Coronavírus se move pelas vias arteriais de Porto Alegre

Coronavírus se move pelas vias arteriais de Porto Alegre

Especialistas apontam que Covid-19 se espalha ao longo dos bairros avançando por vias importantes como a Assis Brasil e a Terceira Perimetral

Gabriel Guedes

Movimento em vias como a Assis Brasil dissemina contágio por outros bairros, dizem especialistas

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Os casos de Covid-19 podem estar se espalhando ao longo dos bairros situados próximos de vias importantes, como a Avenida Assis Brasil, Protásio Alves, Ipiranga e Terceira Perimetral, em Porto Alegre.

Perfazendo uma direção radial, especialistas acreditam que o novo coronavírus avançou da área mais central para regiões mais distantes acompanhando o fluxo populacional, que utilizou nas últimas semanas estas vias para se deslocar entre estas zonas e o Centro.

Dados atualizados pela Prefeitura no final de semana apontam a liderança do bairro Petrópolis, com 144 infectados. Mas se olharmos para os dados, é possível ver que o avanço é mais acelerado em bairros das extremidades, com diferenças de até 600% em número de casos em relação ao dia 10 de junho em bairros como o Agronomia, que saltou de 1 para 7 infectados.

Entretanto, nos bairros maiores, como o Sarandi e Restinga, a situação não é diferente e o avanço superou os 200%, com 129 casos e 73 ante 42 e 21 casos em junho.

De acordo com secretário adjunto de Saúde, Natan Katz, “a transmissão é pela pessoa, não se tem barreira para o vírus”. Depois que houve transmissão comunitária, o adjunto afirma que já era esperado que os casos se propagassem do Centro para outros bairros de Porto Alegre. “Tem a ver com a entrada do vírus na cidade. Estes bairros mais centrais têm incidência maior do que os bairros mais periféricos”, afirma.

O transporte público e o local de trabalho foram fundamentais para esta propagação. “A mobilidade da cidade faz isso, que aqui é radial. Esperamos que bairros mais populosos como a Restinga, tenham ainda mais casos. Espera-se que tenhamos uma cidade mais uniforme em termos de infectados.

O professor adjunto do departamento de Geografia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Tiaraju Salini Duarte, viu em um evento recente, uma análise do que acontece em Salvador, capital da Bahia, onde mostraram as características da dispersão da Covid-19 naquela região. “Ele tende a se dispersar nos fluxos populacionais. Isso fica muito claro no mapa da prefeitura de Porto Alegre, onde há grandes concentrações ao centro, norte e sudoeste”, aponta.

Duarte frisa que a Capital vai seguir vendo a espacialização dos casos para os bairros mais periféricos. O professor denomina de centralidades aquelas localidades em que são referência para a população em infraestrutura e serviços e o que acaba motivando o deslocamento das pessoas.

No RS, moradores de cidades do interior costumam recorrer a Porto Alegre quando precisam de atendimento de saúde de alta complexidade. Isso acontece da mesma forma, mas numa escala menor, dentro da própria Porto Alegre. “Principais bairros com zonas comerciais mais ativas e tendem a ter mais casos. É uma ideia de difusão por hierarquia, do centro tradicional e de novas centralidades”, acrescenta.

Sobre as novas centralidades, Duarte lembra que pessoas que moram no extremo sul da Capital, por exemplo, não vão sempre ao Centro, o que acaba também sendo observado no mapa, com uma concentração de casos em bairros como Hípica, Vila Nova e Restinga, referências para aquela região. “O vírus segue o capital, o movimento do comércio. A tendência é essa. Por isso o isolamento é importante. Mas também há outras estruturas de difusão e por isso é muito complexo falar em abertura de comércio, retomada, etc”, comenta.

Além do Petrópolis e Sarandi, Lomba do Pinheiro, Centro Histórico e Partenon compõem as cinco primeiras colocações entre os 91 bairros em casos absolutos de Covid-19, acumulando 602 pessoas que já foram contagiadas. No extremo oposto, Lageado, Farroupilha e Vila Conceição, somados, possuem cinco casos. Extrema e Pedra Redonda são os únicos bairros da Capital sem registro de infectados.


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