Em 12 meses, Porto Alegre viveu ao menos três picos da pandemia por coronavírus

Em 12 meses, Porto Alegre viveu ao menos três picos da pandemia por coronavírus

Secretário de Saúde da Capital, Mauro Sparta, aposta na cobertura de vacinal para conter contágio e ocupação de UTIs

Jessica Hübler

Secretário de Saúde da Capital, Mauro Sparta, aposta na cobertura de vacinal para conter contágio e ocupação de UTIs

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Neste dia 11 de março faz exatamente um ano da confirmação oficial do primeiro caso de Covid-19 em Porto Alegre. Na época, a situação era encarada com certa apreensão, diversas medidas começaram a ser desenhadas pela Prefeitura no sentido de evitar a propagação do vírus na Capital e inclusive muitas delas foram colocadas em prática ao longo de 2020. De lá pra cá, a situação mudou consideravelmente.

Atualmente em Porto Alegre a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) já contabiliza mais de 113,9 mil casos positivos da doença. Entre eles, 93,5 mil são considerados recuperados. O número de óbitos, até a noite de terça-feira, chegava a 2.621. No contexto local, a cidade apresentou pelo menos três picos ou três ondas mais expressivas da Covid-19.

A primeira delas foi registrada entre julho e agosto de 2020, quando o número total de casos ultrapassou a marca dos 10 mil e chegou rapidamente em 30 mil em um período de pouco mais de um mês. O número de óbitos na época ainda era inferior a 1 mil, variando de 205 vítimas fatais em 16 de julho para 918 em 16 de setembro. Naquele momento as internações de pacientes com a doença em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) variava de 200 a 347, que foi o recorde de internações na época registrado em 4 de setembro. Após esse ciclo, o número de internações começou a cair.

O período considerado como uma segunda onda iniciou aproximadamente no final do mês de novembro de 2020, quando as UTIs voltaram a registrar ocupações superiores a 300 pacientes com a Covid-19 e seguiu até o final de janeiro de 2021, praticamente, quando o número de internações nas UTIs começaram a cair novamente e passaram para a média de 200 pacientes internados com diagnóstico positivo da doença. Na época, o número de casos confirmados saltou de 57 mil em 21 de setembro para 88 mil em 21 de janeiro.

No momento, Porto Alegre vivencia a terceira e pior onda da pandemia até então. Desde o dia 15 de fevereiro o número de pacientes internados em UTIs da Capital com quadros gravíssimos e diversas complicações decorrentes da Covid-19 vem aumentando dia após dia. Naquela data, eram 301 pacientes e, na tarde de hoje, esse número era de 962, sendo que 764 já estavam internados nas UTIs dos hospitais da cidade e os outros 198 estavam nas emergências, esperando por um leito. Nesse caso, a taxa de ocupação das UTIs da cidade na tarde de hoje chegava a 111,6%.

O atual secretário de Saúde de Porto Alegre, Mauro Sparta, afirmou que está "muito apreensivo". "Na verdade acho que todas as autoridades que estão envolvidas com isso, estão muito apreensiva com o momento que estamos vivendo", declarou. Conforme Sparta, uma dificuldade que vem sendo percebida na Capital é a presença das novas variantes da doença, que também afetam jovens sem comorbidades. "Nossos hospitais estão lotados, estamos trabalhando muito para trazer mais leitos, mas mesmo assim todos os dias estamos com extrema dificuldade nos postos de saúde, nos hospitais, em toda a rede", assinalou.

Sparta ainda reiterou que "o trabalho está muito forte" e, além disso, afirmou que a situação atual deve estar ligada "à aglomeração do carnaval". "Imagino que ainda seja uma consequência, estamos há 20 dias daqueles feriados e era o período que se imaginava que poderia atingir um pico, acredito que teremos um tempo pela frente de muita dificuldade até essa curva começar a estabilizar e baixar", pontuou.

Apesar disso, Sparta declarou que tem esperanças de controlar a pandemia ainda este ano. "Vacinamos já 10% da população, mais de 150 mil pessoas, entre a primeira e a segunda dose, mas nós acreditamos que ainda nesse ano vamos voltar proximo do normal. Teremos dificuldade ainda no primeiro semestre, mas no segundo semestre vai estabilizar e depois vai começar uma curva descendente, ainda que lenta, mas é nossa esperança", destacou. Para ele, a medida em que a vacinação for avançando, o número de casos graves tende a reduzir e, consequentemente, o número de internações em UTIs. "Essa é a nossa expectativa", ressaltou.

O ex-secretário de Saúde da Capital, Pablo Stürmer, que coordenou os trabalhos na SMS desde o primeiro caso da Covid-19 na cidade, até o final de 2020, definiu os últimos 12 meses como "avassaladores". "Desde as crianças, que tiveram o afastamento da escola, da atividade de brincar com os amigos, passando pelas pessoas que perderam seus empregos, suas fontes de renda, diversos empreendedores que viram seus negócios falirem, os profissionais de saúde que tiveram um ano extremamente exaustivo e, especialmente, as pessoas que perderam seus familiares e as próprias vítimas da Covid-19", pontuou.

Conforme Stürmer, durante os nove meses em que ele esteve à frente da SMS o grande desafio foi se dedicar integralmente ao combate à pandemia. "Se a gente errasse para mais, no sentido de preservar mais as vidas, poderíamos ter um impacto maior na economia, mas que isso em algum momento poderíamos reverter e, se fosse para menos, acabaríamos perdendo vidas que não conseguiríamos recuperar", frisou.

Quando os primeiros casos surgiram, lembrou Stürmer, era sabido que o maior risco era o colapso do sistema de saúde. "Uma doença nova, o que poderia causar um grande volume de casos e uma ocupação brutal do sistema de saúde. E todas as medidas que tomamos, principalmente o fechamento das atividades em março e depois em junho, julho e agosto, foi o que impediu que nós tivéssemos o que estamos vendo agora, que é o colapso do sistema de saúde", pontuou. 

O maior desafio daqui para a frente, de acordo com Stürmer, certamente é ampliar a cobertura vacinal. "Tentar conciliar a organização do sistema de saúde com a manutenção dentro do máximo possível da atividade econômica e, isso só vai ser feito com maior eficiência, se tivermos uma cobertura vacinal rápida e célere de uma grande parte da população da cidade, do Estado e do País. É isso que vai definir como serão os próximos 12 meses", declarou.


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