Fabricante da vacina Sputnik V processará a Anvisa por difamação

Fabricante da vacina Sputnik V processará a Anvisa por difamação

Agência brasileira se recusou a aprovar o imunizante russo

AFP e Correio do Povo

Resultados do estudo foram publicados na revista Lancet nesta sexta-feira

publicidade

Os desenvolvedores da vacina russa Sputnik V afirmaram nesta quinta-feira (29) que irão processar por difamação a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que se recusou a aprovar o imunizante. "A Sputnik V está iniciando um processo judicial de difamação no Brasil contra a Anvisa por disseminar intencionalmente informações falsas e imprecisas", disseram os desenvolvedores da vacina russa no Twitter.

"A Anvisa fez declarações incorretas e enganosas sem ter testado a vacina Sputnik V real", completaram, alertando a agência reguladora brasileira que "nossa equipe jurídica entrará em contato". A equipe da Sputnik V citou declarações de Gustavo Mendes, funcionário da Anvisa que alegou que a agência brasileira "não recebeu amostras da vacina para testar [e] não testou". A conta da Sputnik V, entretanto, não apresenta uma fonte para essas declarações.

Entre os principais questionamentos que a Anvisa fez para a farmacêutica russa está sobre a possibilidade de replicação do adenovírus fabricado em laboratório. O gerente gerente de medicamentos e produtos biológicos da Agência, Gustavo Mendes, disse em audiência pública da Comissão de Enfrentamento à Covid-19, na Câmara dos Deputados, que a falta de respostas foi um ponto crítico.

"As células de adenovírus vetor, que carregam o material genético da vacina, não podem se replicar. Precisamos saber se existe mesmo um vírus replicante que não é esperado na Sputnik? Qual é o risco de ter esse vírus? Esse vírus pode se acumular em algum órgão? Pode gerar um efeito tóxico? Pode gerar uma adenovirose? Pode ser transmitido para outras pessoas? São perguntas que só podem ser respondidas quando temos esses dados e estudos nas nossas mãos", afirmou o gerente na apresentação aos deputados.

A recusa na aprovação da vacina russa foi até elogiada pela comunidade científica. Especialistas de diferentes áreas usaram as redes sociais para aplaudir a iniciativa da Anvisa. No Twitter, a médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin, dos Estados Unidos, Denise Garrett classificou o trabalho do corpo técnico da Anvisa como "exemplar". "Fizeram um trabalho meticuloso e bem respaldado. Não significa que a vacina não venha a ser boa. Significa que faltam dados. A pressão não deve ser na Anvisa - deve ser no Instituto Gamaleya para enviar os dados."

A decisão da agência brasileira não caiu bem para o CEO do Fundo Russo de Investimento Direto, Kirill Dmitriev. Ele fez críticas e foi seguido pela equipe responsável pelo imunizante. Para os russos, a recusa tem natureza política. "A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de adiar a aprovação da Sputnik V é, infelizmente, de natureza política e nada tem a ver com o acesso do regulador à informação ou ciência", diz um comunicado divulgado hoje no site dedicado à vacina. Em coletiva de imprensa mais cedo, Dmitriev havia acusado os Estados Unidos de influenciar na posição do órgão regulador brasileiro.

Apesar das críticas vindas da Rússia, Anvisa reafirmou a falta de dados, mas comentou que as portas para a vacina não foram totalmente fechadas. O gerente de medicamentos e produtos biológicos, Gustavo Mendes, mencinou que a negativa tem relação com requisitos mínimos para que uma vacina seja aprovada. "Nós não inviabilizamos a vacina, as portas não estão fechadas. As informações solicitadas são os critérios mínimos para aprovação do imunizante. Ainda tem os processos do uso emergencial e de importação, que é passível de recurso", explicou. 


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895