Medicamentos para tratamento da Covid-19 seguem em fase de testes em Porto Alegre

Medicamentos para tratamento da Covid-19 seguem em fase de testes em Porto Alegre

Estudos com hidroxicloroquina não mostraram eficácia na prevenção da doença

Jessica Hübler

Estudos com hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 demonstraram que o medicamento não é eficaz na prevenção

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Os estudos com hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, conforme o chefe do serviço de infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz, já demonstraram que o medicamento não é eficaz na prevenção, nem nos casos leves, moderados ou graves.

Além disso, conforme resultados da pesquisa Coalizão I, após o quinto dia da apresentação dos sintomas, também não funciona. No entendimento de Sprinz, é provável que não ocorram novos estudos com a hidroxicloroquina, mas outros medicamentos seguem sendo testados. 

“A gente mostrou nesse estudo que, em casos leves e moderados, tanto fez usar a hidroxicloroquina ou não usar, portanto não é indicado para casos após seu quinto ou sexto dia, isso que o resultado demonstra de forma clara”, reitera.

As pessoas foram recrutadas até cinco dias (média de sete dias) após o início dos sinais da infecção e o remédio não mostrou benefícios. “Estamos testando medicamentos que possam melhorar ou diminuir as chances de a pessoa fazer uma reação inflamatória grave”, ressalta. 

Medicação que não faça mal 

A intenção com os diversos testes que estão em andamento, de acordo com Sprinz, é chegar a uma medicação que não faça mal e que possa melhorar o desfecho do paciente. “Queremos evitar que a pessoa complique, que seja possível administrar poucas doses, em tempo curto e de forma ambulatorial”, assinala. 

Ainda devem ser testados remédios antivirais específicos ou anticorpos monoclonais, que são utilizados no tratamento de outras doenças e também medicamentos que estão em fase de desenvolvimento, para evitar que os casos da Covid-19 evoluam para quadros graves. 

Até o momento não há informação sobre quais seriam os mais eficazes. “Existem medicamentos que vamos testar que não se sabe muito sobre eles ainda mas que, em laboratório, eles funcionam”, comenta. Primeiro os remédios são testados em animais e muitos deles, segundo Sprinz, se mostraram seguros nessas fases. Depois iniciam os testes em humanos.

Pelo menos seis medicamentos ainda devem passar por fases de testes no Hospital de Clínicas mas, segundo Sprinz, o ideal é não divulgar quais são. “Antes de qualquer coisa é necessário ter resultados de estudos bem conduzidos”, enfatiza. 

Ensaio sobre remdesivir

A professora do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Ana Paula Herrmann, afirma que, até o momento, há um ensaio clínico publicado sobre o remdesivir, que foi financiado pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos Estados Unidos, demonstrando que ele teria um efeito benéfico, mas pequeno. “Então não é uma cura milagrosa”, define.

Segundo ela, é um antiviral desenvolvido inicialmente para tratar o ebola, mas que nunca foi aprovado para este fim. “Foi tentado no contexto da Covid-19, funcionou, mas levemente”, reitera. 

Além disso, há resultados de uma pesquisa da Inglaterra sobre o uso da dexametasona, corticosteróide usado para aliviar inflamações, em pacientes hospitalizados, em estado grave, que mostrou é que existe um benefício, uma diminuição da mortalidade, mas ainda seria algo pequeno.

“O benefício maior seria maior para pacientes que já estão em fase inflamatória avançada, que estão em ventilação mecânica por exemplo. E alguns dados sugerem que se ele for usado em pacientes moderados, pode inclusive piorar o quadro, tem que ser algo muito bem avaliado. Não é algo que está atacando o vírus, mas está melhorando o manejo do paciente”, reforça. 

Em relação a outros antivirais, Ana Paula comenta que não há novas publicações e que a probabilidade de que tenhamos um antiviral que seja razoavelmente eficaz, é baixa.

“Qualquer antiviral, para ter alguma eficácia, teria que ser usado bem no início do tratamento”, complementa, lembrando que há estudos também sobre o uso do plasma convalescente e de anticorpos monoclonais, mas ainda estão em fases iniciais. “Em termos de farmacologia não há nada com eficácia totalmente comprovada”, enfatiza, lembrando que há diversos ensaios clínicos em andamento, inclusive coordenados pela Organização Mundial da Saúde. 

“Alguns resultados devem ser divulgados em breve, incluindo estudos sobre Lopinavir e Ritonavir, usados no coquetel para tratamento da AIDS, portanto existem algumas possibilidades ainda, mas não há nenhum resultado preliminar que possa indicar algo que venha a ser de fato uma mudança de jogo”, sinaliza.

Conforme Ana Paula, a maioria das pessoas que contrai a doença vai se curar espontaneamente, então a busca pelos medicamentos se dá principalmente para reduzir óbitos e também reduzir tempo de internação de pacientes com quadros mais graves.


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