Dia das Mães: desafios da pandemia pelo bem dos filhos

Dia das Mães: desafios da pandemia pelo bem dos filhos

Mulheres relatam obstáculos e aprendizados no dia a dia

Jessica Hubler

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O trabalho foi para casa e as crianças também. Mesmo para quem já costumava trabalhar remotamente, tudo ficou mais complicado. Teve também quem ficou sem escolha e precisou sair do emprego para cuidar dos filhos ou então quem precisou sair para trabalhar e improvisou formas de fazer isso acontecer. As escolas fecharam, o receio de contaminação pela Covid-19 é constante e o segundo Dia das Mães na pandemia está acontecendo. Em meio às tentativas de equilibrar minimamente as inúmeras tarefas, as mães seguem um dia de cada vez, fazendo o que é possível para o próprio bem-estar, mas principalmente pelo bem dos filhos. “Esse período de pandemia, de isolamento social, está sendo um grande desafio para mim, mesmo que já tenha se passado mais de um ano continua sendo muito complicado, principalmente na questão escolar com os meus filhos”, conta Aline Barbosa, que trabalha como digital influencer e é mãe de Antônia, 2 anos, Joaquim, 4 anos, Vicente, 7 anos, e Laura, 12 anos.

O pequeno Vicente estava iniciando a alfabetização quando apandemia começou e teve todas as atividades do primeiro ano no ensino remoto. “Eu me senti muito frustrada porque ele não conseguiu aprender aler ao final do ano, senti que eu errei em algo eaté agora ele ainda não está lendo totalmente, mas está quase”, comenta Aline. Segundo ela,odia adia é bastante intenso, principalmente pelo fato de ela precisar dividir a atenção entre os quatro filhos, os afazeres da casa e o trabalho. Na casa, moram ela e as crianças. “Enquanto um está assistindo à aula on-line, tem um chorando, outro pedindo para mamar, então não se torna um ambiente favorável para aprendizagem, até pelo barulho que tem em casa”, explica. Para ela, o último ano foi marcado pelo malabarismo, bem como pelo cansaço e, ao mesmo tempo, a gratidão. “Está sendo bem desafiador conseguir dividir meu tempo durante o dia entre atividades da casa, trabalhar, ajudar nas tarefas da escola, é bem complicado mesmo, mas ainda assim me sinto privilegiada em ter trabalho e poder trabalhar de casa.”

Desafios diferentes em cada fase 

Os desafios para amaternidade em tempos de pandemia são diversos e variam de acordo com arealidade de cada família. A psicóloga, doutora em Psicologia e diretora do Centro de Estudos da Família(Cefi), Mara Lins, comenta que o primeiro ponto aser considerado é que a maternidade écomo um ciclo da vida e, dependendo da etapa desse ciclo, o impacto será diferente. Quando um bebê chega, por exemplo, ele inaugura am ulher em uma nova função, um novo papel, e ela vai aprendendo junto com o filho. “E o primeiro filho vai inaugurando em cada etapa também, porque quando o filho é bebê, a mãe a prende tudo o que precisa fazer, daqui a pouco é uma criança e as necessidades mudam, depois como adolescente e adulto também.” A pandemia, de acordo com Mara, virou o mundo de cabeça para baixo e todos estavam sem o cinto de segurança. “Todo mundo caiu, ficou atordoado, muito sofrimento, angústia eansiedade, em todas as instâncias, o que inclui invariavelmente a maternidade”, explica.

Em muitos casos, mulheres tiveram a gestação e ganharam seus bebês ao longo desse tempo e elas se depararam com um mundo definido pela distância. “Não se pôde fazer tantos rituais, receber visitas ou contar com a ajuda de parentes, por exemplo”, afirma. Nesses casos, muitos rituais, como os chás de fralda, tiveram que se adaptar ao mundo virtual eassim como ocontato com as redes de apoio, quando existem. “É muito difícil se ver sozinha nesse momento, questionamentos sobre estar fazendo as coisas do jeito certo ou não, como está a interação com o filho, ficou uma experiência muito isolada e marcada pela angústia”, diz. Com relação às crianças, os desafios também são inúmeros. “A dificuldade éprincipalmente pela energia toda, crianças correm, pulam, querem brincar e, sem ter outras crianças para interagir, a coisa fica mais complicada, pois crianças precisam interagir, precisam de praças para correr. Ficar todo o tempo em casa gera sobrecarga de energia não só para os pequenos, mas também para quem fica com as crianças”, comenta. De modo geral, o mundo está mais estressante e irritante para todos, não só para as mães, mas para todos os membros da família. Além disso, com a suspensão das aulas presenciais, as crianças estão muito mais apegadas aos pais e estão com medo de estranhos porque não têm mais a oportunidade de interação como em “um mundo sem pandemia”.

“A interação ensina um pouco como omundo social funciona ecomo todos estão restritos dentro de casa, isso dificulta muito”, afirma. Conforme a psicóloga, não são conhecidos os efeitos de longo prazo do isolamento social, mas é algo que precisa ser observado. “Todos vamos sair com sequelas, sem falar quando acontece realmente a perda de pessoas importantes, o que foi vivido por muitas famílias, os rituais de despedida também não acontecem e estamos vivendo uma era de muito sofrimento.” Para as mães de adolescentes as dificuldades também existem, ainda que de outras formas. “É uma fase da vida de distanciamento dos pais, para se preparar para avida, e eles também estão dentro de casa. Nessa fase estão mais adaptados ao mundo on-line do que os adultos, mas ainda assim há riscos. É importante que os pais saibam o que os filhos estão fazendo nesse mundo virtual, com quem estão interagindo, em alguns casos pelos pais estarem cansados, acham bom que o filho não esteja ‘incomodando muito’, mas é importante estar acompanhando.”

Mudança de rotina e a saúde mental 

Um dos fatores complicadores da pandemia, de acordo com Mara, foi a mudança da rotina de dormir, acordar, se arrumar para sair para trabalhar, para ir para a escola, passar um tempo fora e depois voltar para casa. “Ficar 24 horas dentro de casa é difícil, muitas mães tiveram que manter o trabalho fora, mas outras levaram o trabalho para casa e também precisaram conciliar as atividades escolares, manter as crianças em frente às telas por um bom tempo. E quem trabalha fora, com quem deixa as crianças? Como manejar isso? Há rede de apoio? E quem trabalha em casa, literalmente com os filhos no colo?”, questiona. Os papéis e os espaços estão misturados, oque afeta diretamente a saúde física e mental de todos. “Não temos mais o ritual de colocar uma fronteira, o simples fato de colocar uma roupa para ir trabalhar, o momento de voltar para casa e descansar, essas rotinas reorganizam a vida interna e elas não existem mais, muitas pessoas trabalham com o pijama por baixo do casaco, estamos sem nossos rituais da rotina que nos reorganizam”, destaca Mara, assinalando que isso demanda mais energia e, consequentemente, mais estresse.

 “E como estão os papéis dos pais nesse contexto? Precisamos lembrar que pai não ‘ajuda’, cada um faz o seu papel, um pai não é maravilhoso por estar com o filho, é a função dele, assim como é da mãe, independentemente se são casados ou separados, cada um tem a sua responsabilidade e o compromisso de acompanhar aquela criança, ou seja, precisamos nos perguntar também o quanto os pais estão participando ou honrando o seu compromisso junto com as mães”, pontua. A consequência de trabalho em casa, desemprego, escolas fechadas, tarefas acumuladas, segundo Mara, é o aumento do estresse, adoecimento, ansiedade e, principalmente, autojulgamento. “Muitas mães se pegam pensando que não estão fazendo o que deveriam, que os filhos não recebem o que poderiam receber”, exemplifica.

Para aliviar a carga de estresse e exaustão, a psicóloga sugere que as mães tentem deixar um pouco de lado a culpa. “É uma emoção importante, é o que nos faz observar que fizemos algo que não foi legal e termos a chance para reparar oque achamos que foi errado, essa é a função da culpa, só que ficar se culpando por não estar proporcionando para o filho a infância que imaginava não vai levar a nada, pois estamos vivendo uma crise mundial, que independe da vontade de todos. O que os filhos mais precisam é a interação com o adulto, que passe segurança, confiança. Claro, nessa situação de pandemia, uma mãe não vai poder passar a ideia de que estamos todos bem, mas no dia a dia, com os cuidados que precisa ter, a criança vai ficando bem”, afirma. 

No momento de equilibrar os diversos afazeres, Mara assinala que é importante que as mães consigam organizar um tempo em que estejam atentamente presentes com os filhos. “Estar em casa no celular, conversando virtualmente, trabalhando ou arrumando a casa não é um tempo com acriança, é um corpo presente, mas podemos organizar um momento que seja de olhar no olho e ver o que cada um está sentindo e pensando. A segurança faz com que os filhos se sintam mais confiantes e se lancem para explorar o mundo à medida que crescem”, enfatiza.

Reflexos socioeconômico para as mães na pandemia 

De acordo com a economista, mestre e doutora em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Cristina Pereira Vieceli, uma questão importante está envolvida com o impacto da pandemia sobre as mulheres de maneira geral, em particular das mulheres mães: a saída do mercado de trabalho. Ela reforça que o Brasil é um país bastante desigual e que existem mães de níveis de oportunidades diferentes, mas todas foram impactadas pela pandemia, porque houve o fechamento das escolas e esse trabalho de cuidado das crianças e educação foi muito internalizado dentro dos domicílios. “Historicamente, as mulheres desempenham papel maior nas jornadas de trabalho não remuneradas, como os cuidados com crianças e idosos, e isso tem um viés também de classe, porque acamada da população de baixa renda não vai ter o mesmo acesso que a classe média/alta, que, em alguns casos, contratam trabalhadores para auxiliar”, explica.

Os reflexos se dão inclusive na saída de muitas mulheres do mercado de trabalho em 2020, principalmente na camada populacional de baixa renda. “As dificuldades desse período para as mães também estão relacionadas à sobrecarga de trabalho, que já existia antes da pandemia e agora se intensificou com o fechamento de escolas e restaurantes e a internalização do trabalho doméstico”, pontua. Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios -Pnad Covid19, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve uma redução na força de trabalho feminina durante o ano de 2020, com relação à masculina. “É muito difícil equilibrar a maternidade e a presença no mercado de trabalho, pois temos uma pandemia que requer atenção, cuidado e distanciamento social. Então, para mulheres desempregadas que não conseguem vender sua força de trabalho no mercado, existe um perigo de colocar suas famílias e seus filhos em risco nessa procura de trabalho”, diz.

Com relação aos impactos na carreira, a economista aponta que mulheres com maior capacitação e maiores rendimentos também são prejudicadas, pois provavelmente serão menos produtivas nesse período. “Há pesquisas relativas, por exemplo, às pesquisadoras, que vêm produzindo bem menos artigos acadêmicos em comparação aos homens. Esse é um exemplo interessante para enxergar como a pandemia refletiu também nos trabalhos domésticos não remunerados, porque as mulheres estão fazendo mais esses trabalhos dentro de casa. Por consequência, diminuíram sua produtividade, e os homens aumentaram sua produtividade. Esse trabalho deveria ser melhor dividido entre ambos. Ou seja, estamos diante de uma questão que requer políticas públicas, um sistema de relações de cuidado que enxergue os trabalhos não remunerados como trabalhos que devem ser divididos por toda sociedade”, afirma.

O desemprego e as incertezas 

Não é fácil organizar uma rotina com os filhos em casa, a louça na pia e o trabalho a ser feito, mas ainda pode ser mais complicado lidar com as angústias relacionadas à incerteza sobre a remuneração no próximo mês. Para Fabiana Dias da Silva, de 40 anos, as coisas pareciam estar relativamente positivas no início da pandemia, mas, com o passar dos meses, as complicações aumentaram. Desempregada e encaminhando o seguro-desemprego, ela tentou se manter positiva, apesar das dificuldades, e aproveitou os primeiros momentos em casa para se dedicar exclusivamente a Martina Dias da Silva, afilha de 6anos. Os dois primeiros meses não foram “muito assustadores”, segundo ela. 

Como moram só as duas, Fabiana conta que focou toda a sua energia nas demandas da pequena. “Me propus a ensiná-la, fazer atividades divertidas, e pensei que poderia me tornar a melhor mãe, deixando de lado toda aquela culpa que agente carrega por trabalhar a semana inteira fora e ficar pouco tempo com os filhos. Então, com a pandemia e a oportunidade de ficar em casa, disse para mim mesma que seria a melhor mãe do mundo.” Apesar de todas as inseguranças relacionadas à Covid-19, Fabiana conta que “tudo ia bem”, mas, passados os primeiros 20 dias, a rotina ideal dos artigos que ela encontrava na Internet não acontecia na prática. “Não conseguia segurar ela o dia inteiro dentro de casa, dia sim, dia não, saímos para longas caminhadas para ter cansaço físico. 

No segundo mês, perdi o horário de ela dormir. Uma das dificuldades foi mantê-la em uma rotina. O horário para dormir ficou mais tarde, o horário para acordar foi estendido, o café da manhã emendava com o almoço e o que eu tinha planejado já não acontecia.” Ouso das telas também acabou flexibilizado. “Antes (da pandemia) ela tinha tempo para assistir televisão ou jogar no celular, mas hoje, se eu não saio com ela ou não estamos fazendo tarefas da aula, ela fica no celular. Foi um recurso que acabei utilizando até para eu poder procurar emprego e ter tempo para me organizar.” 

Conforme o terceiro mês de isolamento se aproximava, Fabiana começou a ficar preocupada com o fim dos recursos do seguro-desemprego e a falta de oportunidades. “Vi que a questão do vírus não seria facilmente resolvida, as escolas não voltariam tão rapidamente, seria um processo mais longo. Por mais que eu quisesse acreditar que as coisas iam dar certo, percebi que não seriam tão rápidas quanto eu precisava que fossem e a situação começou ame preocupar, comecei a perder noites de sono na angústia de que eu não poderia deixar faltar nada para ela. Aparte financeira começou a apertar muito”, confidencia. Ela reconhece que as dificuldades são diferentes para cada realidade e, em sua casa, o padrão de compra mudou completamente. Quando comprava um pote de sorvete, Fabiana não comia para deixar para Martina. 

Em dado momento afilha inclusive perguntou se ela não gostava mais de sorvete e ela precisou dizer que estava precisando cortar o doce e não gostava mais, mas o real motivo não era esse. “Tenho certeza de que tem pessoas em uma situação muito pior que aminha, mas essas são as minhas dificuldades, não havia passado antes por essa vivência de ter que economizar em comida. Minha economia era em função da minha maior preocupação: não deixar faltar nada para ela e ter esse cuidado para que ela não percebesse a angústia que eu comecei a passar”, revela. A incerteza de conseguir um novo trabalho também passava pelo fato de que Fabiana não teria onde deixar Martina em segurança para cumprir uma jornada fora de casa. Antes da pandemia, apequena ia para a escola e Fabiana podia trabalhar, mas agora as escolas estavam fechadas. “Mesmo com o dinheiro acabando, não adiantava conseguir um trabalho se não tinha onde deixá-la, então foram mais noites angustiantes, de fazer contas e tentar prever o futuro. Eu sem trabalhar, o dinheiro acabando. Ela com todas as necessidades, pedindo as coisas, e eu não podendo oferecer naquele momento”, lembra. Essa dificuldade financeira e a angústia por não ter emprego e não ver perspectiva, aumentaram o estresse. 

Fabiana conta que precisou buscar amigos e conseguiu um trabalho na metade do ano passado. Mesmo com graduação em Administração e especializações na área, ela teve que flexibilizar sua atuação profissional: foi trabalhar de babá na casa de uma amiga, que estava em home office com dois filhos pequenos e precisava de apoio. “Ela sentiu que poderia ser demitida por não conseguir trabalhar direito e eu me ofereci para levar minha filha junto e cuidar dos outros filhos dela”, destaca. Então, por um período, Fabiana foi babá de duas crianças e conseguia também cuidar da filha. A experiência durou aproximadamente 5meses e foi uma rotina intensa, mas, depois, a amiga mudou de cidade e Fabiana se viu novamente sem trabalho e com afilha em casa. 

No final do ano, ainda com as escolas fechadas, aproveitou para viajar para a casa da mãe, que mora no Litoral. Trabalhou alguns meses de garçonete, superando o medo de pegar e transmitir Covid-19, pois precisava garantir o dinheiro. Depois da temporada na praia, voltou para acidade e, agora, está participando de processos seletivos para encontrar um novo emprego. Nesta fase, teve início um novo desafio. Fabiana precisou achar um lugar para deixar afilha caso consiga uma vaga. Amaneira encontrada foi contar com o apoio de uma vizinha, que cuida de outras sete crianças, para poder sair de casa e garantir seu sustento. “Neste momento não posso mais me preocupar com a questão da pandemia, não tenho mais condições de ficar em casa sem trabalhar”, explica.

Mãe e profissional da saúde 

A maior dificuldade da técnica de enfermagem Carmela da Rosa Herkert foi não poder ir para a própria casa no auge da pandemia. “Eu tinha muito medo de levar o vírus para dentro de casa. E tinha meus pais, foi muito difícil ficar longe deles”, conta. Herkert começou a trabalhar no Hospital de Clínicas de Porto Alegre durante a pandemia. Ela é mãe de Maria Eduarda Herkert dos Reis, 10anos. Apequena Maria Eduarda ficou bastante tempo com a avó materna por conta da pandemia, pois a mãe não parou de trabalhar. “Ela ficou com os meus pais, que têm mais de 60 anos. Eu trabalhava no CTI de pacientes com Covid-19 e ficava muito complicado para mim expor meus pais e a minha filha a essa doença”, comenta. Segundo ela, o afastamento foi bastante doloroso durante esse período, então, ela contou muito com o apoio do companheiro, Paulo Euci Estaquio Filho.

“Eu ia até afrente do prédio dos meus pais e só nos víamos pela janela. Por mais que tenha 10 anos, ela sentiu muito, pedia para me abraçar, me beijar e eu tinha muito medo dessa exposição.” O maior contato entre as duas durante meses acabou sendo por telefone ou chamada de vídeo. “Trabalhei com muito gosto e sabia que seria só uma fase. Agora ela já fica comigo e as coisas estão mais amenas, ainda temos todos os cuidados por conta da pandemia”, afirma, complementando que o Dia das Mães será de comemoração para elas, que agora estão mais unidas do que nunca.

A transformação das mães 

 Apesar das dificuldades, as mães conseguem enxergar lados positivos do período de isolamento social. “Essa fase da pandemia me trouxe coisas positivas na maternidade, me descobri uma mãe que antes eu não enxergava, esses meses fizeram com que eu e meus filhos ficássemos ainda mais unidos”, compartilha Aline. Segundo ela, todos aprenderam a apreciar ainda mais a companhia uns dos outros. “Antes da pandemia era outro tipo de correria, era ida e volta da escola, eu tinha mais trabalhos externos para fazer, era tudo mais no automático e agora, depois desse período, a gente parece que desacelerou e começou a enxergar mais o outro, conhecer o outro de verdade, principalmente entre eles”, ressalta. Mesmo com o cansaço e com as tarefas que se acumulam, Aline afirma que deve levar ensinamentos importantes desse período. “Aprendemos que sozinhos nós não somos nada, que precisamos um do outro sempre, nem que seja para pegar a toalha que a gente esquece quando vai tomar banho. A gente precisa do outro, são nos mínimos detalhes que a gente começou a entender e perceber”, diz.

Para Fabiana, as mudanças também foram significativas. “Algumas coisas mudaram depois desse período. Sempre me considerei muito rígida com ela, quando brincava, tinha que organizar os brinquedos, se tirou a roupa da gaveta, tinha que guardar, hoje tento ser mais flexível, aprendi a ser mais tolerante, meus valores mudaram, aprendi a ser mais leve com ela”, comenta. Apesar de todas as dificuldades e as incertezas da vida pessoal e profissional, Fabiana ressalta que hoje se sente muito mais ligada à filha. “Temos uma relação que cresceu muito nesse tempo que ficamos juntas 24 por dia e 7 dias por semana, essas mudanças todas que enfrentamos juntas. Só ganhei com essa proximidade com ela, o que espero para o meu futuro é estabilidade para poder oferecer oportunidades para minha filha, hoje é a única coisa que eu desejo. Todas as ambições profissionais, materiais, eu não tenho mais, ela virou o meu futuro.” 


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