Em novo dia de intervenção do Banco Central, dólar recua para R$ 4,30

Em novo dia de intervenção do Banco Central, dólar recua para R$ 4,30

Bolsa tem leve alta na semana, apesar de perda de 1,11% no fechamento desta sexta-feira

AE

Ibovespa fechou sessão em baixa, a 114.380,71 pontos

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Em novo dia de intervenção do Banco Central, o real voltou a ser destaque de fortalecimento no mercado internacional e foi a moeda com melhor desempenho. O dólar engatou a segunda queda consecutiva, acumulando recuo de 0,47% nos últimos cinco dias. A injeção de US$ 2 bilhões pelo BC na quinta-feira, 13, e nesta sexta-feira, 14, fez a moeda americana quebrar uma sequência de seis semanas seguidas acumulando altas, valorizando 6,6%. Na sessão desta sexta, o recuo foi de 0,77%, para R$ 4,3004.

O dólar ficou de lado no exterior hoje, após a divulgação de indicadores mistos, com a produção industrial de janeiro decepcionando e as vendas no varejo ficando dentro do esperado, mas com revisão para baixo no dado de dezembro. Ante emergentes, a divisa dos EUA operou mista, com alta ante alguns, como Colômbia (0,41%) e Turquia (0,16%), e queda perante outros, como México (-0,19%) e África do Sul (-0,25%). Assim como ontem, o real teve o melhor desempenho em uma cesta de 34 moedas. Perto do fechamento, o dólar chegou a cair para R$ 4,2940.

 

 

"Daqui para frente devemos ter uma normalização, com o câmbio convergindo para um patamar mais neutro, que é R$ 4,10", afirma a economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro. O banco rebaixou hoje a previsão de crescimento do Brasil em 2020 de 2,3% e 2%, após uma série de indicadores fracos do primeiro trimestre. Para o dólar, elevou de R$ 4,00 para R$ 4,10 em dezembro, por conta de fatores como a queda dos preços das commodities internacionais.

Já o economista-chefe para mercados emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, William Jackson, avalia que as recentes intervenções do BC estancaram a piora do real, mas a tendência é de mais depreciação pela frente. O real é a moeda de país emergentes com pior desempenho este ano. O dólar acumula alta de 7,18% em 2020. A consultoria elevou a projeção para o dólar no Brasil ao final deste ano, de R$ 4,25 para R$ 4,50.

No curto prazo, o real pode mostrar certa valorização, acredita Jackson, se o temor com o coronavírus se dissipar e os preços das commodities subirem. A consultoria espera que o crescimento vai ficar mais moderado este ano e o déficit da conta corrente vai piorar, por conta da queda das exportações, em meio à perda de fôlego da economia mundial.

"O real vem apanhando, foi a moeda que mais sofreu nestas últimas semanas. Com os leilões, o BC deu fluxo positivo de dólares", disse o responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem. Para a próxima semana, o principal evento é a divulgação da ata da reunião de política monetária do Federal Reserve. A expectativa é ver o que o documento menciona do coronavírus, ressaltam os economistas do banco Wells Fargo.

Ibovespa

O Ibovespa fechou a sessão desta sexta-feira em baixa de 1,11%, a 114.380,71 pontos, acumulando ganho de 0,55% no mês e anotando perda de 1,09% no ano. O giro financeiro, moderado, totalizou R$ 19,7 bilhões, em sessão na qual o principal índice da B3 oscilou entre mínima de 114.132,37 e máxima de 115.662,73 pontos. Assim como na semana anterior, o Ibovespa alternou breves sequências de ganhos e de perdas, deixando, ao cabo, o índice com pouca variação no período.

Na véspera do fim de semana prolongado pelo feriado do Dia do Presidente na segunda-feira, os índices de Nova York oscilaram em torno da estabilidade, sem direção única, ainda perto de suas máximas históricas, renovadas nesta semana. Por aqui, na segunda-feira sem a referência de Nova York, haverá vencimento de opções sobre ações.

Após ter encerrado a semana anterior praticamente estável (+0,01%), o Ibovespa teve variação também moderada (+0,54%) entre a segunda e esta sexta-feira, refletindo padrão volátil que prevaleceu nas últimas quatro semanas, período que incluiu renovação de recorde histórico (no dia 23 de janeiro, a 119.527,63 pontos no fechamento) e, logo depois, na semana até 31 de janeiro, a maior perda semanal (-3,90%) desde agosto de 2019.

Desde então, e particularmente nas últimas duas semanas, uma fraca sequência de dados econômicos domésticos e as idas e vindas em torno do coronavírus cortaram a progressão do Ibovespa, que havia se estendido de dezembro para parte do mês de janeiro, quando refluiu a empolgação sobre a perspectiva econômica para 2020, especialmente a interna. Hoje foi a vez do IBC-Br de dezembro, em baixa de 0,27% ante novembro, conforme esperado.

"Em Nova York, os índices de ações estão nas máximas, mas não conseguimos acompanhar aqui. Se olhar os múltiplos, mesmo ações de tecnologia estão mais atrativas do que papéis brasileiros, apesar do Nasdaq no nível em que está. Então por que vir?", aponta Gabriel Machado, analista da Necton, acrescentando que o fortalecimento do dólar ante o real, que resultou nesta semana em duas atuações do BC no câmbio, por meio de swaps, espelha a pujança da economia americana em um contexto de maior incerteza fora dos EUA.

Em fevereiro, o saldo do investimento estrangeiro na B3 está negativo em R$ 6,210 bilhões até o dia 12, chegando a R$ 25,368 bilhões no ano, mesmo com a Bolsa brasileira tendo barateado em dólar.

"Quando se considera o Ibovespa dolarizado, está agora em um nível de suporte relevante (26,6 mil pontos), tendo em vista a inclinação e a quantidade de testes, entre outros fatores importantes. Considerando a incerteza de curto prazo, aqui e fora, o Ibovespa tem resistido bem e é importante que assim seja, para que volte a atrair fluxo, quem sabe a partir de março", diz Raphael Figueredo, analista gráfico da Eleven Financial.

Apesar de o dólar ter andado muito recentemente, ele destaca que a Bolsa brasileira não estaria tão barata quando comparada a pares emergentes, considerando os respectivos desempenhos. Para Figueredo, é razoável esperar que o Ibovespa se mantenha na faixa de 112 mil a 117 mil pontos até que haja definição de fluxo, o que deve acontecer apenas em março, na medida em que "fevereiro está dado, com o coronavírus e a fraqueza dos dados" domésticos.

Juros

Os juros futuros de médio e longo prazos fecharam com queda expressiva, de mais de 10 pontos-base, e nas mínimas históricas em meio ao aumento das preocupações com a atividade doméstica, principalmente diante do risco dos efeitos da epidemia de coronavírus na economia global. A abertura do hiato do produto foi tema de destaque das duas reuniões de economistas com diretores do Banco Central São Paulo, numa semana de vários indicadores ruins da atividade doméstica. O mercado não somente reduziu prêmios para aperto monetário, sobretudo em 2021, na curva como já retoma a discussão sobre se o próximo ciclo da Selic não será também de baixa. Pela manhã, uma apresentação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também na capital paulista, trouxe ruídos nas mesas de operação. Ainda, o exterior teve hoje um viés desinflacionário para a curva local, com indicadores econômicos fracos na Europa e Estados Unidos.

Após percorrerem toda a sessão regular em baixa, as taxas futuras continuaram caindo na etapa estendida, renovando mínimas, alinhadas ao dólar que também batia os menores preços da sessão, abaixo dos R$ 4,30. No fechamento, porém, a moeda terminou em R$ 4,3004.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 4,23% (regular) e 4,22% (estendida, mínima histórica), de 4,261% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2022 caiu de 4,831% para 4,73% (regular) e 4,71% (estendida), em novo piso histórico. O DI para janeiro de 2023 terminou com taxa de 5,27% (regular) e 5,25% (estendida, mínima histórica), de 5,412%, e a do DI para janeiro de 2027 encerrou a 6,33% (regular e estendida), ante 6,441%. O DI para janeiro de 2025 fechou a regular e a estendida em 5,96%, de 6,08% ontem no ajuste, na mínima histórica e pela primeira vez abaixo de 6% desde 1/11/2019.

"Cada vez mais temos visto alguns economistas com maior preocupação com os reflexos da epidemia de coronavírus, e os efeitos mais prováveis, segundo eles, seriam deflacionários. Assim, o miolo da curva tem que reagir com fechamento de taxas, como vimos hoje", explicou Luis Felipe Laudisio, operador de renda fixa da Renascença DTVM.
Ele destaca ainda a menção à epidemia feita pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em apresentação em São Paulo, ele citou os possíveis impactos econômicos provenientes do surto entre os riscos observados pelo BC, ao lado da desaceleração global e das eleições americanas. O BC considera que os impactos "podem ser significativos" se o surto se mantiver por tempo prolongado. A apresentação gerou polêmica pela manhã, ao, inicialmente, não trazer nos slides a afirmação vista na ata do Copom de que a autoridade monetária via como "adequada a interrupção do ciclo de flexibilização monetária" na próxima reunião. As taxas chegaram a reagir com queda mais firme na ponta curta, mas voltaram, depois que o BC corrigiu a apresentação, alegando erro.

Por mais que o BC insista na sinalização de Selic estável para os próximos meses diante das incertezas sobre a potência da política monetária em meio às medidas microeconômicas, o mercado se apoia nos fundamentos e não descarta a hipótese de mais cortes adiante, uma vez que a economia não reage. Após indicadores ruins de varejo e serviço, a semana culminou com a queda de 0,27% no IBC-Br de dezembro na margem, divulgada hoje pelo BC. O mercado considera cada vez mais realista a previsão de um PIB de 2% este ano.


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