Dia dos Namorados: Tempo de celebrar o amor

Dia dos Namorados: Tempo de celebrar o amor

Relacionamentos perderam a rigidez, mas ainda é preciso dedicação ao parceiro

Mauren Xavier

Louisiana teve a iniciativa de fazer uma campanha, e adesão surpreendeu

publicidade

"O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não guarda rancor.” Esse é um dos refrões mais populares quando se busca definir o sentimento amor, que se torna o centro das atenções no Dia dos Namorados, comemorado nesta sexta-feira. Distantes desse conceito idealizado e considerado por alguns como ficcional, os relacionamentos estão envoltos de complexidade ímpar.

As rápidas e constantes mudanças sociais, a tecnologia e as relações de gêneros provocaram rupturas e estabeleceram novas conjunturas que estariam tornando mais difíceis os namoros? Segundo especialistas em comportamento, a resposta é não. Nesse panorama, houve o florescimento de diversas maneiras de se amar. Os relacionamentos foram, pouco a pouco, perdendo a rigidez por vezes socialmente exigida e estão mais livres. Essa é a avaliação da vice-diretora da Faculdade de Psicologia da Ufrgs, Sandra Torossian. Com mais de 25 anos de experiência, ela ressalta que no mundo contemporâneo as pessoas passaram a ter mais autonomia por seus sentimentos e liberdade para escolher, diferentemente de décadas atrás, quando ficavam presas a um padrão social. Esse excesso de autonomia para se relacionar pode parecer que determinado indivíduo só quer relações curtas ou que não quer namorar, reconhece a especialista.

Uma certeza, porém, é de que o amor às vezes acaba sendo atropelado pelo tempo, como explica a psicóloga clínica cognitiva comportamental Carolina Halperin. Segundo ela, os segredos para se ter uma boa relação são os mesmos do passado, exigindo antes de tudo dedicação. Ao mesmo tempo, algumas pessoas passaram a ver os relacionamentos de uma maneira mais descartável e de fácil substituição. “Para amar, é preciso investimento. É preciso destinar tempo, ter paciência e dedicação. Só que hoje tudo é muito rápido. Associado a isso, passamos a olhar muito para nós mesmos. Então parece ser difícil investir numa relação a dois mais sólida. A libertação deixou as pessoas um pouco perdidas”, explica a psicóloga.

Carolina comenta que muitas pesquisas mostram que há uma redução nos relacionamentos mais sólidos. “As pessoas hoje acabam apostando em relações mais curtas ou investem numa relação por se sentirem obrigadas. No final acabam insatisfeitas”, avalia. Para ela, o fundamental é que as pessoas saibam o que procuram no outro e que a relação precisa de tempo para ser construída. Até porque, no final das contas, o que mais importa é o amor.

Mensagens de amor para moradores de rua

Se o Dia dos Namorados é um momento de celebrar o amor ao próximo e de entregar presentes, um grupo de voluntárias quis seguir o conceito ao pé da letra. Por meio de uma página numa rede social, cinco amigas decidiram a arrecadar roupas e cobertores e promover, na noite de hoje, uma entrega especial. Os destinatários dos pacotes cuidadosamente embalados com papel de presente e mensagens de amor, escritas em corações de papel, serão moradores de rua que estão pelos bairros Cidade Baixa, Bom Fim e Centro, além de outras regiões mais afastadas de Porto Alegre.

A campanha “Dia dos Namorados por um inverno quentinho para todos” foi iniciada há duas semanas e conseguiu uma adesão surpreendente. A iniciativa foi muito simples e consiste em “doar amor e cobertores/agasalhos e meias”. Ao todo, são cinco pontos de arrecadação. Os últimos dias foram de movimentação diante do grande volume de doações.

“Simplesmente está sendo uma experiência surpreendente”, comentou a idealizadora, Louisiana Meireles. A estudante de Doutorado da Ufrgs recordou que a ideia surgiu para romper o “conceito comercial da data”. “É um gesto de carinho com o próximo. Por isso, nos preocupamos em fazer embalagens e também unir os recadinhos”, comentou ela. Morando há três anos no Rio Grande do Sul, Louisiana disse que passou muito frio no início e que sempre se sentia triste de ver tantas pessoas buscando espaços para se aquecer no inverno gaúcho.

Agora o desafio é contar com a colaboração para as entregas, já que o número de doações foi bem maior que o previsto. “Vamos nos dividir pelas regiões da cidade distribuindo carinho”.

Otimismo do comércio com a data

Bem longe da complexidade dos sentimentos, o comércio aguarda com otimismo e ansiedade o Dia dos Namorados. Considerada uma das principais datas comemorativas, os apaixonados são responsáveis por movimentarem a economia, em especial comércio e serviços.

As expectativas são boas na área gastronômica. Para fisgar os clientes, muitos restaurantes da Capital apostam em inovações e cardápios personalizados, além de grandes pitadas de romantismo, como decoração especial. Porém, como a procura é intensa e a data será comemorada numa sexta-feira, quando a demanda nesses estabelecimentos cresce, é bom os apaixonados se anteciparem e fazerem reservas. A variedade de preços atende a praticamente todos os bolsos e é incentivo extra para os jantares românticos. Há casos em que o preço para o casal vai de R$ 130 a R$ 360, dependendo do restaurante.

De acordo com o presidente do Sindicato de Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre, Henry Chmelnitsky, em média, o Dia dos Namorados faz com que o movimento nos restaurantes seja de duas a três vezes maior. Ele acredita que, mesmo com a economia mais retraída, a data vai estimular o segmento. “É um dia diferente dos demais. É a hora do amor e as pessoas aproveitam a data.”

Na área da hotelaria, há promoções em alguns estabelecimentos, com pacotes especiais. Mas ele destaca que o crescimento na movimentação se concentra nos motéis. E faz um alerta aos casais para se anteciparem. Segundo Chmelnitsky, a procura nesses estabelecimentos é maior já na véspera.

Os apaixonados também vão movimentar as lojas. A Associação Gaúcha para o Desenvolvimento do Varejo estima que sejam gastos com presentes para o Dia dos Namorados R$ 347 milhões. Apesar de a cifra ser alta, na comparação com o ano passado, o desempenho é igual.




Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895