Desfile Farroupilha reúne milhares na Avenida Beira-Rio

Desfile Farroupilha reúne milhares na Avenida Beira-Rio

Pelo menos três mil cavalarianos passaram a trote, sob o aplauso da plateia

Franceli Stefani

Evento movimentou cerca de 15 mil pessoas

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Homens e mulheres com pé no estribo, ostentando a bandeira do Rio Grande do Sul, de suas entidades e, na pata do cavalo, mostrando o orgulho de ser gaúcho. Foi nesse tom que mais de 50 piquetes passaram pela Avenida Beira-Rio, na manhã desta sexta, no tradicional Desfile Farroupilha, que iniciou nas proximidades do estádio Beira-Rio e seguiu até a Rótula das Cuias. O evento movimentou cerca de 15 mil pessoas, que saíram de casa para assistir as demonstrações de amor à tradição. Pelo menos três mil cavalarianos passaram a trote, sob o aplauso da plateia.

Depois da parte cívico-militar da apresentação, o chasqueiro Edson Fagundes foi, no lombo do cavalo, até o palanque oficial para pedir ao governador Eduardo Leite para entrar na avenida com a tropa de cavalarianos. A Chama Crioula foi conduzida pela Ordem dos Cavalarianos do Rio Grande do Sul. Conforme o presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Nairo Callegaro, tudo aconteceu dentro do tempo cronometrado. “Quando a sociedade consegue se unir e convergir para o mesmo ponto recebemos esse resultado, uma festa linda, com tempo firme e grande público”, ressaltou.

A primeira comitiva a receber o aplauso do público foi formada pelas primeiras prendas, peões e guris que levam a cultura do Estado para todos os recantos. A apresentadora Liliana Cardoso enalteceu que os representantes levam a essência e base do MTG em frente. “Não é apenas a faixa de couro”, exclamou. Os pais deles desfilaram em um caminhão que homenageava o legado deixado por Paixão Côrtes. Callegaro enfatizou que a ideia é sempre manter a história e importância que ele tem para o Rio Grande. “Tentamos buscar na vida e obra dele o significado que teve há 72 anos, foi um processo de resgate de cultura, nossa identidade e nossos usos e costumes”, afirmou.

Entre as tantas entidades que mostraram a valorização da cultura gaúcha, esteve o piquete Lanceiros Negros. Liliana falou sobre a representação dos heróis que foram traídos na Revolução Farroupilha. Eles fizeram trincheira para defender a sociedade. Segundo ela, em um discurso em alto tom, que os negros são a base na construção do Estado. Quem gostou da apresentação foi a servidora pública Victoria do Amaral, 37 anos. Ao lado pequeno Renato, 4 anos, falou sobre a representatividade. “É fundamental que saibamos da nossa história e possamos pertencer a ela. Acho importante meu filho crescer entendendo que ele fez a diferença aqui, em solo gaúcho.”

Enquanto comia um algodão doce, Juliana Britze, 10, contou que estudou sobre a Revolução Farroupilha. “Gosto muito de ver os cavalos, moro na cidade e só aqui tenho possibilidade de vê-los de pertinho”, disse. O empresário Lourenço Viel, 52, conta que não é só de churrasco que é feita a Semana Farroupilha. “Aqui nós coroamos tudo o que foi feito ao longo do tempo, mas ser gaúcho é ter respeito ao outro, hospitalidade para receber quem chega e força de vontade, para lidar com as adversidades.”

Sobre a participação massiva de crianças e adolescentes, Callegaro reforçou que isso significa a continuidade do movimento tradicionalista. Ele lembrou que a organização de valorização da cultura começou pelas mãos de jovens. “Hoje, cada vez mais as crianças participam, seja a cavalo, no chão, nos carros ou caminhões. A juventude é muito marcante, significa renovação e mostra o vigor que tem o tradicionalismo gaúcho”, finalizou.

Cívico-militar

Foi com o ruído de dois helicópteros da Brigada Militar (BM) que sobrevoaram a Avenida Beira-Rio, que a parte cívico-militar inciou sua apresentação, por volta das 9h30min. Os brigadianos foram os primeiros a ingressarem, mostraram a força através dos batalhões de pronto emprego, viaturas leves e também armamento. As sirenes das viaturas ecoaram e, aos poucos, com o desenvolver da apresentação foram mostrando o trabalho que é realizado em todo o Estado, que vai desde ao enfrentamento à criminalidade até o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd).

O Comando Rodoviário da Brigada Militar, a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros Militar, a Polícia Civil, a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e o Instituto Geral de Perícias também mostraram a sua força, através da mobilização de agentes e da passagem dos veículos utilizados em serviço, desde os antigos até os atuais. Os cães que trabalham para a segurança pública chamaram atenção do público, assim como a passagem da cavalaria.

Leite

Com lenço vermelho no pescoço e bombacha, o governador Eduardo Leite compareceu ao evento tradicionalista pilchado. Ele que contou que já participou do MTG, disse que ainda lembra de algumas danças. “O desfile apresenta o apreço pela história, o reconhecimento aos heróis farroupilhas e a identidade do povo gaúcho que é preservada pelo movimento tradicionalista”, afirmou. Conforme o gestor, a história ajuda o gaúcho a se entender como povo. “É um momento de olhar para trás e reconhecer o passado, mas também de olhar para frente reafirmando nosso carinho e compromisso com o Rio Grande.”

Leite lembrou também da importância de Paixão Côrtes, que morreu em agosto do passado, e teve seu legado enaltecido pelas entidades. “Perdemos recentemente esse grande nome da nossa cultura, mas é um símbolo concretamente estabelecido, a medida que nosso Laçador tem inspiração nele, mas o trabalho que ele desenvolveu pela preservação da tradição.”

Presente na atividade, a secretária de Cultura do Estado, Beatriz Araújo, falou sobre o momento que encerra a Semana Farroupilha. “É uma alegria ver essa linda festa. Apesar do mau tempo, que se fez presente em alguns dias, a chuva e o barro faz parte, foram muitas atividades de valorização à cultura realizadas.” Para a comissão formada por várias instituições e secretarias de governo, a programação foi um sucesso, coroada pelo desfile. “Fizemos um evento com todas as condições dos que participam, inclusive com acessibilidade para cadeirantes e intérprete de libras.”


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