Hospitais estão preparados para enfrentar aumento de demanda por Covid-19 em Porto Alegre

Hospitais estão preparados para enfrentar aumento de demanda por Covid-19 em Porto Alegre

Em meio a um cenário de incertezas, gestores de hospitais reforçam a importância da vacinação e do uso de máscaras

Felipe Samuel

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O surgimento da variante ômicron do coronavírus e a confirmação da transmissão comunitária em Porto Alegre deixam em alerta os principais hospitais da cidade. Embora a taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva apresenta estabilidade nas últimas semanas, instituições que são referência no tratamento da Covid-19 garantem estar preparadas para um possível aumento de demanda nos próximos meses. Em meio a um cenário de incertezas, gestores de hospitais reforçam a importância da vacinação e do uso de máscaras.

Mesmo com diminuição acentuada das internações por Covid-19 em leitos de terapia intensiva, o gerente executivo de Operações do Hospital Mãe de Deus, Clayton Moraes, explica que a instituição mantém atendimento em todas as unidades de atendimento. "O hospital nunca desmobilizou nenhuma das nossas unidades, reduziu um pouco o tamanho de algumas delas para dimensionar adequadamente, mas em nenhum momento desmobilizou áreas destinadas a pacientes covid-19", afirma.

"Aprendemos bastante durante a pandemia"

A experiência adquirida ao longo dos 21 meses de enfrentamento à pandemia deixou lições aos profissionais da saúde. Durante o pico das internações, em março e abril, o Hospital Mãe de Deus praticamente dobrou o número de leitos, passando dos atuais 60 para 115. "Aprendemos bastante nesse período, principalmente no que diz respeito à capacidade de mobilização. Estamos bem preparados", destaca. Para impedir que pacientes com suspeita de síndromes respiratórias contaminem pessoas que apresentam outras patologias, o hospital mantém atendimento segmentado desses grupos na emergência. 

Moraes garante que o hospital mantém as operações sob controle e tem capacidade de ampliar leitos Covid-19, tanto de UTI quanto de internações e emergência. "Se tiver uma nova onda (de Covid-19), estamos preparados para o enfrentamento no que diz respeito a recursos humanos, material e de equipamentos", reforça. Caso a disseminação da nova variante Ômicron do coronavírus apresente crescimento e impacte no aumento de casos confirmados da doença, Moraes afirma que o estoque atual de medicamentos, testes e equipamentos é suficiente para atender a demanda.

"Pelo que a gente está vendo nos outros países, a ômicron não tem a mesma gravidade (das variantes anteriores), até pelo esquema vacinal do Brasil, que está conseguindo bons números, tanto da primeira quanto da segunda dose e a dose de reforço", observa. Apesar do número de internações por Covid-19 se manter em queda, com as festas de fim de ano e reuniões de famílias e amigos, a busca por atendimento na emergência deve registrar crescimento no começo do ano.

"Nos últimos dias, houve aumento de 18% nos atendimentos na Área Azul (emergência) de pacientes que apresentam sintomas de síndrome gripal leve. Não é um aumento expressivo, pode ser gripe. Em contrapartida, há baixa taxa de positividade para Covid-19", destaca. Desde o início da pandemia, a instituição conta com um comitê de enfrentamento à Covid-19.

"Maior dificuldade é expandir o número de leitos indefinidamente"

Assessora da Diretoria Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), a epidemiologista Jeruza Lavanholi Neyeloff afirma que o grupo de enfrentamento à pandemia da instituição fez algumas reuniões projetando quais ações adotar 'de imediato', num primeiro momento, caso o número de internações apresente crescimento. "A gente vem estudando o que é possível, o que a gente estaria preparado para fazer", frisa. Apesar de o Clínicas contar com o segundo maior número de leitos de UTI da Capital, Jeruza ressalta que a maior dificuldade é para expandir o número de leitos de CTI Covid-19 'indefinidamente'.

"Já tivemos um total de 135 leitos críticos plenamente dedicados ao atendimento Covid. Nesse momento estamos trabalhando com 20 leitos plenamente operacionais. Os outros leitos permanecem prontos para serem abertos conforme disponibilidade de pessoal e necessidade", observa. Conforme Jeruza, os leitos a mais seguem cadastrados junto à Secretaria Municipal de Saúde (SMS). "A maior limitação é pessoal, de intensivistas, para que a gente consiga dar conta dessa demanda e de todas as outras demandas de pacientes críticos, como infartos, AVCs, cirurgias", avalia.

Clínicas está preparado para ampliar em um terço a capacidade operacional

No cenário atual, ela garante que os 20 leitos destinados a pacientes Covid-19 são suficientes. Na quarta-feira, apenas 9 estavam ocupados. "Tem uma folga adequada nesse atendimento. Mas estamos prontos para reverter para um aumento de até 30 leitos de imediato. Temos profissionais de sobreaviso, se necessário, para rapidamente aumentar em um terço a capacidade operacional hoje. E depois disso precisamos acompanhar o cenário externo", afirma. Outro desafio, caso se confirme crescimento das hospitalizações, é conciliar atendimento de pacientes Covid-19 com pessoas com outras patologias.

Por conta disso, o hospital já avalia quanto tem de recursos para os próximos meses. "É difícil a gente conseguir manter uma operação Covid-19 em paralelo com alto atendimento a outras condições de saúde que a população demanda em função de uma limitação de pessoas. É muito difícil conseguir manter muitos leitos de CTI Covid-19 e todos os leitos de CTIs normais que a instituição também tem", acrescenta. Ela observa o cenário internacional para ter algum parâmetro. "A gente tem taxas de vacinação diferentes, taxas de infecções prévia por variantes diferentes. É difícil prever como vai ser o nosso cenário, e o que a gente tem feito é tentar se preparar para responder ao que se apresentar", salienta.

A epidemiologista lembra que no início do ano as projeções apontavam para possível alta das contaminações e internações em janeiro. "A expectativa era de que subisse já na segunda quinzena de janeiro, e isso não aconteceu, aconteceu lá em fevereiro. A subida de casos, em Porto Alegre, esteve muito mais relacionada à retomada do trabalho depois de um período de férias do que às férias em si", avalia. A experiência, no entanto, serviu como aprendizado. "Se tiver um cenário onde a gente tiver mais casos, mas não necessariamente casos graves, a gente sabe que precisa ter o diagnóstico rápido e estar preparado para identificar pacientes internados por outros motivos que possam estar contaminados", explica.


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