Grupo protesta contra demolição da casa onde morou Caio Fernando Abreu em Porto Alegre

Grupo protesta contra demolição da casa onde morou Caio Fernando Abreu em Porto Alegre

Manifestação ocorreu nesta terça-feira, dia posterior à demolição da casa no bairro Menino Deus

Giullia Piaia

Em frente aos escombros, admiradores colocaram faixas, livros e um girassol

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A casa onde o escritor gaúcho Caio Fernando Abreu viveu os dois últimos anos de sua vida foi demolida no fim da tarde de segunda-feira, em Porto Alegre. O início da demolição foi noticiado na última sexta-feira e levou a uma mobilização pela manutenção da estrutura. A Associação Amigos de Caio Fernando Abreu, políticos, ativistas dos diretos LGBT e amigos do escritor se uniram e marcaram um protesto em frente da residência. Porém, a retroescavadeira foi mais rápida que a concentração, que só ocorreu nesta terça-feira, em frente aos escombros da casa.

A casa carregava muitas memórias, não apenas para o escritor, morto em 1996, mas para muitos que o conheceram. “Eu fui amiga do Caio e ele me falava o quanto era importante essa casa para ele. Era para ele um porto seguro”, contou a escritora Lígia Sávio. Ani Homem, vizinha do escritor, manifestou a tristeza em ver a casa destruída. “Para nós foi uma surpresa muito infeliz. Caio, quando passava pela casa da minha mãe, recitava poesias para ela. Ela esperava ele na janela”, disse, emocionada.

Os manifestantes culparam a prefeitura pela demolição e cobraram a proteção ao patrimônio histórico-cultural da cidade. “Eu falei com a prefeitura, pois a informação era de que a casa não estava inventariada, protegida. Sequer se considerou o valor cultural. Conversei também com o Ministério Público e também foi feita uma ação na Justiça”, relata a deputada estadual Sofia Cavedon. A impressão que ficou para os que eram contra a demolição é de que o processo de desmanche foi acelerado após a publicização. “Segunda-feira foi um dia de muita agitação, na própria prefeitura. O gabinete do prefeito e do secretário sabendo. A empresa não tem como não ter ficado sabendo que tinha um movimento contra essa demolição”, opina a deputada.

A demolição foi autorizada em abril deste ano pela Secretaria de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus). Em nota, a pasta informou que a licença de demolição dos endereços Doutor Oscar Bittencourt, números 10 e 12, no bairro Menino Deus, foi expedida de acordo com as regras de licenciamento urbanístico e ambiental da Capital. “Trata-se de uma área particular e não consta na lista de imóveis tombados ou inventariados pelo Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre. A análise da equipe da Secretaria é meramente técnica, seguindo o regramento vigente na Capital”.

De acordo com secretário de Cultura, Gunter Axt, a casa de Caio Fernando Abreu nunca foi protegida, por tombamento ou inventariada, pela prefeitura. “O tombamento pode ser pedido pelo poder público e também o poder público pode ser provocado por entidades ou pessoas. Nós não temos registro de que isso tenha acontecido no que diz respeito a casa. Isso também contribuiu para que não entrasse no radar”, comenta. “Eu acho uma pena que tenha sido demolida. Confesso que, quando eu soube, busquei a postergação desse processo, mas isso não é algo simples de se fazer. O proprietário do imóvel estava no seu direito”, lamentou Axt.

A dona do imóvel, uma dentista, foi procurada pelo Correio do Povo, mas não quis se manifestar.

O movimento pretende, agora, reivindicar uma reparação. “A gente tem que exigir que seja reconstruído aqui um memorial, um espaço que possa marcar a presença do Caio. Isso era viável e nós queríamos fazer antes da demolição”, reclama Cavedon.


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