Comissão da AL discute atual cenário epidemiológico do RS

Comissão da AL discute atual cenário epidemiológico do RS

Parlamentares conversaram com o reitor da Ufpel Pedro Hallal e com o médico infectologista Rodrigo Santos

Luciamem Winck

Reunião virtual ocorreu na manhã desta quarta-feira

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A Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa ouviu nesta quarta-feira, em videoconferência, o reitor da UFPel, Pedro Hallal, e o médico infectologista Rodrigo Santos, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a respeito do atual momento da pandemia no Rio Grande do Sul e em Porto Alegre. Na 42ª semana da pandemia e com a curva de hospitalizações e mortes descendente, a recomendação dos especialistas é de cautela. 

"A possibilidade de uma nova onda de contágios no RS, como está acontecendo na Europa, poderá surgir no próximo ano, isso porque a primeira onda aqui foi mais longa do que em outros países", observou. O médico infectologista, coordenador das ações do Hospital de Clínicas no grupo de combate ao novo coronavírus, Rodrigo Santos, comentou que as ações de bloqueio do contágio foram eficientes no RS e garantiram ao sistema de saúde o atendimento nas UTIs, em especial na Capital que não sofreu impactos como em outras regiões do Estado.

Esse resultado positivo ele atribuiu ao modelo de bandeiras adotado pelo Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus, combinado com o distanciamento social precoce e ao fato de a população gaúcha ter colaborado de forma exemplar no início da pandemia. "Isso afetou as escolas, que foram imediatamente fechadas, mas repercutiu na capacidade de organização do sistema de saúde para enfrentar a crise sanitária", enfatizou. Santos observou que neste momento a curva de internações e mortes é descendente há algumas semanas, tanto que o Clínicas registra 80 leitos ocupados com pacientes Covid-19, mas esse número foi de 105 leitos ocupados no auge da crise. Essa queda está sendo registrada também em outros hospitais. A testagem, na opinião do médico, deve ser utilizada com critérios para evitar negligência nos cuidados preventivos. Ele orienta pela testagem de casos suspeitos e seus contatos, e menos testagem ampla e sistemática, sem critérios. Deu como exemplo os times de futebol, que mesmo realizando testes amplos, têm registro de surtos de Covid.

Hallal referiu a experiência adquirida nestes meses de convívio com o vírus, cujo contágio é menos perigoso que em março, mas ele descarta um final de ano livre da Covid-19 no RS, “estaremos ainda lidando com a pandemia, em nível de preocupação menor do que há alguns meses, mas o novo coronavírus estará nos incomodando nas festas de fim de ano, infelizmente”. Na linha de frente desde o início, o reitor  apontou erros cometidos, como a previsão de duração da primeira onda. “Achava que teria duração menor, como teve em outros lugares, 13 ou 14 semanas, na maioria da Europa seguiu essa tradição das epidemias, mas no Brasil não foi assim”. Outro erro foi a questão dos anticorpos. “No começo, baseado na experiência do Sars-Covid 1, os anticorpos duravam mais tempo no organismo. Hoje sabemos que alguém que teve quadro leve em março se for provado terá resultado negativo”. O erro principal dos gestores no país não foi negligenciar em relação às máscaras e distanciamento social ou recomendar cloroquina, mas a falta de investimento em testagem. Isso trouxe os piores resultados”.

Mas ele parabeniza o RS cujos números são melhores do que a maioria da federação. "Isso merece elogios, foi trabalho coletivo, pelo governo, prefeituras, os pesquisadores, a mídia e a população gaúcha, que nos primeiros meses deu aula de cidadania, ficando em casa para evitar a circulação do vírus”, garantiu o especialista. Já o médico Rodrigo Santos destaca o aprendizado destes meses para a população em relação aos procedimentos básicos para evitar o contágio, tanto em relação à Covid quanto outras infecções. Isso vai provocar uma mudança de hábitos, exigindo novas legislações e procedimentos públicos, papel que caberá aos legisladores e gestores no sentido de manter esse debate pois “o risco vai diminuir, mas não vai ser eliminado por completo, teremos a sazonalidade de Covid, como temos de gripe”. "

A mudança de hábitos é difícil de acontecer do ponto de vista cognitivo e cerebral. A gente tende a voltar ao padrão anterior porque é mais confortável, mas temos que criar mecanismos novos”, sugere o médico. Isso porque, mesmo com a vacina, não será possível tudo voltar ao normal, o risco vai continuar. Usar a máscara abaixo do nariz ou no queixo, por exemplo, preocupa e para isso os gestores terão que adotar medidas que tornem constante os equipamentos de proteção e seu uso adequado. 


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