Covid-19 é só mais um entre tantos outros riscos enfrentados por moradores de rua de Porto Alegre

Covid-19 é só mais um entre tantos outros riscos enfrentados por moradores de rua de Porto Alegre

Órgão responsável pela assistência destacou que pessoas em situação de vulnerabilidade social não estão ficando desassistidas

Gabriel Guedes

Segundo Fundação de Assistência Social e Cidadania, Porto Alegre tem pelo menos 2.679 moradores de rua

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Enfrentar a Covid-19 não é fácil para quem já tem um lar, imagina para quem não tem um teto para habitar. Porto Alegre tem pelo menos 2.679 moradores de rua, mas segundo a presidente da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), Vera Ponzio, é bem provável que este número seja ainda maior por causa da crise instalada. “As coisas em tempos de pandemia estão mais difíceis”, desabafa. 

Mais pessoas estão passando dificuldades e o órgão responsável pela aplicação das políticas assistenciais na Capital viu a distribuição de cestas básicas, feita à população que tem dificuldades de se sustentar, saltar de 150 para 10 mil por mês, bem com o benefício de auxílio-moradia, antes concedido a 60 famílias e que agora são 320. Àqueles que ainda estão nas ruas, o novo coronavírus ainda é um dos menores problemas, mas o risco eminente de contaminação não os deixa menos apreensivos.

“Os Três Mosqueteiros”

Na Rua Garibaldi, no bairro Independência, um homem de 50 anos está morando na rua há cerca de cinco meses. Com problemas de alcoolismo, vício acentuado após a mãe ter tido duas ocorrências de Acidente Vascular Cerebral (AVC), acabou sendo expulso de casa pelo restante da família. Hoje divide o espaço ao ar livre com mais dois homens, um deles, um uruguaio, a quem denomina o grupo com os parceiros como “os três mosqueteiros”. 

Sobrevive com algumas gorjetas dadas pelos moradores próximos em troca de favores, como cuidar de carros e motocicletas. “Aqui no prédio do lado tem a Dona Maria. Eu acabei de levar o lixo para ela”, conta.

Às vezes ele também faz dinheiro vendendo a parte reciclável do lixo. Morar em uma calçada também o faz também procurar abrigo em uma marquise em dias de chuva. Mas contra a Covid-19, sabe que o vai proteger é a máscara, que utiliza às vezes. “Quando tem muita gente passando na rua, eu acabo usando”, justifica.

Foto: Alina Souza

Ações

Em outras partes da cidade dá para observar a presença de muitos moradores de rua sem uso de máscara. Contudo, Vera afirma que não há como controlar o que esta população, embora as equipes de Abordagem Social e Consultório na Rua seguirem acompanhando sistematicamente esta população.

“Alguns são mais resistentes a nossas abordagens”, avalia. Mas a presidente da Fasc garante que estas pessoas e aquelas que estejam vivendo outras situações de vulnerabilidade social, não estão ficando desassistidas.

Entre as ações destacadas por Vera, estão também o aumento das vagas em abrigos, de 238 para 495 vagas, ampliação de 60 vagas nos Centro POP I e Centro POP II para higienização e alimentação da população em situação de rua, que agora comporta 280 vagas, bem como a disponibilização de espaços de cuidado em sete diferentes regiões da cidade, com oferta de banho, distribuição de quentinhas e orientação. 

Além disso, o Programa Prato Alegre tem oferecido 700 refeições por dia na Capital, sendo 400 apenas no Centro. “Teve muita gente que perdeu a renda, o que acaba se somando a esta população de moradores de rua. Por isso, diferente de outros tempos, essas pessoas têm procurado ajuda e aceitado nosso trabalho”, aponta.


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