Especialistas apontam que subvariante da Ômicron é 50% mais transmissível

Especialistas apontam que subvariante da Ômicron é 50% mais transmissível

Linhagem já foi identificada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina

Felipe Samuel

Linhagem já foi identificada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina

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A confirmação de pelo menos cinco casos da subvariante da Ômicron no Brasil deixa em alerta autoridades e especialistas no Rio Grande do Sul. O Ministério da Saúde informou no sábado que o subtipo BA.2 já foi identificado em três estados: São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Mesmo com bom ritmo de vacinação da população gaúcha, epidemiologistas e infectologistas alertam que a linhagem BA.2 da variante Ômicron – que ainda não foi identificada no RS – é mais transmissível do que a BA.1, o que pode refletir no aumento de novos casos confirmados da doença. 

Professor de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Paulo Petry, afirma que a subvariante BA.2, detectada pela primeira vez nas Filipinas, em novembro do ano passado, já está presente em mais de 50 países. “Estudos do governo dinamarquês apontam que a BA.2 é até 1,5 vezes mais transmissível que a BA1. Ela se transmitiu muito rápido por lá, mas felizmente parece que não há diferença em termos de riscos, de agressividade. A transmissibilidade é maior, mas a agressividade tem se mostrado igual, ou seja, menor que as outras cepas anteriores que a gente já viveu”, compara. 

Embora a Secretaria Estadual de Saúde (SES) não tenha informado casos da subvariante no Estado, Petry acredita que a BA.2 deve estar circulando em outros estados. “Provavelmente essa subvariante já está circulando no Rio Grande do Sul, porque dificilmente não chegaria aqui. Em outros países ela se espalhou muito rápido”, frisa. Segundo Petry, por conta da vacinação, não houve aumento das hospitalizações e mortes por conta do subtipo BA.2. “O vírus pode estar enfraquecendo. A própria Ômicron e suas variantes não são tão severas como foram a Delta, a Gama, mas provavelmente isso se dê também em função das vacinas”, avalia. 

Mesmo com a vacinação, ele alerta que 1% dos casos têm quadro de saúde agravado. Ele afirma que a variante BA.2 teria o mesmo ‘efeito da Ômicron original’. “É um caso se tiver 100 pessoas contaminadas, mas se tiver 1.000.000 de contaminados já são 10 mil. Pela transmissibilidade ser alta, pode trazer uma pressão para o sistema de saúde, porque a gente observa alguns aumentos de internação porque existem muitas pessoas com esquema vacinal incompleto ou que não tomaram a vacina”, observa. “Estudos mostram que o risco de (internação) UTI é 16,5 vezes maior em não vacinados, por isso a vacina é importantíssima”, completa. 

Para o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz, quando se fala em Ômicron “tem que pensar que tem a original” e diversas parecidas com ela, mas todas são tratadas como Ômicron. “A subvariante BA.2 tem 20 mutações diferentes do que a BA.1. Isso faz com que ela seja classificada de forma diferente”, observa, destacando que ela apresenta maior contágio. “Essa (subvariante) é pelo menos 50% mais transmissível do que a Ômicron original. Conforme Sprinz, em outros países onde a Ômicron chegou a dominar, a BA.2 “não consegue entrar muit”’.  

O início do ano letivo também preocupa o infectologista. “Se for pensar que as aulas vão começar, se for pensar que ela é mais transmissível, talvez o início das aulas seja um “combustível” a mais para ela se espalhar. Isso não quer dizer que ela será mais grave, mas de qualquer jeito é importante saber que a gente não está tendo o quadro que a gente teve um ano atrás graças à vacinação”, ressalta. Na avaliação de Sprinz, o ideal seria adiar o início das aulas. Ele alerta para outra característica da subvariante. “Se a Ômicron conseguia se ‘esconder’ um pouco mais do nosso sistema imunológico e das vacinas, a BA.2 tem essa habilidade um pouco mais desenvolvida ainda”, afirma.  

Apesar do contágio de Covid-19 se manter em patamar elevado no Estado, Sprinz reforça que as vacinas ajudarão na proteção contra a subvariante BA.2 “Nos últimos dias chegamos num número mais ou menos estável de novos casos. E se as pessoas ficam felizes com 20 mil novos casos por dia certamente isso não é uma boa notícia, a persistência de 20 mil novos casos por dia não é uma coisa boa, porque vai pegar não vacinados e quem não tiver esquema vacinal em dia. E mesmo quem tem esquema vacinal em dia pode vir a ter, embora bem menos comum, a chance de ter um curso mais grave da Covid-19”, frisa. 

O infectologista ressalta que se o sistema de saúde pode sofrer as consequências do aumento do contágio. “A gente não quer, mas existe a chance (de o sistema de saúde ficar sob pressão). A grande vantagem é que a nossa população, embora com algumas pessoas importantes que não fazem propaganda para vacinar, deu um show em termos de vacinação”, destaca. Por ser um “vírus novo”, Sprinz alerta para a importância da imunização. Ele destaca casos de pessoas que há um mês atrás testaram positivas para “Covid-19, ficaram negativas e agora estão positivas de novo”. Tudo isso num período de mês.  

“Então será que é a nova Ômicron ou será que antes foi a Delta e agora é Ômicron? Muitas delas a gente não sabe. E isso acaba por terra aquela coisa das pessoas dizerem “peguei a infecção e estou mais protegido”. As variantes nos dizem rigorosamente o oposto, a tal imunidade de rebanho não existe, pelo menos por enquanto não. A gente fala em imunidade de rebanho para doenças totalmente estabilizadas entre humanos, que são vírus muito antigos já, com doenças conhecidas há muito tempo. O sarampo a gente já conhece há muito tempo”, compara. 

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que acompanha com atenção o registro dos primeiros casos da subvariante BA.2 da Ômicron no país. Até o momento, não há casos confirmados em Porto Alegre. A pasta ressalta que a partir desta segunda-feira, o Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) irá retomar o trabalho de análise genômica, que havia sido interrompido em janeiro devido à alta demanda por exames do tipo RT-PCR.  

Conforme a SMS, 10% dos casos de Covid-19 analisados pelo ICBS serão genotipados, possibilitando o monitoramento da chegada desta nova linhagem à capital. A SMS reforça a importância de a população completar o esquema vacinal e manter as medidas de prevenção, como uso de máscaras e álcool em gel. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) não informou se o Estado já identificou a circulação da subvariante BA.2 e quais medidas o governo pretende adotar para impedir a disseminação do vírus.


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