EPTC realiza ação para simular situações de risco no trânsito
Circuito Urbano envolveu condutores, ciclistas e pedestres para expor o perigo de infrações
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“O nosso principal objetivo é alertar a população sobre os principais riscos de acidente no trânsito. A ideia foi de trazer as pessoas para um espaço e mostrar tudo o que ocorre nas ruas”, enfatiza o diretor-presidente da EPTC, Marcelo Soletti. Ele explica, por exemplo, que um ônibus tem cerca de 20 pontos cegos (áreas que escapam da visibilidade do motorista), por isso a importância do ciclista respeitar as leis de trânsito, assim como os motoristas. “Criamos situações que envolvem condutores, ciclistas e pedestres, para que as pessoas consigam se colocar no lugar do outro, com percepção dos riscos a que podem estar se expostos, como é o caso do celular ao volante”, frisa.
Entre as atividades, os ciclistas foram convidados a sentar no lugar do motorista do coletivo para que pudessem perceber os pontos salientados por Soletti. Diversos cones numerados no entorno do veículo mostravam a dificuldade sentida por quem está no volante. “Essa experiência serve para mostrar a consciência de ambas as partes. A sensibilização dos condutores dos coletivos em relação ao respeito a bicicleta e, no caso dos ciclistas, a importância deles se manterem distantes do ônibus”, reflete o agente de atendimento ao público da EPTC, Gabriel Campani.
O ciclista Filipe Minuto, 32 anos, foi um dos que aceitou a proposta e sentou no lugar do motorista de um dos veículos que diariamente transporta milhares de passageiros em Porto Alegre. “É difícil a visualização mesmo, o ‘olho de gato', colocado nos retrovisores, precisa ser obrigatório porque sem ele é impossível enxergar todos os pontos”, pondera. Durante um dia de trabalho há de acrescentar o pedido de informações dos usuários e o barulho do trânsito. “Acredito que com algumas adequações seria possível ter menos pontos cegos. Infelizmente nossa Capital não tem mais lugar para criação de ciclovia, e nas que existem não há espaço para todos aqueles que usam o meio. Porque muitas pessoas, além de quem utiliza a bicicleta, acabam trafegando pelo espaço."
Óculos especial
Outra possibilidade disponibilizada no evento foi um óculos especial, utilizado pela primeira vez em ações da EPTC, que simula a embriaguez. A transportadora escolar Maristela Peixoto Borges, 43 anos, fez o teste e ficou impressionada com a perda dos sentidos e a noção durante a locomoção. Em vários momentos, com andar cambaleante, esbarrou nos cones que indicavam o percurso que deveria fazer, caminhando. “Eu, sóbria, fiquei receosa quando coloquei o equipamento. A gente se sente totalmente descontrolada, perde a noção da distância e das próprias ações. A pé já fiquei nervosa, imagina na direção”, exclama.
Ela, que nunca bebeu e dirigiu, fala da responsabilidade que um motorista tem ao entrar em um automóvel. “Podemos colocar em risco a nossa vida e a dos demais. E pensar que, mesmo com tanta informação, ainda há quem faça isso”, lamenta. Segundo Maristela, jovens e novos condutores deveriam fazer a pista, ao menos, uma vez, para experimentar a sensação.
Quem também viveu a experiência foi o agente de fiscalização educador de trânsito da empresa, Rafael da Rosa. “Ao colocar o óculos tudo começa a se movimentar, perdemos a visão nítida, que começa a ficar embaralhada, perdemos totalmente a noção”, descreve.
Circuito automotivo
Um espaço montado em que o motorista é convidado a dirigir pela pista de 300 metros estruturada por engenheiros de tráfego, acompanhado de um instrutor e com um telefone celular da mão. Durante o percurso, equipes da organização enviam mensagens pelo WhatsApp para o condutor responder. Enquanto isso, ele precisa estar atento às alterações do trânsito.
A reportagem do Correio do Povo assumiu a direção de um dos carros disponíveis e fez o teste. A via molhada, a garoa leve que caia, as faixas de pedestres, estreitamento de pista e semáforos deixaram a simulação mais real. Na primeira rodada a equipe percorreu o trajeto em 1min05seg. "Qual a velocidade da via?", foi a primeira mensagem recebida. Ao ouvir o bipe, rapidamente a condutora respondeu. Logo depois, mais uma. "Quem tem a preferência na faixa de pedestres?", enquanto tentava alinhar o veículo e responder, nem percebeu que acabara de passar por uma delas.
Entre as infrações cometidas no percurso: o desrespeito a faixa de segurança, o trafegar acima da velocidade da via, além de manusear e segurar o telefone celular. Depois, o mesmo cenário, sem responder nenhuma mensagem de texto, o tempo caiu para 45 segundos. “Falar ao celular, seja na ligação ou com mensagens de aplicativos, é um risco muito grande. A pessoa perde a atenção na via e na série de situações que acontece no entorno”, expressa Soletti.
Em 2018, a infração mais cometida na Capital foi a de transitar em velocidade superior à máxima permitida para o local, superior à máxima em até 20%. Foram 109.087 até o momento, segundo dados da EPTC. Além da perda de quatro pontos na carteira, a infração média tem como penalidade a multa de R$ 130,16.
Entre as mais comuns também está a de dirigir com apenas uma das mãos segurando ou manuseando o telefone celular. Foram flagrados 11.993 motoristas manuseando o aparelho (infração gravíssima, o infrator perde sete pontos na carteira e paga multa de R$ 293,47) e outros 9.681 segurando (infração média, multa de R$ 130,16 e quatro pontos na carteira).