restinga, Moinhos de Vento e Independência. Além disso, a Santa Casa de Misericórdia operava com a UTI em 109,09%. Outros seis hospitais trabalhavam com lotação acima de 90%.

Do total de 815 leitos, 27 estavam bloqueados e 759 estavam ocupados. Mais da metade das internações (52,04%) estavam relacionadas à Covid-19, sendo 338 pacientes com diagnóstico positivo da doença e 57 com suspeita. Fora das UTIs, já nas emergências hospitalares, pelo menos 42 pacientes com o novo coronavírus aguardavam pela disponibilização de leitos. 

Os hospitais com maior número de pacientes da Covid-19 em UTIs eram, respectivamente: Hospital de Clínicas (94 internações, sendo 83 confirmados e 11 suspeitos); Santa Casa (51 pacientes, 36 com diagnóstico positivo e 15 com suspeita) e Moinhos de Vento (45, todos confirmados). O coordenador do Complexo de Regulação da SMS, Jorge Osório, enfatiza que o aumento da ocupação de leitos foi “muito brusco”. 

“Tivemos três subidas da demanda ao longo da pandemia, a primeira foi entre julho e agosto, depois entre o final de novembro e início de dezembro e agora registramos o terceiro aumento considerável. Cada subida dessas teve duração de cerca de três semanas e é o que se espera dessa demanda elevada, mas o que está assustando dessa vez é a velocidade desse aumento, o que é realmente inédito”, frisa. Segundo Osório, há uma sobrecarga “muito grande” da rede hospitalar.

Um fator que contribuiu para a situação, conforme Osório, foi que o sistema de saúde da Capital estava começando a realizar um número maior de procedimentos eletivos relacionados a uma demanda de saúde que estava represada desde o ano passado. “Num momento que a gente via a diminuição dos casos, começamos a recuperar pacientes que estavam aguardando para fazer seus procedimentos”, explica.

E isso também diferencia o atual momento daquele vivenciado no final de julho, por exemplo. “Essa subida nos pegou com um patamar já elevado da ocupação dos leitos e agora com essa subida muito abrupta, realmente temos essa sobrecarga e por isso a gente está ainda esperando um cenário ainda mais difícil”, destaca, complementando que a partir do momento que a ocupação das UTIs ultrapassa a marca de 95%, a rede hospitalar já está em um patamar próximo do limite.

“A partir deste momento estamos acionando todas as contingências dos hospitais, para que utilizem salas de recuperação, emergências, toda a estrutura acaba tendo que entrar para o nosso arsenal de leitos da cidade para dar conta de toda essa demanda”, declara. Nos últimos dias, de acordo com Osório, mesmo com esgotamento dos leitos de UTI, a SMS reforçou que é preciso procurar novos equipamentos que tenham um suporte minimamente adequado para a entrada de novos pacientes. “Estamos em um nível bastante saturado, por isso precisamos ter alternativas”, pontua.

No Rio Grande Sul, 83,7% dos 2.684 leitos de UTI adulto estavam ocupados na tarde de hoje, ou seja, 2.246 pacientes internados. Sendo que 47,98% dessas internações estavam relacionadas com a Covid-19: 1.072 pacientes com diagnóstico positivo da doença e 216 com suspeita.

A Macrorregião com maior taxa de ocupação era a Centro-Oeste. Dos 234 leitos de UTI adulto, 89,7% estavam ocupados. Do total de 210 pacientes internados, 109 estavam ligados ao novo coronavírus, o que representava 51,90% do total. Na Macrorregião Metropolitana a taxa de ocupação era de 87,6%.

Do total de 1.392 leitos de UTI adulto, 1.219 estavam ocupados. Do total de pacientes, 59,88% estavam relacionados à Covid-19: eram 730, sendo 607 com diagnóstico positivo da doença e 123 com suspeita.

HCPA divulga novas medidas de contingência

Devido ao grande aumento no número de atendimentos a casos suspeitos e confirmados de Covid-19, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) informou que adota, desde sábado, diversas medidas de contingência. Com relação às consultas ambulatoriais, por exemplo, o HCPA frisou que estão mantidos apenas os atendimentos "muito essenciais", ou seja, pacientes que tenham consultas ou exames agendados e que possam ficar sem esse atendimento no momento, não devem comparecer e terão seus procedimentos remarcados.

Além disso, o HCPA declarou que estão suspensas as internações clínicas eletivas, tanto do SUS quanto dos convênios e os pacientes serão contatados por suas equipes. Demais cirurgias e procedimentos eletivos que não sejam inadiáveis também estão cancelados e serão realizados apenas transplantes urgentes. "O hospital está monitoramento permanentemente o cenário e já organizou a abertura de novos leitos dedicados a casos de Covid-19 mas, mesmo assim, a demanda se encontra acima de capacidade operacional", informou o HCPA, em nota.

A professora e coordenadora do grupo de trabalho para a preparação do enfrentamento ao coronavírus do HCPA, Beatriz Schaan, esclarece ainda que o HCPA ampliou a oferta de leitos de UTI e também de enfermaria. Até a tarde de domingo, o HCPA contava com 97 leitos de UTI e 56 de enfermaria voltados exclusivamente para a demanda de pacientes com a Covid-19. "Não é tão imsples a expansão, vamos organizar o pensamento para ver até onde a gente consegue ir, mas estamos bem perto do nosso limite", assinala Beatriz. Ela ainda complementa que os profissionais estão sobrecarregados, exaustos e que é preciso que as pessoas parem de se promover aglomerações. 

 


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