Em greve por tempo indefinido, Carris busca adesão de rodoviários de empresas privadas

Em greve por tempo indefinido, Carris busca adesão de rodoviários de empresas privadas

Mesmo com mobilização, prefeito Sebastião Melo afirmou que não irá recuar de desestatização da Carris

Eduardo Andrejew

Mobilização da categoria teve início da madrugada desta segunda-feira, em Porto Alegre

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Rodoviários e trabalhadores da Carris decidiram declarar greve por tempo indeterminado na manhã desta segunda-feira, durante assembleia realizada em frente à sede da empresa. A categoria reivindica a retirada do projeto de lei 013/21, que autoriza a prefeitura a desestatizar a empresa de ônibus. O texto já tramita na Câmara de Vereadores e pode ser votado ainda nesta semana.

A mobilização, organizada pelo Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre (Stetpoa) e com apoio de movimentos sociais e centrais sindicais, começou na madrugada como uma paralisação. Estava prevista para durar apenas um dia: “Só depende do prefeito que a situação se normalize”, declarou o presidente do Stetpoa, Sandro Abbáde, ainda no início do protesto.

A ideia era conseguir uma audiência com prefeito Sebastião Melo e acertar um prazo maior para debater o projeto de privatização da empresa. Esta reunião deve ocorrer ainda na tarde desta segunda-feira. Antes de participarem da reunião, membros da diretoria do Stetpoa foram à Câmara Municipal para obter mais informações sobre a tramitação dos projetos e, ao mesmo tempo, tentar convencer os vereadores a não votar.

Medida de Melo motivou greve

A decisão de declarar greve só foi tomada após os rodoviários descobrirem que Melo mandou colocar ônibus das linhas 343, T5 e T2A circulando sem cobradores e com preço da passagem reduzido a R$ 4. Essa medida foi interpretada como um claro sinal de recusa ao diálogo, pois a categoria também se opõe ao projeto de lei do 016/21, que propõe a retirada gradual dos cobradores dos ônibus da Carris.

Com a decisão de greve, o esforço da categoria passou a ser atrair para o movimento os rodoviários das empresas privadas. “Nós estamos convocando os trabalhadores da iniciativa privada para se somar à nossa luta e juntos fazermos a defesa da companhia Carris, que é uma centenária empresa que faz parte da história de Porto Alegre”, destacou o delegado sindical da Carris, Luís Afonso Martins.

De acordo com o vice-presidente do Stetpoa, Alessandro Ávila, há “99% de chances” de adesão ao movimento por funcionários da empresa Nortran, da qual também é delegado sindical.

Melo diz que não vai recuar

Embora se diga disposto a dialogar com os rodoviários, o prefeito Sebastião Melo, em entrevista à Rádio Guaíba na manhã desta segunda-feira, ao programa Agora, deixou claro que não está disposto a retirar o projeto de desestatização da Carris.

“O projeto está na Câmara, teve audiência pública, mais de 500 pessoas participaram, lá é o espaço do debate plural. E lá os vereadores vão se manifestar como estão se manifestando, como eu estou disposto a recebê-los. Agora, nós não vamos recuar quanto ao projeto, não”, declarou.

O prefeito considerou a paralisação inadequada para o momento de pandemia. Também salientou que uma das razões para a privatização é o “custo Carris”, que, segundo ele, eleva o preço da passagem. “Essa empresa teve nos últimos 10 anos, só de aportes de capital do tesouro do município, mais de meio bilhão de reais”, revelou.

O prefeito reiterou as medidas que tomaria em relação ao impasse e já havia publicado em sua conta no Twitter horas antes: o corte de ponto e o corte de salário para os trabalhadores que continuassem na paralisação. Além disso, avisou que, se a greve persistisse, iria baixar um decreto requisitando motoristas das empresas privadas para operar os ônibus com apoio da Brigada Militar.

Acrescentou que pretende decretar a ilegalidade da greve, pois o transporte público é um serviço essencial à população.

Durante a entrevista, Melo também anunciou a colocação de três linhas da empresa (343, T5 e T2A) para circular sem cobradores ao preço de 4 reais para quem pagasse em dinheiro. A ideia, explicou, era demonstrar à população como vai funcionar o sistema, se o projeto de retirada gradativa dos cobradores for aprovado.


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