Máscaras transparentes não protegem contra o coronavírus

Máscaras transparentes não protegem contra o coronavírus

Batizada por vendedores como M85, modelo não tem qualquer certificação de órgão de vigilância sanitaria

Gabriel Guedes

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Desde que foi recomendado e exigido o uso de máscaras como uma das medidas de prevenção do contágio da Covid-19, um dos principais argumentos dos que relutam em utilizá-las é que elas prejudicam a comunicação e o relacionamento com as pessoas, ao bloquear as expressões faciais, e restringe a liberdade de respirar. Para atender a este público, surgiu um invento que promete devolver o sorriso às pessoas, além da liberdade: a máscara transparente, batizada por vendedores como M85. Um produto que não barra a expressão facial mas também não impede a transmissão do SARS-CoV-2.

Apesar de ser feita em policarbonato, um material rígido que lembra uma peça de acrílico, a falta de um filtro e o encaixe imperfeito aos rostos são os pontos que fragilizam a proteção. “Parece tão fraco o argumento pró-uso. Elas não são recomendadas para Covid. Não possuem filtro, o que a faz funcionar de forma ineficiente. Não tem encaixe tão bom como de outras máscaras. Elas não devem ser usadas para prevenir Covid. Quem compra estará sujeito a não ficar protegido. É como se não usasse”, alerta o professor de infectologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Alessandro Pasqualotto.

O médico assegura que as máscaras de pano e cirúrgicas seguem sendo eficientes e são as recomendadas. “Existe um estudo do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, dos EUA), que duas máscaras sejam mais eficientes que uma. Mas apesar de ser mais eficiente na filtração, cria dificuldade de respirar, o que pode afastar as pessoas do uso da máscara”, acredita. "O covid tem que ser transmitido por saliva. Uma máscara é suficiente desde que respeitado o distanciamento e a ventilação”, acrescenta.

O Diretor-presidente do Instituto Humanus para pessoas com deficiência, Rodolfo Sonnewend, esclarece que também possui um modelo de máscara transparente registrada com a marca “Transparent Mask” e informa que no diferencial das demais alternativas apresentadas no mercado e na matéria, no conceito de máscaras transparentes, que o seu modelo é confeccionado em material PET PCR cristal, com grau alimentício e possui em suas válvulas elementos filtrantes com aspersões; contendo carvão ativado e íons de prata que estão embasados em testes laboratoriais e no laudo que atesta a sua eficácia de 99,99% tanto na entrada, circulação e saída de ar; facilitando a troca de gás carbônico por oxigênio, atestada pelo laboratório de virologia, Departamento de Genética, Evolução e Bioagentes, do Instituto de Biologia da UNICAMP. 

A máscara do Instituto Humanus ajusta-se completamente ao rosto, possui vários tamanhos, foi pensada e desenvolvida de forma ergonômica e projeta para atender uma população com deficiência auditiva, com baixa ou nenhuma audição, com o propósito de facilitar a leitura labial e a visualização da leitura fácil com ou sem a linguagem de libras. Um público que, só no Brasil, representa mais de 10,7milhões de pessoas. Em nível global, são cerca de 466 milhões de pessoas surdas que, segundo a OMS, pode aumentar para 900 milhões em 2050.

O Instituto Humanus ainda destacou que mais da metade dos deficientes auditivos são pessoas entre 12 e 35 anos que, durante esse período de pandemia e combate ao coronavírus, ficaram impossibilitados de participar do cotidiano da sociedade por conta da obstrução na eficiência da comunicação dificultadas por conta das máscaras de diversos tipos de matérias em tecido ou TNT (tecido não tecido) que impedem a visualização facial e leitura labial.

Com a circulação da variante P.1 do SARS-CoV-2, há quem esteja buscando reforço na proteção com um equipamento de proteção individual (EPI) profissional, como as máscaras padrão N95 e PFF2. Entretanto, apesar da maior proteção, já que estas máscaras retêm até 95% de partículas, Pasqualotto diz que a alta procura por estes produtos pode prejudicar o fornecimento para os hospitais protegerem suas equipes de linha de frente. “Produtos hospitalares devem ser usados em ambiente hospitalar, sob risco de faltar para as instituições. Além disso, as N95 ou PFF2 são mais pesadas e muito, muito mais caras. Devem ser usadas em ambientes de mais risco”, salienta.

O uso da máscara deve ser acompanhado de outras medidas preventivas, especialmente o distanciamento. Importante não confundir a máscara transparente com o “face shield”, aquele escudo facial, transparente, utilizado em conjunto com a máscara. “O vírus tem que ser transmitido por saliva. Uma máscara é suficiente desde que respeitado o distanciamento e a ventilação. Por isso a importância do distanciamento social. A covid se dá nas casas, escritórios e restaurantes. Se estou distanciado das pessoas, isso é mais que suficiente para eu me proteger usando máscara”, conclui.


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