Entidades veem "vitória" na derrubada do rol taxativo na Câmara dos Deputados

Entidades veem "vitória" na derrubada do rol taxativo na Câmara dos Deputados

Associações estão em Brasília acompanhando desenrolar da votação, que agora vai ao Senado

Felipe Faleiro

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A aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto de lei 2033/2022, que derruba o rol taxativo em procedimentos de saúde cobertos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), na última quarta-feira, foi vista como uma vitória por entidades que acompanham o caso, e que representam pessoas cujos tratamentos não podem esperar. Érika Karine Rocha Dallavechia, fundadora e presidente do Projeto Angelina Luz, que acompanha crianças autistas, foi a única representante do Rio Grande do Sul entre 22 entidades a estar em Brasília acompanhando a votação.

“A derrubada do caráter taxativo para procedimentos médicos é uma vitória também da sociedade, dos pacientes, e de muitas mães que se mobilizaram para alcançar esta importante decisão”, afirma ela. Érika atribui a aprovação à pressão junto aos parlamentares feita por diversos segmentos da sociedade, dentro da campanha “Rol taxativo mata”, na qual foram expostas as possibilidades de interrupção dos tratamentos caso a taxatividade fosse aprovada, o que, de fato, aconteceu.

O rol taxativo faz com que os planos de saúde, regulados pela ANS, atendam apenas procedimentos clínicos dentro de sua lista obrigatória. O contrário, cuja aprovação é o grande objeto destas entidades, é o rol exemplificativo. Com ele, os planos devem atender mesmo situações fora de sua obrigatoriedade, como o tratamento a doenças raras. O Conselho Nacional de Saúde (CNS) recomenda o rol exemplificativo, e inclusive expediu recomendação de sua aprovação junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em junho deste ano.

“Isso significa que, se surgirem doenças novas como a Covid-19, ou doenças raras, vários procedimentos vão acabar sendo negados porque não estarão no rol obrigatório”, afirmou a coordenadora-adjunta da Comissão Intersetorial de Saúde Suplementar (Ciss) do CNS, Shirley Morales. Segundo ela, com o rol taxativo, usuários de planos de saúde sem acesso a determinados procedimentos migrariam para o SUS, o que o sobrecarregaria ainda mais. Mesmo com a mobilização, a taxatividade havia sido aprovada em julgamento no STJ por maioria de votos também em junho.

“A partir desta aprovação, a gente nunca parou. Os gabinetes dos deputados federais e senadores estavam preparando diversos projetos de lei que foram apresentados. Ao todo, foram mais de 50”, comentou ela. “Agora, estamos a caminho do Senado, para pressionar esta votação o quanto antes. Estando resolvido logo, na próxima semana já poderá estar na mesa do presidente”, afirma Érika. O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, estima que a votação na outra Casa Legislativa poderá ocorrer na próxima terça-feira.

O Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRPRS) afirmou que estava acompanhando o caso. “Com o rol taxativo, estamos falando de pessoas que estão tendo seus tratamentos vedados do dia para a noite. No âmbito da psicologia, pessoas que precisam de tratamento para questões relacionadas a transtornos globais do desenvolvimento, não terão mais isto oferecidos. Estamos falando de vedação do acesso à saúde como direito fundamental”, afirma a presidente da Comissão de Direitos Humanos do CRPRS, Cristina Schwarz.

“Estamos defendendo o direito ao cuidado digno e ético aos mais vulneráveis e esta aprovação veio de uma força do povo, da sociedade, das mulheres. É uma luta de poucos que vai trazer um benefício coletivo para todo mundo. Com a lei, conseguimos proteger os direitos do cidadão e também respaldar um pouco a saúde pública que não dá conta de tudo”, salienta a psicóloga Tarcia Davoglio, também membro da Comissão de Doenças Raras e Graves (CDRG) do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Porto Alegre (Comdepa).

A reportagem buscou contato com a ANS para repercutir a decisão da Câmara, mas não teve retorno. Recentemente, a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) defendeu o rol taxativo, dizendo que ele é “um dos pilares básicos” dos planos de saúde, e afirmou que ocorre desta forma “em todos os países em que este tipo de serviço existe”. O rol da ANS, hoje com mais de 3 mil itens, “é atualizado constantemente, em um processo que assegura ampla representação social, incluindo entidades médicas, governamentais, órgãos de defesa do consumidor, operadoras de saúde, entre outras”, afirma a Abramge.


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