Em frente ao Foro Central de Porto Alegre, mural de fotos lembra vítimas do incêndio na Boate Kiss

Em frente ao Foro Central de Porto Alegre, mural de fotos lembra vítimas do incêndio na Boate Kiss

Homenagem foi colocada pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM)

Christian Santos da Silva

Homenagem foi colocada pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM)

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Não há como passar despercebido. O mural com as fotos das vítimas do incêndio na boate, instalado na frente do Foro Central pelas famílias se tornou um memorial em meio ao julgamento. O vendedor de bombonas de água mineral, a senhora que passeia com o cachorro, estudantes que se preparam para uma prova e tem no caminho à escola mais de duas centenas de sorrisos que não acontecem mais. Quase impossível fica imune a alguma observação.

"Eram tão jovens. Como pode? Que coisa triste", lamenta a bióloga Rosane Tubino, 55 anos. Para ela, chama atenção o movimento que as fotos parecem fazer por causa do vento. "É como se estivessem aqui", observa.

Enquanto a sessão se desenrola no segundo andar do prédio 1, basicamente a imprensa aguarda do lado de fora. Poucas pessoas sabem. Uma delas é o fotógrafo Dartanhan Baldez Figueiredo que, de forma voluntária, acompanha a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) desde ocorrido, em 2013. "Sou um professor aposentado da Universidade Federal de Santa Santa Maria (UFSM) e uso a fotografia para dar visibilidade a movimentos sociais e de cultura", conta. Ele ressalta que o sentimento dos parentes e amigos das mortos na Kiss é de justiça, e não de vingança. "É assim desde de que éramos dois grupos separados e depois nos fundimos na associação. Mesmo o nosso grupo, que era mais combativo e contava com o atual presidente da AVTSM, o Flávio (Silva), já era neste sentido", esclarece.

Um dos réus,  Luciano Bonilha Leão, já disse em entrevistas temer que o caso seja tratado mais como "vingança do que como justiça".

A proximidade da data de início do julgamento uniu ainda mais quem sofre pelas perdas pessoais no que ele costuma chamar de "massacre". "Somos uma grande família, que se formou nesse processo de luta. Tanto é que utilizamos a Tenda da Vigília, criada em Santa Maria, para ações sociais em momentos como Dia das Crianças e Natal, por exemplo", lembra o fotógrafo.

Figueiredo enfatiza, ainda, que "cada um se responsabilize por sua culpa". "Além de lutar pela justiça, apoiamos a Lei Kiss para que o que aconteceu lá não se repita", afirmou. Sancionada em 2017, a legislação estabelece medidas de prevenção e combate a incêndios e desastres em estabelecimentos de comércios e serviços. Com o tempo, algumas flexibilizações surgiram, descontentando especialistas.

A AVTSM começou uma vaquinha virtual para arrecadar recursos a fim de manter a estada dos representantes das famílias que se deslocaram até a Capital para acompanhar o júri. "O pessoal tem depositado, mas ainda não o estipulado pela associação", informa Figueiredo. Para quem quiser ajudar, o PIX é 17802573000131 (CNPJ da entidade). A "vigília" na Capital durará até a sentença final, ainda sem data para ocorrer.


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