Hospital de Clínicas pode utilizar plasma de paciente recuperado da Covid-19 em tratamento

Hospital de Clínicas pode utilizar plasma de paciente recuperado da Covid-19 em tratamento

Pesquisa está em fase de ajustes finais

Jessica Hübler

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Um novo tratamento está sendo desenvolvido e pode começar a ser utilizado em breve por pacientes com a Covid-19 em Porto Alegre. Trata-se do uso de plasma do sangue de pacientes recuperados da doença. 

De acordo com o chefe do serviço de Hemoterapia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e coordenador da pesquisa Plasma Convalescente no tratamento de pacientes com Covid-19, Leo Sekine, a pesquisa foi aprovada na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e está em fase de ajustes finais. Os trabalhos devem iniciar nas próximas semanas.

Conforme Sekine, uma vez que o paciente tem a recuperação dos sintomas e seja considerado curado, ele desenvolve anticorpos que estão presentes no sangue, mais especificamente no plasma, e esse plasma então seria coletado e, a partir desse doador, seria infundido nos pacientes que tivessem manifestações graves do novo coronavírus.

“Assim, a presença desses anticorpos poderia inibir a magnitude da infecção e o paciente poderia, eventualmente, ter uma manifestação clínica menos grave e até mesmo redução de outras morbidades mais graves como morte ou tempo de ventilação mecânica”, explicou.

O objetivo do projeto, segundo Sekine, é essencialmente esse. “É uma pesquisa, vamos estar experimentando para ver qual o efeito, se é benéfico ou mesmo se é prejudicial, realmente não sabemos qual será o resultado. É um trabalho en que se tem a intenção de ter um grupo controlado: vai haver um grupo que vai receber o plasma paralelamente a um grupo de pacientes que vai receber um tratamento convencional, para que efetivamente se consiga fazer essa comparação entre os resultados de um grupo e outro para entender o benefício dessa terapia”, destacou.

Experiências animadoras 

Sekine ainda lembrou que existem experiências anteriores animadoras com uso de plasma convalescente no tratamento de outras doenças virais, como foi o caso das epidemias de SARS e Ebola. “Também se utilizou esse tipo de terapia, pelo menos a experiência foi positiva com outros tipos de infecções virais para as quais existia uma escassez de tratamentos possíveis, é o que está nos levando a tentar isso para a Covid-19 também, é uma via de contribuição no arsenal terapêutico”, destacou. 

Após a aprovação da pesquisa na Conep, o grupo ainda precisa resolver questões de financiamento e realizar ajustes internos para efetivamente começar a recrutar pessoas, coletar plasma e, na sequência, começar a selecionar pacientes para receber o tratamento.

A coleta do plasma, segundo Sekine, é simples e leva em torno de 1h. É uma forma específica de coleta, através da doação por aférese, pela qual é possível retirar apenas um dos componentes do sangue total com o auxílio de um equipamento que faz essa separação dos diferentes componentes. 

“É realizada uma punção no braço como a doação convencional, demora um pouco mais, o equipamento faz a separação de uma parte específica do sangue e os demais componentes voltam para o doador. É um procedimento bem simples e o plasma fica congelado aguardando um paciente para ser arrolado para o estudo”, enfatizou, lembrando que também será preciso analisar a compatibilidade entre doador e paciente selecionado para receber o tratamento. O ideal é que ambos tenham o mesmo grupo sanguíneo.


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