Infectologista alerta para perigo de estabilização em níveis altos

Infectologista alerta para perigo de estabilização em níveis altos

Apesar de não haver nova piora de internações desde flexibilizações, especialista adverte que é preciso manter cautela

Jessica Hubler

Infectologista pede cautela e manutenção dos cuidados com contágio de Covid-19

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A estabilização das internações nos leitos de UTI dos casos graves da Covid-19 pode estar “mascarando” o efeito das liberações em Porto Alegre. Conforme o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), Fernando Spilki, há uma estabilidade “em um nível bastante alto” e isso pode estar dificultando a análise dos reflexos da retomada das atividades econômicas na Capital. “Nas duas últimas semanas sem dúvida não houve um aumento expressivo, mas acontece que o número de casos já estava em um patamar bas tante elevado e isso é ruim, pois demonstra que o vírus tende a circular em níveis altos, o que pode trazer efeitos colaterais”, declara.

Spilki admite que existe uma preocupação de que aconteça um aumento da intensidade da contaminação e, consequentemente, uma piora do quadro da Covid-19 em Porto Alegre, a partir de um momento em que os leitos de Unidade de Terapia Intensiva estão com uma taxa próxima dos 90% de ocupação. “A corda já está esticada, temos um número de casos razoável e se tivermos um aumento, isso pode ser um problema para o sistema de saúde. Além disso, é preciso lembrar que este sistema não é feito somente de infraestrutura, mas pelo trabalho das pessoas, seja na linha de frente, nos hospitais ou na retaguarda, nos laboratórios, se continuarmos operando em um nível muito alto, ocorre um processo de cansaço e de exaustão que precisa ser levado em conta”, enfatiza.

Apesar do receio dos especialistas quanto a situação da pandemia na Capital, Spilki explica que desde 6 de agosto, quando iniciou a retomada das atividades econômicas na cidade, não houve um incremento significativo no número de casos. “Mas as pessoas precisam ter consciência que estamos operando ainda em níveis altos e que, mesmo tendo uma estabilização nas UTIs, os hospitais estão operando no limite da capacidade. Vamos ver agora, nas próximas semanas com temperaturas mais elevadas, o que deve acontecer”, destaca.

A expectativa, conforme Spilki, é que entre o final de agosto e a metade de setembro possamos observar o começo de uma redução nos casos e nas internações, o que vinha sendo previsto para o Estado. Só que, na contramão, ele reforça que a população precisa lembrar que as flexibilizações não significam “vida normal”. "Tivemos situações preocupantes no final de semana, movimento na Serra, passeios nos parques. A flexibilização não significa vida normal e nem obrigatoriedade de as pessoas saírem para a rua. A atitude correta deveria continuar sendo: preciso comprar alguma coisa, as lojas estão disponíveis e vou para fazer isso. Não é uma abertura para que seja para passear e fazer um momento de lazer”, assinala. 

Negacionismo fará problema perdurar 

Essas atitudes, segundo Spilki, provocam aglomerações e um possível aumento da transmissão do vírus. “Independente das liberações, a atitude das pessoas e dos grupos é algo muito importante. Se mantivermos a cultura negacionista, ou seja, teve flexibilização e retomamos a normalidade, o problema vai perdurar”, enfatiza. De acordo com ele, ainda não registramos uma queda no número de casos ou casos graves (internações). “De junho pra cá, a gente só tem uma subida. Ela agora está menos íngreme, por isso falamos em estabilização, principalmente em casos graves, que são as internações”, explica.

Mesmo com o retorno do funcionamento das atividades econômicas, Spilki ressalta que a população precisa seguir acessando locais públicos por tempo reduzido para aquilo que for estritamente necessário. “Não é porque abriu que agora posso mudar todo espectro das minhas atitudes, todos os cuidados continuam necessários, evitar aglomerações, usar máscara, manter a etiqueta respiratória e sair somente para o essencial. Ainda não há espaço, nesse momento, para passeios sem significado. Não é porque estamos cansados de ficar em casa que a pandemia acabou, todos partilhamos desse esgotamento, mas ainda é necessário um cuidado individual muito grande”, declara.


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