Dois meses após primeira morte, Brasil tem mais de 16 mil óbitos por Covid-19

Dois meses após primeira morte, Brasil tem mais de 16 mil óbitos por Covid-19

País tem mais de 241 mil pessoas com coronavírus, conforme números oficiais do Ministério da Saúde

Jessica Hübler

Brasil registra mais de 16 mil mortos por Covid-19

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Com o primeiro óbito provocado pela Covid-19 no Brasil foi registrado em 16 de março. Foi de um homem, de 62 anos, morador de São Paulo, que apresentava quadro de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, sem histórico de viagem interestadual ou para o exterior. O perfil da primeira vítima fatal se enquadra no grupo de risco, ao qual pertencem pessoas acima de 60 anos com doenças crônicas. Passaram-se dois meses do primeiro óbito registrado por conta do novo coronavírus e o País contabiliza, até a noite deste domingo, pelo menos 16.118 mortes. 

No mês passado, no dia 16, um mês após a primeira morte, eram 1.924 óbitos. Ou seja, de lá para cá, no intervalo de um mês, o Ministério da Saúde já contabilizou mais de 14 mil mortes. O que representa um aumento de mais de 600% no período de 30 dias. Agora, o Brasil registra o total de 241.089 casos de coronavírus e confirmou a recuperação de mais de 94 mil pacientes (39% do total). 

A taxa de letalidade, segundo o Ministério da Saúde, é de mais de 6%, considerando o total de casos confirmados. Outros 2 mil óbitos estão em investigação.

O que dizem os especialistas

Sobre o aumento no número de mortes nos últimos dois meses, o epidemiologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e do Hospital de Clínicas, Ricardo Kuchenbecker, explica que este é o chamado “crescimento exponencial”. “Cada região tem a sua velocidade de aceleração da epidemia, e estes dados são o somatório de várias regiões em fases descontroladas. Parece assustador e é, não sabemos quando a curva vai começar a cair porque não temos clareza nem de quando é o pico dela”, destaca.

Conforme Kuchenbecker, estamos em franca aceleração da epidemia. “Em um País com uma dimensão continental como o nosso, com esse número de casos e esse numero de óbitos, teria que ser muito mais capaz de testar a população proporcionalmente do que estamos fazendo hoje, isso só reforça a necessidade de entendermos que os óbitos representam a ponta do iceberg. Podemos pensar a partir dos óbitos acumulados até aqui, mas sempre pensando que estamos olhando para uma curva que tem diferenças regionais marcadas”, reitera.

Com relação às possibilidades de desaceleração do contágio, Kuchenbecker enfatiza que temos a demonstração muito evidente de que as medidas de distanciamento social contribuem para reduzir o número de casos e de óbitos. “Esse é o debate nacional. Independentemente do elevadíssimo grau de incerteza que fica no contexto atual diante de uma situação que é completamente inusitada e descabida se a gente pensar que teremos o terceiro ministro (da Saúde) em meio a dois meses de epidemia, sendo que o segundo ministro não durou um mês, para além do inusitado , tem um ponto fundamental que pode ter implicações diretas e imediatas: a falta de liderança”, comenta.

A epidemia, de acordo com Kuchenbecker, precisa ser combatida nas comunidades, no caso nos estados e nos municípios, só que isso está intrinsicamente ligado com o governo federal, porque é quem tem a liderança técnica. “A gente perde um tempo precioso numa transição no pior momento possível. Isso que nós estamos conversando só sobre o efeito deletério de uma transição que para além da indefinição e da insegurança do pacto federativo, também implica uma desaceleração da resposta diante de uma epidemia que acelera. Imagine se a política que passará a ser implementada daqui pra frente flexibilize efetivamente o distanciamento social? Aí a situação pode ser muito mais grave do que já é. Epidemias são momentos em que as populações precisam de liderança e não é o que estamos vendo a nível nacional”, declara.


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