Com receio do coronavírus, bares e restaurantes mantêm apenas serviços de entrega

Com receio do coronavírus, bares e restaurantes mantêm apenas serviços de entrega

Mesmo com liberação das atividades por decreto, proprietários optaram por seguir obedecendo normas de distanciamento social

Felipe Samuel

Restaurantes e bares mantêm sistema de entregas por medo do coronavírus

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Com o decreto municipal 20.583, que determina funcionamento de bares, restaurantes e comércio com algumas restrições na Capital, muitos estabelecimentos decidiram abrir as portas aos clientes e voltar a oferecer serviço presencial. O retorno parcial das atividades econômicas em meio à pandemia do novo coronavírus também pode colocar em xeque o esforço da prefeitura para manter reduzidos os índices de contágio da doença na Capital. 

Apesar da permissão para operar com até 50% da capacidade dos estabelecimentos, alguns proprietários de restaurantes e pizzarias optaram por manter apenas o serviços de tele-entrega e por retirada no balcão. O cenário incerto da economia e as condições sanitárias para reabertura ao público são os principais argumentos dos proprietários. O Botequim da  Alcides, localizado no bairro Santa Cecília, passou pela experiência de abrir o atendimento ao público dentro do bar, na quinta-feira. 

Mesmo atendendo às recomendações de higiene e distanciamento de mesas, o proprietário Cléber Gonçalves abandonou a ideia após primeiro dia de autorização para receber clientes. "Tem gente que não está levando a sério essa doença, não tem ideia de distanciamento. Um cliente chegou com luvas e não queria fazer higienização. Depois saiu e deixou as luvas atiradas. Falta consciência para uma parte da população", alerta. Apesar das contas batendo à porta, Gonçalves percebeu que ainda não é momento de reabrir as portas à clientela e por isso decidiu manter apenas os serviços de tele-entrega e retirada no balcão. "As pessoas chegam ao bar sem máscaras de proteção e circulam juntas no ambiente, mesmo com todas as recomendações. É muito difícil, pois acabamos tendo que fazer trabalho de conscientização com esses clientes. Alguns ficam contrariados", completa. 

Na página da rede social Facebook, uma mensagem explicando os motivos para manter apenas os serviços de entrega ganhou apoio maciço dos frequentadores assíduos do local. "Temos o desejo, justo e necessário, de retomar as atividades, mas entendemos que é um tempo de cautela", diz a mensagem. Gonçalves chegou a fazer uma enquete com os clientes mais antigos do bar. O resultado não chegou a ser uma surpresa: a maioria garantiu que estava ansiosa para frequentar o bar mas que ainda não iria voltar a ocupar as mesas nas calçadas. "É muito mais complicado do que parece, eu sabia que meus clientes não viriam", destaca. Ele reforça que seu público sabe da importância de adotar medidas preventivas nesse momento. "Tenho uma lista com mais de 150 nomes de clientes. E eles mandaram uma enxurrada de mensagens apoiando a minha decisão, apesar  de relatarem ter saudades do bar", avalia.

Mais do que a desinformação, Rossi afirma que muitas pessoas sequer utilizam máscaras de proteção no dia a dia. Ele nota ainda desrespeito de parte da população às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), como a necessidade de distanciamento social. "Colocamos várias mensagens na entrada informando que as pessoas que vão retirar os pedidos devem usar máscaras, mas muitas chegam sem (o acessório) para comprar", afirma. Nas redes sociais, o público aprovou a iniciativa de manter as unidades fechadas e com atendimento apenas por tele-entrega. "Muita gente compreendeu nossa situação", acrescenta.

Além de preservar a integridade física de clientes e funcionários, ele alerta que a decisão de seguir apenas com as entregas pode ser um bom negócio na atual circunstância. "A equipe trabalha mais tranquila e evita estresse dentro da loja. E também tem o perigo de alguém ser contaminado e isso nos obrigar a fechar por 15 dias em função da necessidade de quarentena. E ficar fechado por todo esse tempo seria um risco grande, poderíamos até falir", frisa. 

Conforme Rossi, desde março a empresa luta para se manter em pé. "Estamos num processo muito sensível, com a corda quase estourando para todo mundo", admite. Mesmo com todo esforço, houve necessidade de demitir uma parte do quadro de funcionários. "Os boletos continuaram vindo, por isso cortamos cerca de 60%  dos trabalhadores. Alguns conseguimos recolocar em outras lojas.

O Yatta Buffet Sushi, localizado na Assis Brasil, na Zona Norte, decidiu seguir com as tele-entregas e o sistema de retirada no local. Proprietária do restaurante de sushi, Márcia Paulsen Dahlem explica que precisou fazer várias adaptações para continuar operando após a propagação da Covid-19. Sem recursos para arcar com os gastos mensais e a diminuição dos pedidos de refeição, teve que reduzir 70% do quadro de funcionários. Na loja, as mesas antes ocupadas por clientes estão com as cadeiras por cima. Com equipamentos de proteção individual (EPI) e álcool em gel, os funcionários seguem o trabalho na cozinha. "Ainda estou avaliando qual melhor momento para reabrir ao público, mas isso não vai ocorrer antes do Dia dos Namorados (12 de junho)", revela.

Mais do que receio de voltar a operar normalmente e recontratar servidores, Márcia observa que é preciso atender a uma série de exigências do decreto para funcionar com segurança para clientes e funcionários, além de ser necessários mais investimentos. Conforme a norma, nos restaurantes e lancherias, os serviços de bufê estão permitidos desde que a montagem do prato seja feita exclusivamente por um funcionário do serviço. "Não reabrimos por receio de ter de voltar a fechar ao público e demitir novamente. Manter estrutura com mais funcionários exige investimento maior. Não quero arriscar agora", completa. 


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