Irmã de soldado de Porto Alegre mantém esperança de encontrá-lo vivo na Ucrânia

Irmã de soldado de Porto Alegre mantém esperança de encontrá-lo vivo na Ucrânia

André Luiz Hack Bahi está desaparecido e companheiros dizem que ele estaria morto

Felipe Faleiro

André Hack tem 43 anos e luta como voluntário na Ucrânia

publicidade

André Luiz Hack Bahi, 43 anos, está desaparecido na Ucrânia. Não é a primeira vez que o gaúcho, natural de Porto Alegre, que integra as forças voluntárias de defesa ucranianas contra a Rússia, desaparece no país em meio à guerra sem deixar vestígios. A suposta morte dele teria sido informada por um colega de combate, André Kirvaitis, que recebeu a notícia de um terceiro combatente de Portugal. O português, por sua vez, estaria com Hack no momento em que este teria sido atingido por um disparo, e disse ainda que não pôde voltar para socorrê-lo.

A família tentou contato com o europeu, mas foi informada de que, como a comunicação por Internet era ruim no local de batalha, isto não seria possível. “A gente ainda tem esperança. Outra vez, ele ficou quase dez dias desaparecido, e foi bem assustador para nós”, conta a auxiliar de loja Tatiane Hack, uma das três irmãs de André, e que mora em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana, onde o combatente também morou. 

“Desde pequeno, ele sempre sonhou em ser o ‘Comandos em Ação’, sempre gostou do front de batalha”, diz ela, com a qual André não faz contato desde 18 de maio. André, que tem quatro filhos confirmados pela irmã, também morou no Ceará e sua paixão o fez integrar a Legião Estrangeira, do exército francês. Na Ucrânia, para onde se voluntariou a lutar, esteve em Kiev, e por último se deslocou a Severodonetsk, uma das cidades mais recentemente atacadas pelas forças russas. 

“Ele tinha esta vontade de estar lá ajudando. Tantas vezes brigávamos no grupo da família, e ele nos xingava, dizendo que se continuássemos pedindo para ele voltar, ele sairia do grupo, porque era o desejo dele. Ele adorava, amava o que estava fazendo”, relata a irmã. O combatente pouco fala com a família. “Ele viu muita tristeza, muito sofrimento humano, de animais, tudo. Mas acredito que ele saberia de sair bem de uma situação de conflito como esta. É isto que não nos faz aceitar a morte dele. Pode ser que haja alguma falha de comunicação”, diz Tatiane. 

Os familiares estão sem quaisquer notícias, e a embaixada tampouco fornece informações a respeito da situação de André na Ucrânia. “Nos últimos tempos, ele dizia que estava horrível lá. Ele viu o que acontecia com as pessoas, e isto era o que dava mais força dele continuar até o fim”. De acordo com Tatiane, a família foi informada por mensagem de que, no momento de seu suposto falecimento, ele teria salvo um companheiro e retornado para salvar outro. 

“Quando viram que estavam vindo muitos tiros, muitas bombas, mísseis, começaram a correr para se salvar. E os que foram sendo atingidos ficaram para trás. Aí nos perguntamos: onde foi o tiro que ele levou? Será que foi fatal para deixar ele sozinho? Ou foi tão certeiro que o outro rapaz não teve o que fazer, e correu para se salvar?”, questiona ela. Em resposta às constantes preocupações dos familiares, o irmão de Tatiane chegou a dizer que, “se morresse, morreria feliz”. “Que não era para sofrermos, era para seguirmos nossa vida, porque ele estava fazendo o que queria”, relata ela.

Kirvaitis publicou diversas manifestações de carinho a Hack. Disse que o gaúcho chegou a salvar sua vida em uma batalha em Irpin, cidade ao lado da capital Kiev, e o chamou de “meu irmão e um herói”, e afirmou ainda que “mesmo nos piores momentos a gente conseguia sorrir”. Disse também que “você cumpriu sua missão com honra”.

Questionado pelo Correio do Povo, o Ministério das Relações Exteriores afirmou, que não possui, até o momento, confirmação sobre eventual falecimento de cidadão brasileiro em território ucraniano em decorrência do conflito naquele país. Segundo o Itamaraty, a Embaixada do Brasil em Kiev segue buscando mais informações sobre o caso e permanecerá à disposição para prestar a assistência cabível, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local.

"Assim como tem feito desde o começo do conflito, o Itamaraty continua a desaconselhar enfaticamente deslocamentos de brasileiros à Ucrânia, enquanto não houver condições de segurança suficientes no país", afirmou, em nota, o Ministério. "Ressalte-se que, em observância ao direito à privacidade e ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, mais informações poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos ou de seus familiares diretos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros."


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895