Dobra acesso ao ensino superior entre negros, mas brancos têm vantagem no mercado de trabalho

Dobra acesso ao ensino superior entre negros, mas brancos têm vantagem no mercado de trabalho

Levantamento demonstra que os pretos ou pardos passaram a ser 50,3% dos estudantes de ensino superior da rede pública

Samantha Klein

Imagem de estudante em ato pelo Dia da Consciência Negra na UFRGS

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O estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, divulgado nesta quarta-feira pelo IBGE, mostra um retrato dos indicadores de educação relacionados a raça, cor e mercado de trabalho no País. A pesquisa mostra que nos últimos seis anos dobrou o número de negros com ensino superior, porém, essa proporção não se reflete nos números relativos ao emprego.

O levantamento também demonstra que os pretos ou pardos passaram a ser 50,3% dos estudantes de ensino superior da rede pública, porém, como formam a maioria da população brasileira, permanecem ainda sub-representados na comparação com os brancos.

A pesquisadora do IBGE, Luanda Botelho, ressalta que apesar da maior inserção de pessoas pretas e pardas nas universidades, a educação ainda não pode ser considerada igual entre todos. "Há ainda outros fatores como o tipo de curso superior realizado - o que a gente poderia chamar de segregação ocupacional -, assim como pessoas brancas ainda ocupam mais cargos gerenciais. Por outro lado, os negros estão mais sujeitas a informalidade do mercado".  

Representação educação x emprego 

O número de pessoas negras em idade para trabalhar com formação superior dobrou entre 2012 e 2018, passando de 4,2 milhões para 8,1 milhões. Entre os brancos, no ano passado, eram 15,2 milhões formados em curso de ensino superior, em 2012, eram 11,5 milhões. Entrentanto, o Brasil ainda está longe da universalização desse tipo de educação. O total de pessoas economicamente ativas formadas em universidades não passa de 1,5%.

Já ao analisar as informações sobre empregabilidade e educação, os trabalhadores sem instrução ou ensino fundamental incompleto são, em maioria, negros. São 15,6 milhões de pretos ou pardos nessas condições, o que indica funções com baixos salários.

Assim como no total da população brasileira, negros e pardos constituem, também, a maior parte da força de trabalho no País. Em 2018, tal contingente correspondeu a 57,7 milhões de pessoas, ou seja, 25,2% a mais do que a população branca na força de trabalho, que totalizava 46,1 milhões. 

Educação básica e evasão

Em 2018, praticamente não havia diferença entre as proporções de crianças de 6 a 10 anos de idade brancas e pretas ou pardas cursando os anos iniciais do ensino fundamental. Nessas idades, mais de 96% das crianças estão na escola. Porém, a proporção de jovens de 18 a 24 anos de idade de cor ou raça branca que frequentavam ou já haviam concluído o ensino superior (36,1%) era quase o dobro da observada entre aqueles de cor ou raça preta ou parda (18,3%). 

Nesse cenário, enquanto a meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE) já havia sido atingida entre os brancos, na população preta ou parda, os 33% de frequência no ensino superior estabelecidos no Plano, até 2024, permaneciam distantes. "No ensino básico, os dados são praticamente iguais entre as diferentes raças. Os problemas de evasão iniciam nas idades mais avançadas porque muitos precisam abandonar os estudos para trabalhar", complementa a pesquisadora Luanda Botelho.

Rendimentos 

O rendimento médio mensal das pessoas brancas ocupadas foi 73,9% superior ao da população preta ou parda. Respectivamente, os ganhos são de R$ 2.796 e R$ 1.608. Os brancos com nível superior completo ganhavam por hora 45% a mais do que os pretos ou pardos com o mesmo nível de instrução.

No Estado, a diferença é um pouco menor: R$ 2.525 diante de R$ 1.687. Já na comparação das médias de rendimentos entre brancos e negros em Porto Alegre, há um fosso. Enquanto os primeiros recebem R$ 4.219 por mês, os segundos ganham R$ 1.994, de acordo com os dados do IBGE. 

No Rio Grande do Sul, 21% da população se autodeclara negra ou parda, 78,6% branca e 0,4% amarela ou parda. Na região Sul como um todo não é muito diferente; percebe-se aumento naqueles que se declaram pardos: 20,6%, enquanto no RS, são 14,5%. 

As análises estão concentradas nas desigualdades entre brancos e pretos ou pardos, devido às restrições estatísticas impostas pela baixa representação dos indígenas e amarelos no total da população brasileira quando se utilizam dados amostrais. Em 2018, 43,1% da população brasileira era branca; 9,3%, preta; e 46,5%, parda. Esses três grupos juntos representavam 99% do total de moradores do país.


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