Faces da experiência no Dia das Mães
Três famílias diferentes contam histórias do significado do amor materno
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Na zona Norte, reside Sônia Colares, que enfrentou longas distâncias em busca de tratamento para o câncer da filha. Hoje é voluntária para apoiar outras famílias. A terceira história mostra como uma atleta – Josiane Bica dos Santos – deu uma pausa na carreira para gerar o filho.
As mudanças ao longo de gerações
Nos rostos das mulheres da família Andrade, da zona Sul de Porto Alegre, estão desenhadas as marcas das diferentes gerações. Maria de Lourdes dos Santos Andrade, de 87 anos, é mãe de Mara Trein, de 66 anos, que é mãe de Cassia Trein, de 40, que é mãe de Marina Andrade, de 15, e de Manuela Andrade, de 9. Por ser a mais vivida e ter presenciado o nascimento de três gerações à sua frente, Maria de Lourdes se qualifica a avaliar as mudanças impostas pelo tempo. “As diferenças são enormes ao longo do tempo. Antigamente, as crianças eram mais obedientes, era mais fácil educar.
Bastava o olhar do pai para elas respeitarem. Hoje em dia, elas querem se governar, ganham tudo muito cedo e as coisas perdem a graça com facilidade”, observa. Na opinião da bisavó, o segredo para uma boa educação é a proximidade dos pais e dos seus filhos. “Acho que eu acertei na criação das minhas crianças. Criei sem castigos, com muita paciência, dando conselhos e carinho”, conta. A filha Mara ainda conseguiu a façanha de criar os seis filhos em casa. “Apavora-me hoje ver as mães tão cedo largando seus filhos em creches. Fico sentida de ver que tem que ser assim, porque elas precisam trabalhar. Graças a Deus, eu tive a felicidade de ver os meus acordarem, irem dormir e se sentarem à mesa comigo”, afirma.
Na avaliação de Cassia, os exemplos da mãe e da avó foram muito inspiradores para a educar as duas filhas, Marina e Manuela, que, futuramente, devem vir a ser mães e dar seguimento à árvore genealógica. Marina se orgulha do convívio com tantas mulheres. “As histórias que a bisa nos conta mostram que tudo era bem diferente. Se eu pudesse gostaria de ter vivido na época em que ela era criança”, comenta Marina. Apesar de Maria de Lourdes desconfiar que suas histórias já não cativam as novas gerações, a bisneta é exemplo de que existe um elo muito forte, nutrido por amor, e que vence qualquer distância de tempo.
Força na luta contra doença
As histórias de Sônia Colares, de 48 anos, geralmente têm como pano de fundo um hospital. Não somente por trabalhar nesse espaço, mas por ter vivido momentos dramáticos dentro dele. Há 14 anos, ela recebeu a notícia de que sua filha Thais, com 2 anos e 10 meses, tinha sido diagnosticada com câncer. Começou aí a saga de mãe e filha em busca de tratamento. Residindo na época em Rio Grande, Sônia foi apresentada a Porto Alegre, cidade que daria as condições para a luta contra a leucemia. “Não conhecia nada de Porto Alegre. Tive que me virar. Foi muito difícil”, recorda.
Convivendo em um ambiente de esperança e desesperança, Sônia aprendeu a olhar de maneira afetuosa para as outras mães e crianças que se identificavam com a sua história. Tratou, então, de estender seu carinho a outras famílias e dar suporte quando necessário, em hospitais e no Instituto do Câncer Infantil. “Quando eu comecei a vir a Porto Alegre não tinha noção de nada. Vivi muitos dias em albergues, fiz muitas amizades, via a dificuldade das famílias e tivemos que lidar, muitas vezes, com a notícia da morte de outras crianças”, lembra.
Sônia também tinha que administrar a saudade do outro filho, que ficava sob os cuidados do pai em Rio Grande. Hoje, ela vê que todo o sacrifício fez com que aprendesse muito com a vida. “Temos que dar valor às pessoas, ajudar os outros. Também entendi que a criança convive com a doença de forma diferente que um adulto. Elas não se abatem tanto”, resume. Há oito anos residindo em Porto Alegre, Sônia continua trabalhando e visitando hospitais para estender a mão de mãe a quem necessitar.
Amuleto das competições
Josiane Bica dos Santos, de 30 anos, prova que é possível conciliar a maternidade com o alto desempenho no trabalho. Campeã brasileira e atual recordista no Estado em lançamento de disco, Josiane descobriu que estava grávida em meio a uma competição. “Senti que meu corpo tinha mudado, estava mais pesada, sonolenta. Fiz um teste de farmácia e deu negativo. Quando eu confirmei a gravidez, estava com três meses. Fiquei muito nervosa, porque minha família toda estava em Bagé”, conta a atleta, que reside em Porto Alegre desde 2004.
Bernardo chegou em junho de 2012. Ainda bem pequenininho, passou a acompanhar a mãe nos últimos dois semestres do curso superior. “Ele entrou comigo na formatura, foi muito emocionante”, lembra. Quando ele completou 1 ano, a arremessadora entendeu que era hora de voltar às pistas. Como mãe e atleta de ponta, passou a carregar o menino para as competições, como um amuleto, daqueles mais preciosos. “Já levei ele para Aracaju, São Paulo, Uruguai. Só fiquei longe durante uma competição em Bauru e outra no Uruguai.”
Formada em Educação Física, Josiane atua como personal traine, dedica-se às aulas de pós-graduação, trabalha com arbitragem em competições e treina na Sogipa seis dias por semana. Garante que dá para conciliar tudo. “A minha vida sempre foi bem acelerada e a chegada do Bernardo não fez a minha trajetória mudar tanto assim. Ele é muito compreensivo, se adapta bem”, diz. “Tornar-me mãe foi a melhor coisa. Vejo tudo colorido. Agora eu tenho uma motivação maior. O Bernardo é minha fonte de energia, é a minha força. Tudo tem mais sentido com ele. É um amor incondicional”, afirma a atleta que, há três anos, ganhou o maior dos seus troféus.