Fechamento de hospitais amplia cenário de superlotação em Porto Alegre

Fechamento de hospitais amplia cenário de superlotação em Porto Alegre

Prédios com todo o aparato para os serviços de saúde foram abandonados ou demolidos

Jéssica Mello

Prédios foram abandonados ou demolidos

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Os constantes cenários de superlotação e deficiências nos atendimentos de saúde poderiam ser amenizados se algumas instituições não tivessem fechado as portas na Capital. Importantes hospitais interromperam atendimentos e prédios com todo o aparato para os serviços de saúde foram abandonados ou demolidos. Exemplos dessa situação são os hospitais Ipiranga, Lazzarotto, Maia Filho e o antigo prédio do Hospital Santo Antônio.

O cercamento colorido no quarteirão de mais de 7 mil m das avenidas Ceará e Maranhão e as ruas Ernesto da Fontoura e Paraná, no bairro São Geraldo, esconde um prédio deteriorado, considerado histórico, e que já foi espaço à recuperação da vida de diversas crianças. No local, funcionou o Hospital Santo Antônio, de 1953 até 2002, quando a unidade foi incorporada ao Complexo Santa Casa. A instituição não fechou leitos. No entanto, uma grande estrutura ficou ociosa sem investimentos após a venda. À época o espaço foi comprado pelo Centro Clínico Gaúcho com o objetivo de abrir um hospital próprio. Porém a empresa informou que o local já tem outro proprietário.

Segundo o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes, quando a Santa Casa saiu, o prédio tinha toda a estrutura pronta para atendimento, sendo necessárias pequenas alterações. “Se tivéssemos esses hospitais funcionando a pleno, não haveria tanta fila de espera. A saúde em Porto Alegre seria muito melhor se não tivéssemos perdido esses leitos”, acredita Argollo. De acordo com dados do sindicato, em 24 anos, 30% dos leitos destinados para o atendimento por meio do SUS em Porto Alegre foram fechados e 35% no Rio Grande do Sul.

O Hospital Ipiranga, localizado na rua Vicente da Fontoura, no bairro Santana, fechou em 2001 com seus 140 leitos. Já o Hospital Maia Filho, no bairro Floresta, foi fechado em 2005. A capacidade era de 70 leitos.

Especialidades reduzidas

Recentemente não há registros oficiais de fechamento de instituições na Capital, apenas redução de leitos. Apesar de um aumento de 0,6% do número de leitos entre 2011 e 2015, os espaços destinados ao atendimento do SUS reduziram-se em 5%. Uma das instituições que diminuiu drasticamente foi o Hospital Parque Belém, no bairro Belém Velho.

A principal redução foi para especialidades como a psiquiatria, que passou de 1.016 leitos em 2011 para 945 em 2015. Os blocos cirúrgicos, responsáveis por longas filas de espera, diminuíram 8,6% no total e 7% no SUS, apenas em Porto Alegre.

Da mesma forma, a disponibilidade de vagas de UTI Neonatal apresenta queda de mais de 27% no período de quatro anos. A preocupação é que apenas entre janeiro e outubro do ano passado os espaços reservados para casos mais graves de recém-nascidos diminuíram 12%.

Para o ex-secretário de Saúde Germano Bonow, que também atua na diretoria do Simers, não há dúvidas que a redução de recursos é a responsável pelo fechamento de instituições e de leitos. “Se o percentual do orçamento da união para a saúde de 1992 fosse mantido, teríamos hoje três vezes mais recursos orçamentários”, afirmou Bonow.

Referência em cardiologia

O terreno do conceituado Hospital Lazzarotto, fechado em 1995 após falência, abriga hoje um estacionamento na avenida Assis Brasil, no bairro Passo D’Areia, na zona Norte de Porto Alegre. A instituição era reconhecida pelos procedimentos de alta complexidade e segue na memória dos moradores da região. A capacidade era de 240 leitos e o Lazzaroto chegou a ter mais de 500 profissionais.

Olhar para o estacionamento térreo traz algumas lembranças para Deonísio Baldasso, de 78 anos. No antigo hospital nasceram seus dois filhos de 51 e 49 anos. “Chorei quando foi demolido. Afinal foi ali que meus filhos nasceram e pela proximidade criava-se um vínculo com os médicos”, conta Baldasso, ressaltando a falta que a instituição faz na região.

“O Lazzarotto foi uma lástima. Vinham profissionais de toda a América Latina para fazer residência em Cardiologia porque era referência na área”, recorda o presidente do Simers, Paulo de Argollo Mendes. Para ele, a exposição do problema à população por parte dos profissionais poderia ter evitado essa situação. “As pessoas têm em mente que médicos não podem protestar, mas se isso tivesse sido feito para chamar a atenção da sociedade, todos teriam conhecimento do que estava acontecendo”, defende.

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