Espaços para cuidar da fauna e da flora

Espaços para cuidar da fauna e da flora

Ainda que a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul tenha sido extinta, o Zoológico de Sapucaia do Sul e o Jardim Botânico de Porto Alegre seguem vivos e abertos à visitação do público

Giullia Piaia

Atualmente, são mais de mil animais no Zoológico de Sapucaia do Sul, de aproximadamente 150 espécies. Entre elas, há macacos, pumas, rinocerontes, hipopótamos, cervos e flamingos

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Inaugurado em 1932, o Parque Zoológico de Sapucaia do Sul já passou por altos e baixos em seus 60 anos. Desde a extinção da Fundação Zoobotânica do RS, órgão estadual ao qual era vinculado desde 1973, e tentativas fracassadas de concessão à iniciativa privada, em 2019 e 2021, a situação do zoo ficou nebulosa na imaginação do público. “Muita gente, depois que ouviu falar da concessão, pensa que o zoológico está fechado”, comenta o gestor do local, Hilberto Carlos Schaurich.

Essa impressão, claro, não é compartilhada por todos. No segundo fim de semana de julho, por exemplo, mais de 1.200 pessoas visitaram o parque, que tem 780 hectares, sendo 160 ocupados pelo zoológico propriamente e 620 de reserva florestal. Apesar de ter perdido alguns dos exemplares mais icônicos de seu plantel nos últimos anos, como a elefante Pink, que estava no zoo desde 1964 e morreu em 2020, o parque ainda conta com diversas espécies. Atualmente, são mais de mil animais, de aproximadamente 150 espécies. Entre elas, há macacos, pumas, rinocerontes, hipopótamos, cervos e flamingos. O zoológico também tem exemplares únicos, como uma zebra, um urso de óculos, um tigre e um camelo.

O parque ainda recebe novos animais. O mais recente é uma onça macho, chamada de Cheetos. Foi trazido de Cotia (SP), para que se reproduzisse com a fêmea que já morava no zoológico. A manutenção de espécies ameaçadas de extinção é uma das funções dos zoológicos. Recentemente, também foi feita uma permuta com outro zoológico, em que o parque de Sapucaia do Sul recebeu sete lhamas em troca de alguns cisnes.

Com a extinção da fundação, o zoológico passou a ser gerido pela Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) e, como conta Schaurich, mesmo com as tentativas de concessão, nunca faltaram recursos para a manutenção do local. “Não mudou nada, continuamos fazendo nosso trabalho. O Estado não cortou nenhum recurso”, afirma o gestor. Todos os animais recebem comida adequada, em qualidade, quantidade e frequência, além de atenção veterinária diária.

Desde muito antes do fechamento da fundação e das tentativas de concessão do parque, não são realizadas obras extensas, grandes investimentos e projetos de infraestrutura. Os editais de concessão focavam justamente nisso. O último deles previa investimento obrigatório de R$ 70 milhões, sendo R$ 25,5 milhões nos dois anos seguintes à assinatura do contrato. O período de concessão seria de 30 anos.

Um dos itens destacados à época das tentativas de licitação, era a reforma dos recintos, que estava prevista nos editais de concessão. Aqueles que compõem o zoo atualmente, não são dos mais modernos, que costumam ter divisórias de vidro e não grades. Os padrões modernos buscam de forma mais eficaz o bem-estar animal, com áreas maiores e pensadas para as necessidades de cada espécie. Ainda assim, de acordo com o gestor do zoo de Sapucaia, a maioria dos animais está em ambientes considerados adequados. “Há exceções, como o tigre, que está em um fosso, que é do tempo do Império Romano, muito antigo. Hoje em dia, usa-se muito o conceito do recinto mais aberto, com mais campo, mais espaço para correrem”, aponta o gestor. Ademais, é importante que os recintos tenham um espaço que não seja exposto ao público, assim, o animal pode se resguardar quando sentir vontade.

Não seria possível, por exemplo, realocar o tigre em um dos outros recintos já existentes no parque, por conta do perigo que estes animais apresentariam aos outros animais e aos visitantes e funcionários, caso se soltassem. Por isso, é necessário a construção de um novo recinto, feito especialmente para ele.

Em um zoológico, a possibilidade de conhecer os animais, os aproxima dos seres humanos e fomenta uma relação de empatia entre homem e natureza. A gestão do parque também tem inscrito projetos em editais de patrocínio. “Participamos de um no início do ano, mas não fomos contemplados”, diz o gestor.

Além da educação ambiental, os zoológicos têm outras funções, como a pesquisa científica, que também segue no ritmo de antes em Sapucaia e é feita em junto a universidades. “A gente consegue perceber o que acontece na vida livre, mas aqui dentro. Coisas que não conseguiríamos saber que estão acontecendo com animais fora, nós conseguimos perceber em um ambiente controlado, como o zoo”, explica Vanessa Silva, uma das veterinárias do parque.

Em uma pesquisa recente, o zoo forneceu ovos de peixes anuais, ameaçados de extinção, a pesquisadores da Unisinos, para um experimento que testou a dispersão destes animais nas fezes de aves. Já em uma parceria com o Programa Macacos Urbanos, vinculado a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é testado quais os cipós de preferência dos bugios-ruivo, vítimas frequentes de choques elétricos na zona Sul de Porto Alegre e em Viamão, ao confundirem fios de luz com cipós. Neste estudo, os pesquisadores estão tentando buscar alternativas para a instalação de “cipós” em locais com grande ocorrência de choques nos primatas.

Licitação e apoio à pesquisa

Nos editais de licitação, não se previa a continuidade de pesquisas desenvolvidas no Parque Zoológico, visto que toda a estrutura seria entregue à iniciativa privada. “Dentro do zoológico não há atividade específica de pesquisa, relações com universidades e museus. A gestão privada seria total”, contradiz o secretário de Parcerias Estratégicas, Leonardo Busatto, que foi responsável pelos editais. 

Essa é uma das grandes diferenças entre as tentativas de concessão do zoo e o futuro edital de concessão do Jardim Botânico de Porto Alegre, outro local ligado à extinta Fundação Zoobotânica, que será lançado pela primeira vez.

Em edital a ser provavelmente lançado, de acordo com o secretário, na primeira quinzena de agosto, será concedido à iniciativa privada apenas a exploração dos espaços do jardim, como, por exemplo, para a construção de restaurante. “Mas toda a parte relacionada à pesquisa, estudos, tudo isso continuará sendo realizado pela Sema”, promete Busatto. O parceiro privado deverá reformar os atuais prédios, além de fazer novos investimentos visando a atração de público. “A gente acredita que o Jardim Botânico tem um potencial enorme para atrair visitantes, mas, hoje, a visitação é muito tímida.”

O secretário crê que, ao contrário do que aconteceu nos editais referentes ao zoológico, desta vez aparecerão interessados. “A grande diferença são os custos e as dificuldades no trato com os animais. A necessidade de qualificação técnica é muito maior em um parque zoológico do que em um jardim botânico. São poucas empresas no Brasil com essas qualificações”, justifica.

À espera da possível futura concessão, o jardim botânico segue recebendo visitantes. Após um período fechado durante a pandemia, o jardim já recuperou o público que havia se afastado, conforme conta a gestora e bióloga, Patrícia Witt. “Estamos com fluxo praticamente normal, de antes da pandemia.” O movimento é maior em feriados e finais de semana, mas, durante a semana, o jardim recebe algumas excursões educativas. Além do jardim em si, ficam disponíveis ao público o Museu de Ciências Naturais do Rio Grande do Sul e o serpentário. 

Mas não é só de visitantes que vive o jardim. “O Jardim Botânico é um banco genético extremamente importante, porque tem espécies arbóreas e vegetais. Além disso, é um pulmão verde no centro da cidade”, elucida Patrícia. 

Os estudos realizados pelos servidores da Sema lotados no Jardim Botânico envolvem diferentes grupos de pesquisa. “Programas de espécies exóticas, vários projetos que estudam lacunas de informação, busca de espécies, apoio a estudo de conservação da natureza do Estado”, lista Patrícia. “Nosso grupo de pesquisadores está muito ativo, viajando por todo o Rio Grande do Sul, integrado a diversos projetos”, diz a bióloga, com orgulho. Patrícia acredita que a concessão virá para melhorar a gestão da infraestrutura para visitação. “Como responsável por essa parte, hoje, é algo que me tira bastante tempo, que poderia ser dedicado às coisas que realmente têm importância.”

Quanto à concessão do Parque Zoológico, a secretaria não pretende lançar um novo edital. “Os projetos estão muito antigos, precisam ser atualizados. Para fazer uma atualização, nós precisamos ter, novamente, apoio ou do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ou de alguma consultoria, além de tempo para dedicação a esse projeto”, reconhece Busatto. “A gente acabou deixando esse projeto de lado. Vai ficar para a próxima gestão decidir se vai querer lançar uma nova concessão ou não.”

Serviço:

O Parque Zoológico de Sapucaia do Sul e o Jardim Botânico de Porto Alegre estão abertos para visitação de terça-feira a domingo. O ingresso do zoo está no valor de R$ 10,00 para adultos e R$ 5,00 para crianças, estudantes e idosos. Carros pagam R$ 50,00, independentemente do número de ocupantes do veículo. No jardim, a entrada inteira é de R$ 6,00 e meia R$ 3,00. Por automóvel, R$ 11,00.

 


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