Especialista alerta para propagação da variante P1 da Covid-19 em Porto Alegre

Especialista alerta para propagação da variante P1 da Covid-19 em Porto Alegre

Entre as principais características da nova cepa estão a maior carga viral e a rapidez da disseminação do vírus

Felipe Samuel

Segundo o infectologista, o crescimento de casos de pacientes diagnosticados e internados em poucos dias não tem similar desde o início da pandemia

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A confirmação da transmissão comunitária da variante P.1 da Covid-19 em Porto Alegre pelo Centro Estadual de Vigilância Sanitária do Rio Grande do Sul (CEVS), na terça-feira, aliada ao aumento expressivo das internações em todo Estado reforçam a necessidade de a população cumprir os protocolos sanitários recomendados por autoridades de saúde, como distanciamento social e uso de máscara. Entre as principais características da nova cepa estão maior carga viral e rapidez da disseminação do vírus.

O estudo produzido pelo CEVS em parceria com o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) confirma a posição de muitos especialistas, que desde fevereiro sugerem a ocorrência de transmissão comunitária da nova variante no Estado. Coordenador da Comissão de Controle de Infecção do HCPA, Rodrigo Pires dos Santos explica que o aumento acentuado de casos envolvendo Covid-19 em curto período, especialmente na Região Metropolitana, chamou atenção de pesquisadores e médicos.

Segundo o infectologista, o crescimento de casos de pacientes diagnosticados e internados em poucos dias não tem similar desde o início da pandemia. "Número de casos nunca foi tão alto e nunca cresceu tão rápido, mesmo pós feriado, pós-Natal. Claro que esse aumento é multifatorial, envolve a mobilidade das pessoas, aglomerações, não uso de máscaras e falta de higiene de mãos, ou seja, todas essas questões sanitárias", critica. Ele alerta que essa situação também é verificada em várias cidades brasileiras. "Tinha alguma coisa de diferente que a gente já imaginava que pudesse ser a variante mais transmissora", assinala. 

Conforme Pires, alguns trabalhos no Brasil já identificavam possibilidade de transmissão comunitária. E esclarece que o estudo gaúcho foi feito a partir de uma amostragem, sem seguir método científico. As pessoas selecionadas para participar do estudo eram as que tinham mais chance de apresentar uma variante P1. "Essa variante é mais transmissora, pela carga de vírus que contém, e isso também se reflete num maior número de dias que ela é capaz de transmitir. Isso é determinante nesse aumento da taxa de transmissão", frisa.

De acordo com Pires, por conta da maior carga viral, a nova cepa identificada na Capital pode ser transmitida por uma pessoa por mais dias. "Antes em média a transmissão era de 7 dias. Agora uma pessoa com a variante nova pode transmitir por mais dias, que pode variar de 7 a 13 dias", alerta. O infectologista critica ainda o comportamento de parte da população. "A falta de restrição de circulação das pessoas, essa transmissão e essa mobilidade por todo país, trariam certamente, mais cedo ou mais tarde, a disseminação dessa variante", observa.

Na avaliação de Pires, essa variante deve se tornar, 'se já não se tornou', a mais comum em algumas semanas. "Estamos caminhando para que esta variante seja dominante no nosso meio", projeta, acrescentando que normalmente leva de 7 a 8 semanas para prevalência da nova cepa. Ele critica ainda a 'vacinação a passos lentos' e defende atenção redobrada às medidas sanitárias. "Infelizmente chegamos a uma situação de caos no sistema de saúde, de discutir diariamente abertura de novos leitos, supressão de leitos não-Covid, em detrimento de cuidados de pacientes não-Covid para poder minimamente atender esses pacientes". 

Ele descarta ainda que a disseminação da nova cepa do vírus tenha alguma relação com o atendimento de pacientes trazidos de Manaus para o RS. "Não tem nenhuma relação com aqueles casos, posso dizer isso categoricamente do ponto de vista da análise desses casos que a gente fez agora. A gente vê muita variabilidade de transmissões", destaca. 


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