Erro de sistema paralisa ação criminal sobre tragédia de Brumadinho

Erro de sistema paralisa ação criminal sobre tragédia de Brumadinho

Há dois anos, rompimento de barragem deixou cerca de 270 vítimas

Agência Brasil

Tragédia de Brumadinho completa dois anos

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Uma missa, uma homenagem e uma carreata marcaram os dois anos da tragédia de Brumadinho (MG). Os eventos, que se iniciaram desde as primeiras horas do dia, tiveram transmissão online e ainda podem ser assistidos pela página da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão (Avabrum). Após soltarem balões com os nomes de cada um dos mortos, os parentes se dirigiram até o Fórum Judicial em Brumadinho, onde tramita o processo criminal, para cobrar celeridade no julgamento.

"Eles morreram no dia 25 de janeiro e nós morremos um pouco a cada dia de saudade, de tristeza e de espera por justiça. Menos de um minuto para matar. Mas já são 732 dias de espera", disse Andresa Rodrigues, que perdeu o filho e é uma das diretoras da Avabrum. A entidade também lançou nas redes sociais uma campanha pedindo celeridade no julgamento do processo criminal. Nos últimos dias, vídeos gravados por parentes de cada um dos mortos estão sendo publicados sob o mote "Justiça já".

O processo que julga as responsabilidades criminais do rompimento da barragem da mineradora Vale está atualmente paralisado por um problema no sistema do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Dezesseis pessoas respondem por diversos crimes ambientais e por homicídio doloso. Em decisão no mês passado, a juíza Renata Nascimento Borges atendeu o pedido feito por advogados dos réus e suspendeu o prazo para apresentação de respostas à acusação. Segundo o despacho, há uma "inconsistência da plataforma de acessos aos documentos sigilosos".

Um novo prazo deverá ser definido posteriormente. "Friso, por oportuno, que foi procedida à abertura de procedimento interno, para adoção de providências quanto ao narrado", escreveu a juíza.

De acordo com o TJMG, a ferramenta que apresentou erro foi desenvolvida para dar andamento aos processos em meio à pandemia de covid-19. Conteúdos em papel estão sendo digitalizados e reunidos na plataforma para permitir que possam ser acessados sem necessitar da presença física. "Nesse caso específico, ela não estava atendendo a contento, e os réus declararam não ter tido acesso a alguns documentos", informou o TJMG.

Na tragédia, ocorrida em 25 de janeiro de 2019, cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos vazaram após o rompimento de uma barragem na Mina Córrego do Feijão, gerando destruição e danos a comunidades e ao meio ambiente de Brumadinho e de outras cidades da calha do Rio Paraopeba. Desde então, foram resgatados 259 corpos de vítimas da tragédia.

Outra solenidade com a presença dos atingidos aconteceu às 16h na base do Corpo de Bombeiros em Brumadinho, a partir da qual são organizadas as buscas dos 11 desaparecidos. O evento contou com a participação do governador mineiro Romeu Zema.

Relatório

Também lembrando os dois anos da tragédia, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) divulgou hoje em seu site um relatório onde são listadas medidas tomadas desde o rompimento da barragem. A investigação sobre as causas do episódio contabilizou 23 mandados de busca e apreensão, 94 perícias em dispositivos eletrônicos e 183 depoimentos de investigados, testemunhas e sobreviventes.

A denúncia do MPMG foi aceita pelo TJMG em fevereiro do ano passado, transformando em reús 11 pessoas que ocupavam cargos na Vale e outras cinco vinculadas à consultoria alemã Tüv Süd, que certificou a estabilidade da barragem. Segundo o MPMG, ambas as empresas tinham conhecimento da situação crítica da estrutura, mas não compartilharam as informações com o poder público e com a sociedade e assumiram os riscos.

"Concluiu-se que os crimes foram praticados mediante recurso que impossibilitou ou dificultou a defesa das vítimas – já que o rompimento ocorreu de forma abrupta e violenta, tornando impossível ou difícil a fuga de centenas de pessoas que foram surpreendidas em poucos segundos pelo impacto do fluxo da lama", registra o relatório divulgado hoje pelo MPMG.


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