Estudo Coalizão III avalia resultado do dexametasona no tratamento à casos graves de Covid-19

Estudo Coalizão III avalia resultado do dexametasona no tratamento à casos graves de Covid-19

Foram incluídos 299 pacientes com síndrome respiratória aguda grave submetidos a ventilação mecânica

Jessica Hübler

Estudo iniciou em 17 de abril, com inclusão do último paciente em 23 de junho

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Foram publicados os resultados do estudo Coalizão III, que reúne diversos hospitais brasileiros e avaliou se o anti-inflamatório dexametasona poderia trazer benefícios a pacientes adultos hospitalizados com formas graves de Covid-19. A publicação foi feita nesta quarta-feira, no periódico científico Journal of the American Medical Association (JAMA). O estudo contou com apoio da farmacêutica Aché, que forneceu os medicamentos, e foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O estudo iniciou em 17 de abril, com inclusão do último paciente em 23 de junho, e seguimento clínico finalizado em 21 de julho. Foram incluídos 299 pacientes com síndrome respiratória aguda grave submetidos a ventilação mecânica (respiração artificial) em 41 Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) brasileiras. Por meio de sorteio, os pacientes receberam dexametasona mais suporte clínico padrão (151 pacientes) ou apenas suporte clínico padrão (grupo controle, 148 pacientes).

A dexametasona foi usada por via endovenosa na dose de 20 mg durante 5 dias e 10 mg durante 5 dias. O suporte clínico padrão foi de acordo com a equipe médica que assistia os pacientes. A avaliação do efeito do tratamento com dexametasona considerou como resultado principal o número de dias que o paciente permaneceu fora do respirador artificial em até 28 dias.

O número de dias fora do respirador artificial foi maior nos pacientes tratados com dexametasona (média de 6,6 dias) do que no grupo controle (média de 4 dias). Os pesquisadores interpretaram que a utilização de dexametasona aumentou o número de dias em que pacientes graves com Covid-19 permaneceram fora do respirador artificial.

A retirada mais precoce do respirador artificial pode se associar ao menor risco de complicações decorrentes da permanência na UTI, alta mais precoce da terapia intensiva com liberação de leitos e economia de recursos humanos e financeiros, sobretudo em um cenário de escassez como o da atual pandemia.

Resultados

A equipe ainda destacou que estes resultados não são aplicáveis a outras populações, a exemplo de pacientes ambulatoriais com formas mais leves e iniciais de Covid-19, ou mesmo pacientes hospitalizados com Covid-19 que não estejam em respiração artificial. No que diz respeito aos efeitos adversos, a pesquisa não evidenciou um risco maior do tratamento com dexametasona em relação a novas infecções, alterações da glicose e outros eventos adversos sérios. O estudo não foi idealizado para avaliar diferenças de mortalidade entre os grupos. A mortalidade em 28 dias foi de 58% quando considerado o total de pacientes incluídos.

Os pacientes incluídos no estudo tinham idade em torno de 61 anos e cerca de 60% dos pacientes era do sexo masculino. Foram incluídos apenas pacientes com as formas mais graves de insuficiência respiratória aguda causada por Covid-19, todos entubados em respiração artificial e com reduções importantes da oxigenação do sangue.

Meta-Análise

No mesmo momento da divulgação do estudo Coalizão III, foi divulgada também uma revisão de estudos, em formato de meta-análise, realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que compilou os resultados do Coalizão III e das demais pesquisas que utilizaram corticoides em Covid-19. Os resultados dessa meta-análise demonstraram que a administração de corticoides reduz a mortalidade em pacientes graves com COVID-19 e serviram de base para atualização das diretrizes da OMS sobre o tratamento de Covid-19 com corticoides, também divulgada nessa data.

O Coalizão III faz parte de uma iniciativa denominada Coalizão Covid-19 Brasil que tem como objetivo conduzir pesquisas para avaliar a eficácia e a segurança de potenciais terapias para pacientes com Covid-19. A aliança é formada por Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet). Há pelo menos outros sete estudos da Coalizão Covid-19 Brasil em andamento.


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