“Estamos à beira do colapso”, diz infectologista

“Estamos à beira do colapso”, diz infectologista

Há um ano na linha de frente do combate à Covid-19, médico critica o que considera egoísmo da população

Felipe Samuel

Taxa de ocupação na Capital é de 97,75%

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Infectologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição, André Luiz Machado explica que o avanço do contágio da doença aliado às aglomerações registradas no feriado de Carnaval devem resultar no crescimento das internações nas próximas semanas. “São números sem precedentes na história da pandemia no nosso estado. Isso nos preocupa e nos coloca à beira do colapso do sistema de saúde”, afirma. Nesta quarta, Porto Alegre bateu pela primeira vez a marca de 400 pacientes com Covid-19 na UTI. 

Machado observa que parte da população está “dando de ombros” para as orientações de autoridades de saúde e ignora as recomendações para uso de máscara e distanciamento social. Num misto de desabafo e desilusão, o especialista reforça que o cenário atual ainda não reflete as aglomerações verificadas nas praias gaúchas, o que deve impactar na ocupação de leitos de UTI. “Há uma tendência de que tenhamos uma piora ainda maior. Infelizmente a população é muito egoísta, gosta de escutar aquilo que convém”, critica. 

Machado diz que no ano passado a população respeitava mais as medidas de isolamento: “A gente vislumbra algo muito pior nos próximos dias, provavelmente a morte de pessoas em casas, em calçadas dos pronto-atendimentos, porque não tem assistência médica, não tem leitos, as equipes estão extenuadas e assoberbadas”, avalia.

Há um ano na linha de frente no combate à Covid-19, ele destaca que muitos pacientes que estão nas unidades de enfermaria têm indicação para UTI, mas não há leitos disponíveis. Nesse contexto, as equipes médicas ficam sob estresse. “Lançamos mão de manejos não invasivos para manter uma boa resposta de oxigênio enquanto paciente aguarda leito. A gente não sabe até quando vai durar”, assinala, acrescentando que esse cenário pode acarretar no adoecimentos dos profissionais de saúde.

Médico critica planejamento da volta às aulas

Outra questão que chama atenção do infectologista em meio ao pico das internações é o retorno às aulas da rede pública de ensino. Conforme Machado, a retomada das aulas deveria ter sido melhor planejada. E reforça que é preciso avaliar de forma pontual as diferenças entre o sistema privado e público. “Não houve planejamento de parte do gestor, que deveria priorizar profissionais de saúde e professores para vacinação. Há grande prejuízo no sistema educacional, para as crianças e jovens, porque os professores têm medo de retornar às aulas. Isso não se fala de hoje, se fala há muito tempo”, destaca. “Se os professores fossem contemplado na primeira linha de vacinação, já teriam recebido a segunda dose da vacina”, completa.


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