Com UTIs superlotadas, governo avalia manutenção da bandeira preta

Com UTIs superlotadas, governo avalia manutenção da bandeira preta

Até o início da noite, 319 pessoas aguardavam por leito

Felipe Samuel

Estado sofre com superlotação de UTIs

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Em função da situação crítica do sistema de saúde do Rio Grande do Sul e do aumento exponencial das internações por Covid-19, o governador Eduardo Leite afirmou nesta segunda-feira que, se mantida a tendência atual dos indicadores que formam o cálculo das bandeiras, a perspectiva é de que a bandeira preta permaneça até que haja uma reversão no cenário e queda nos números. O governo do Estado justifica que essas projeções são baseadas nos dados que compõem o modelo de Distanciamento Controlado.

A avaliação do governo tem por base o crescimento exponencial das internações por Covid-19, nas últimas semanas, nas redes pública e privada. "O número de pacientes confirmados com a doença em UTIs, que é um dos indicadores, aponta que houve um aumento de 800 para cerca de 2,5 mil pessoas nessa condição. Isso significa que ainda há uma situação de superlotação dos hospitais, fazendo com que o modelo do Distanciamento Controlado indique a bandeira preta", assinala Leite.

Com relação à cogestão, o governo pretende conversar com os prefeitos nesta sexta-feira para definir os próximos passos. Mesmo que haja uma eventual decisão de retomar a cogestão, o governo entende que serão necessários ajustes nos protocolos da bandeira vermelha, tornando as atividades mais restritas. Com 148 mortes confirmadas nesta segunda, o Rio Grande do Sul contabiliza 15.105 vítimas fatais em função do novo coronavírus. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou ainda 2.618 novos infectados, elevando o total para 744.844.

A taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) voltou a apresentar crescimento e atingiu 109,8% de lotação, com 3.473 internações, ou seja, 310 pacientes a mais do que a capacidade máxima prevista. As redes pública e privada operavam acima da capacidade máxima. Com superlotação, os leitos privados apresentavam taxa de ocupação de 134,2%. As internações relacionadas à Covid-19 totalizavam 77,6% do total, com 2.693 pacientes. Do total, 2.551 eram de casos positivos para a doença e outros 142 tinham diagnóstico suspeito.

Na Capital, 14 hospitais operavam com capacidade máxima ou apresentavam superlotação. Com 1.172 pacientes em estado crítico, a taxa de ocupação das UTIs atingiu 117,43%. Com isso, o sistema de saúde abrigava 170 pacientes a mais do que a capacidade máxima prevista.

Até o início da noite, 319 pessoas aguardavam por leito de UTI. Do total, 267 esperavam em emergências. Outras 52 estavam em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

Clínicas mantém emergência Covid-19 fechada

Com agravamento da pandemia, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) mantém fechado desde domingo a emergência dedicada a casos da Covid-19 para chegada espontânea de pacientes. Apenas pacientes em estado grave trazidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ou via Sistema de Gerenciamento de Internações (Gerint) são recebidos. Até início da noite, a estrutura atendia 77 pacientes, dos quais 52 em condições críticas. Sem prazo para reabrir, a direção do hospital volta a reavaliar a situação nesta terça.

A emergência não-Covid mantém funcionamento normal. Conforme o chefe médico do Serviço de Emergência do Clínicas, José Pedro Kessner Prates Júnior, a decisão de restringir atendimento é resultado da alta demanda dos últimos dias. Na avaliação de Kessner, já se percebe 'nitidamente o colapso' do sistema de saúde. "Temos que ter alternativas do ponto de vista das estruturas hospitalares para que possamos manter mínima qualidade de atendimento dos pacientes. Em um cenário de guerra como este temos que focar energia e força de trabalho no atendimento dos mais graves", afirma.

Em função da demanda, a emergência do hospital muitas vezes abriga pacientes nas poltronas por até três dias. E o perfil das internações também mudou, com maior número de pessoas abaixo de 50 anos recorrendo a atendimento de emergência. "Estamos vendo muitos pacientes jovens chegando em estado grave, o perfil se modificou do pico anterior (da pandemia) desde ano passado. São pacientes que demandam de mais cuidados e suporte ventilatório do que vimos no ano passado", observa. Conforme Kessner, dos 122 pacientes internados na CTI Covid-19, metade tinha menos de 50 anos.

Devido à superlotação, Hospital Dom João Becker, em Gravataí, fecha emergência Covid-19

Por conta da crescente demanda de pacientes, o Hospital Dom João Becker, em Gravataí, fechou a emergência Covid-19. Em nota, a Santa Casa - que administra o hospital - informa que a decisão é devido à superlotação e ao esgotamento total da capacidade de ampliação de leitos.

Em nota, a instituição reforça que o 'devido tratamento e o processo de recuperação passam, necessariamente, por condições adequadas de acomodação do paciente e de trabalho dos profissionais da saúde'. Por isso, a população de Gravataí deve procurar atendimento em outras estruturas da rede pública.


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