"Imperador" da moda, Karl Lagerfeld morre aos 85 anos

"Imperador" da moda, Karl Lagerfeld morre aos 85 anos

Estilista era diretor criativo da Chanel e da Fendi e tinha passagens pela Chloe e Balmain

Correio do Povo

Karl Lagerfeld nasceu na Alemanha mas se mudou para Paris durante a adolescência

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O mundo da moda está de luto. Diretor criativo da Chanel e da Fendi, Karl Lagerfeld morreu na manhã desta terça-feira no Hospital Americano de Paris, onde ele havia sido internado no dia anterior, conforme a revista Madame Figaro. Ele tinha 85 anos e não tinha filhos. Deixa apenas sua gata Choupette, da raça Sagrado da Birmânia, uma estrela assim como o dono. O estado de saúde do estilista preocupava pessoas do meio: em 22 de janeiro, pela primeira vez em sua carreira, o "Imperador", como era conhecido, não apareceu no final do desfile de apresentação da coleção primavera-verão de 2019 da Chanel. As causas de sua morte ainda não foram divulgadas.

Até mesmo quem não é do ramo pode reconhêce-lo em fotografias por causa de seu traje característico: um terno preto, luvas sem dedos, óculos escuros e o cabelo branco preso em um rabo de cavalo. Embora ele tenha passado grande parte de sua vida aos olhos do público, permaneceu uma figura em grande parte ilusória. Mesmo enquanto cortejava os holofotes, fez um esforço aparentemente deliberado para esconder o que havia por trás de sua persona. "Eu sou como uma caricatura de mim mesmo, e eu gosto disso", disse em uma entrevista à Vogue britânica. "É como uma máscara. E, para mim, o Carnaval de Veneza dura o ano todo."

Lagerfeld filmou ele mesmo as campanhas publicitárias da Chanel e da gravadora que possuía e colecionou livros de arte. Também tinha uma enorme biblioteca e uma livraria, além de sua própria editora. Foi um linguista impressionante, alternando entre francês, inglês, italiano e seu alemão nativo nas entrevistas. Durante sua trajetória profissional, deu vida nova à Chanel nos anos 80, criou um logotipo para a Fendi e as primeiras linhas de "pronto para vestir" para a Chloe. Virginie Viard, diretora do estúdio criativo da Chanel, deve ser sua sucessora na casa franecesa.

Trajetória

Filho de um empresário alemão e de uma vendedora de lingeries, ele nasceu em 10 de setembro de 1933, em Hamburgo. Trocou sua cidade natal por Paris no meio da adolescência para terminar o ensino médio no Lycée Montaigne, no 6º arrondissement. Na Capital francesa, dedicou sua vida à moda. Tudo começou com amor à primeira vista. Em 13 de dezembro de 1949, acompanhou sua mãe a um desfile de moda da casa Dior. Desde aquele dia, como já revelara em entrevistas, ele já desenhava suas roupas.

Cinco anos depois, ele teve sua primeira consagração ao ganhar o primeiro prêmio na competição do Secretariado Internacional de Lã, junto a Yves Saint-Laurent. "Yves, eu o conhecia antes de qualquer outra pessoa. Em 1954, ganhamos o primeiro prêmio do Secretariado Internacional de Lã. Somos muito amigos há vinte anos. Era o menino mais furioso da terra", contou nas páginas da revista Paris Match, em Maio de 2013. No júri, estava ninguém menos que Pierre Balmain, que recrutou Lagerfeld para trabalhar com ele entre 1955 e 1962. Três anos depois, trabalhou para a Fendi e criou o logo emblemático da marca italiana.

Reinado na Chanel

Em 1985, o alemão ingressaria na grife que o consagraria como o "Imperador da Moda". Naquele ano, o CEO da Chanel, Alain Wertheimer, bateu à sua porta. Desde a morte de Coco Chanel, fundadora da empresa, a casa continuava a entrar em colapso por todos os lados. Lagerfeld foi hesitante no início. "Naquela época, eu já tinha uma boa reputação, eu tinha Fendi e Chloe no meu currículo. Foi avisado: 'não trabalhe com a Chanel, é horrível'. No final de sua vida, Coco disse que minissaias e jeans eram ignóbeis!", recordou em uma entrevista à publicação Madame Figaro.

Após muita insistência, aceitou o trabalho como um desafio. E para isso, Lagerfeld usou esta receita que aprovou há anos: "quando cheguei, Coco havia morrido há dez anos, e todos viviam em respeito pela sua memória. Se você quer matar uma casa, mostre-lhe respeito!". Para sua coleção de estreia para a casa, injetou uma dose de racismo, enviando um número de chiffon azul translúcido que provocou manchetes escandalizadas. Dotado de uma energia colossal, ele assinou mais de uma dúzia de coleções por ano. Movendo-se facilmente de um estilo outro, reforçou o DNA da Chanel e a lançou ao posto de marca indestrutível.

"Eu desenho como eu respiro. Nós não respiramos por ordem. Acontece assim", falara sobre sobre seu processo criativo no livro "O Mundo Segundo Karl", de Jean Christophe Napias e Sandrine Gulbenkian. Seus desfiles, supostamente custando mais de um milhão de dólares por temporada, iam de espaçonaves a praias. Apaixonado por fotografias, dirigiu vários comerciais e curtas-metragens para a marca de moda, incluindo "The Return", com Rupert Everett (2013), "Once e Forver", com Kristen Stewart (2015) e "Reencarnation" com Cara Delevinge e Pharrell Williams (2014). Ele recebeu um agradecimento especial em "Blue Jasmine" por criar as jaquetas da Chanel usadas por Cate Blanchett.

Lagerfeld era franco sobre sua homossexualidade - ele disse uma vez que anunciou isso para seus pais aos 13 anos -, mas manteve sua vida privada em sigilo. Seguindo sua conhecida relação com um aristocrata francês que morreu de AIDS em 1989, insistiu que valorizava sua solidão acima de tudo. "Eu odeio quando as pessoas dizem que eu sou solitário. Sim, eu sou solitário no sentido de uma pedra de Cartier", disse ao The New York Times em uma entrevista. "Eu tenho que ficar sozinho para fazer o que faço. Eu gosto de ficar sozinho. Sou feliz em estar com as pessoas, mas lamento dizer que gosto de ficar sozinho, porque há muito o que fazer, ler, pensar".


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