Em um mês, internações de Covid-19 nas UTIs de Porto Alegre crescem mais de 200%

Em um mês, internações de Covid-19 nas UTIs de Porto Alegre crescem mais de 200%

Há 137 pacientes confirmados com o novo coronavírus e 23 suspeitos

Jessica Hübler e Henrique Massaro

Mais de 55% das internações está nos hospitais de referência

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Mais um recorde nas internações de pacientes com a Covid-19 foi registrado em Porto Alegre. Na noite deste domingo, 137 estavam em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) adulto da Capital e 23 suspeitos, sendo que a maioria (55,62%) ocupava leitos de UTI nos hospitais referência para atendimento do novo coronavírus na cidade: Hospital de Clínicas, onde estavam internados 52 confirmados e sete suspeitos, e Hospital Nossa Senhora da Conceição, que registrava a internação de 27 confirmados e três suspeitos.

Entre 26 de maio e 28 de junho, o número de pacientes com diagnóstico positivo para o novo coronavírus em UTIs adulto de Porto Alegre cresceu 218,6%, passando de 43 para 137. O mês de junho foi marcado pelo crescimento constante nas internações em Porto Alegre. Na primeira semana a média ainda estava em torno de 44 pacientes confirmados da Covid-19 em UTIs adulto mas, a partir do dia 10, as internações começaram a subir consideravelmente. Na segunda-feira, 22 de junho, o número de internações de pacientes com a Covid-19 em leitos de UTI na Capital passou de 100, chegando a 102 confirmados e 31 suspeitos. Desde então, o número de confirmados internados se manteve acima de 100.

A diretora-presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Nadine Clausell, afirmou que estar entre os hospitais de referência para atendimento de pacientes com a Covid-19 foi uma missão que o Clínicas se colocou no início do ano, quando estava terminando as obras e percebendo o que estava acontecendo no mundo, com a possibilidade de ter uma boa área para abrigar esses pacientes em Terapia Intensiva, especificamente. “Tivemos um tempo para preparar e colocar as coisas em operação, fomos contratando pessoas também, mas isso não é fácil, não tem tanta gente no mercado. O período entre março e abril, quando tivemos a curva mais achatada, foi importante para que a gente se organizasse e cumprisse essa missão, que é a de estar atendendo um grande contingente”, ressaltou.

De acordo com Nadine, mesmo com a preparação prévia tanto do Clínicas, quanto dos outros hospitais, está ocorrendo um reflexo que coincide com as medidas de relaxamento do distanciamento. “Começaram a subir os casos de uma maneira muito rápida e só tem uma maneira de isso diminuir, isso está diretamente associado ao aumento da circulação de pessoas apesar de as pessoas acharem que sou polêmica, sou muito técnica e não falo em ideologias, o Clínicas é um hospital baseado em número e evidências, enquanto isso não reduzir de maneira significativa, vamos continuar tendo novos casos e novas internações”, assinalou.

Além disso, segundo Nadine, é preciso também estarmos atentos para a sazonalidade, ou seja, a chegada do inverno e as complicações respiratórias aqui no Sul. “Era previsto que houvesse um período muito crítico aqui ao redor do mês de julho, o nosso papel ali na frente é atender as pessoas rapidamente, dar o melhor suporte possível e salvar vidas e que a gente saia dessa pandemia com o menor número de óbitos e de pacientes com sequelas, porque é uma coisa bem séria”, reiterou

Ocupação de 69,1% no Estado

A nível estadual, conforme levantamento da Secretaria Estadual de Saúde (SES), a taxa de ocupação dos 2.128 leitos de UTI adulto do Rio Grande do Sul, até a noite de domingo era de 69,1%. Entre os 1.470 pacientes internados em UTI adulto no Estado, 340 tinham diagnóstico positivo da Covid-19 e 157 eram considerados suspeitos, ou seja, as internações em leitos de UTI adulto relacionadas ao novo coronavírus (497) representavam 33,8% do total.

Sobre as internações, Nadine ainda destacou que um leito de UTI não é apenas uma cama, pois exige ventilador, bombas de infusão e cada paciente com o novo coronavírus, por exemplo, precisa de medicamentos contínuos, controle do tempo de ventilação mecânica, além de hemodiálise na beira do leito. Fora os equipamentos, Nadine ainda comentou que é preciso contar com uma equipe multidisciplinar nesses atendimentos, envolvendo profissionais como médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas, assistente social, entre outros.  

“Fazemos reunião virtual todos os dias para controlar estoque de medicamento, de material, de pessoal”, explicou. A gestora ainda ressaltou que é preciso ter um cuidado especial com relação à proteção dos profissionais, para que os leitos de UTI possam funcionar plenamente. “Também precisamos estar atentos para as pessoas que precisam ser afastadas por testarem positivo para a Covid-19 e isso reduz a equipe em operação, atualmente temos cerca de 100 profissionais afastados da linha de frente por estarem contaminados”, declarou.

Com relação à mudança no cenário do Estado e da Capital, Nadine comentou que os primeiros meses da pandemia na região, entre março e abril, talvez “tenham nos iludido um pouco, achamos que no Rio Grande do Sul não teria tanta repercussão”. “Fomos brandos quando teve que fechar, acho que teria que ser mais forte, mas claro que sabemos das pressões políticas e econômicas. Agora para a gente medir o resultado das novas restrições, precisamos esperar pelo menos duas semanas, o que é angustiante, ainda não vimos nenhuma mudança aqui em Porto Alegre em termos de números, nos leitos de UTI continuamos vendo a subida e estamos preocupados”, reforçou.

O secretário-adjunto da Saúde de Porto Alegre, Natan Katz, afirmou que o aumento das internações em UTI está acontecendo conforme as previsões. “A cada dia a gente tem mais pessoas ocupando a UTI, a Prefeitura tomou as primeiras medidas ainda na semana retrasada, com o decreto que restringiu atividades do comércio e do serviço e de algumas empresas maiores, percebemos que não houve um impacto muito grande na mobilidade, tanto que na sexta-feira daquela semana tivemos a menor taxa de isolamento social na cidade desde o início da pandemia”, afirmou.

Conforme Katz, por conta disso foram publicados novos decretos, “exatamente porque vimos que essa questão do entendimento da sociedade sobre a necessidade de ficar em casa não estava funcionando bem”. “Agora com o fechamento escalonado feito durante a semana passada, começamos a ver impacto na redução da mobilidade, estávamos com cerca de 40% de isolamento e na quinta-feira chegamos a 45%, então a partir dessa redução da mobilidade, esperamos um resultado nos próximos dez a 14 dias”, ressaltou.

O aumento da ocupação dos leitos de UTI adulto em Porto Alegre segue sendo analisado diariamente, segundo Katz. “E temos feito também a disponibilidade de novos leitos para pacientes com a Covid-19, de acordo com a demanda”, pontuou, lembrando que tivemos a abertura de leitos no Clínicas, no Conceição e na Santa Casa. “Nessa semana devemos ter ainda mais leitos, então é assim que estamos dando conta desse aumento”, reiterou.


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