Levantamento indica que RS possui baixo nível de transparência no combate ao coronavírus

Levantamento indica que RS possui baixo nível de transparência no combate ao coronavírus

Divulgação das informações sobre o avanço da Covid-19 é insuficiente em 90% dos estados

Jonathas Costa

Governo do Estado mantém painel digital com atualização dos dados, mas informações não possuem detalhamento

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Um levantamento realizado pela Open Knowledge Brasil (OKBR), organização que atua na área de transparência e abertura de dados públicos, indica que 90% dos estados, incluindo o governo federal, ainda não publicam dados que permitam acompanhar em detalhes a disseminação da pandemia de Covid-19 pelo país.

É o caso do Rio Grande do Sul, que alcançou a pontuação 36 de um total de 100, pelos critérios da avaliação. O desempenho é considerado baixo, indicando que ainda falta transparência por parte do governo na divulgação dos dados da doença no Estado.

No dia 26 de março a Secretaria Estadual de Saúde lançou um mapa digital que reúne as atualizações diárias sobre o contágio do novo coronavírus no Rio Grande do Sul. A ferramenta apresenta a localização e a quantidade de municípios com casos confirmados e óbitos, além de gráficos com o histórico dos registros positivos para a Covid-19, o sexo dos pacientes e faixa etária.

A ausência de detalhamento destas informações, contudo, é apontada como um fator que minimiza o grau de transparência do Estado no combate à pandemia. Pernambuco, por exemplo, apresentou a melhor pontuação no levantamento, 81 de 100, sendo a única unidade da federação a obter um nível alto de transparência. 

“Diferentemente de Pernambuco, o estado do Rio Grande do Sul ainda não está divulgando dados importantes como condição de hospitalização ou isolamento dos casos confirmados, nem as doenças preexistentes”, avalia Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da OKBR. Segundo ela, outro indicador importante neste momento para compreender a pandemia é a ocorrência de outras doenças respiratórias, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave, já que não há testes suficientes para dimensionar a real incidência da doença. Estes indicadores também não estão no painel elaborado pela Secretaria de Saúde do Estado.  

Outros exemplos

Os segundo e terceiro lugares do ranking são preenchidos pelo Ceará (69 pontos) e Rio de Janeiro (64), respectivamente. Ambos os estados apresentaram bom nível de informações, embora ainda haja pontos importantes a melhorar. No caso de Pernambuco, a principal diferença entre os demais estados é que além das informações detalhadas, a divulgação ocorre em formato aberto, em uma base de dados única.

Na ponta de baixo, onze estados ainda precisam avançar na publicação de dados e foram considerados “opacos” com relação à Covid-19, o nível dessa categoria vai de 0 a 19 pontos. Chama a atenção a ausência de informações sobre testes disponíveis nos estados: na data de coleta das informações, apenas um dos 28 entes avaliados informava esse dado. 

Outro dado relevante, ainda ausente, é a taxa de ocupação de leitos: nenhum estado conta quantos leitos (sobretudo de UTIs) estão ocupados, em relação ao total disponível. “Na última semana, alguns estados evoluíram muito rápido”, pondera Fernanda. Ela cita especialmente Maranhão, Tocantins e Rio de Janeiro, que nos últimos dias passaram a fornecer informações detalhadas e em formatos abertos. “É preciso reconhecer os esforços desses gestores, pois esses dados são fundamentais para que pesquisadores e jornalistas possam ajudar os governos a monitorar a crise e mesmo contribuir com soluções", diz.

“Esta avaliação busca apoiar os estados e o governo federal na melhoria da transparência”, explica Fernanda. “Como o Ministério da Saúde publica dados muito agregados e os estados não observam os mesmos parâmetros de publicação, há muita variação entre os estados. Isso pode prejudicar a comparação e dificultar o planejamento a infraestrutura de saúde necessária para lidar com a crise", conclui.

Em seus boletins epidemiológicos, os estados também alertaram para as dificuldades que estão enfrentando desde o dia 27 de março, quando o Ministério da Saúde mudou o sistema nacional para registro de notificações. Rondônia, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Maranhão, por exemplo, afirmam que não conseguem obter dados detalhados por município nesta fase de transição.

A avaliação foi feita sobre as informações disponíveis na manhã de 2 de abril. Para refletir as melhorias feitas pelos estados, o índice será atualizado semanalmente.

Melhorias serão implementadas

Até a próxima semana a Secretaria Estadual de Saúde deve implementar melhorias no portal da Covid-19 no RS. A informação foi confirmada pela assessoria de comunicação social da pasta. Segundo o órgão, serão incluídos o número de leitos ocupados por pacientes infectados pelo novo coronavírus no Estado, bem como o número de leitos existentes, tanto de UTIs quanto leitos clínicos em todo o território gaúcho.

"É preciso ressaltar que diariamente são informados o número atualizado de pacientes com resultado positivo, no Estado, e por município, perfil etário e por sexo, além de um acompanhamento diário da data em que o exame do paciente positivo foi coletado", destaca a pasta, em nota.


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