Mesmo com reabertura de leitos, ocupação de UTIs pressiona sistema de saúde de Porto Alegre

Mesmo com reabertura de leitos, ocupação de UTIs pressiona sistema de saúde de Porto Alegre

Secretário adjunto de Saúde. Natan Katz vê crescimento de internações menos veloz que junho e julho, mas reconhece que momento é de preocupação


Felipe Samuel

Após reunião com representantes de hospitais na segunda-feira, Katz revela que há preocupação com as festas de fim de ano e a possibilidade de aumento de contágio na cidade

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O crescimento das internações relacionadas ao novo coronavírus observado desde o início do mês na Capital deixa em alerta o Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus da prefeitura. O aumento dos casos confirmados para a doença em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), na última semana, voltou a pressionar o sistema de saúde e obrigou à reabertura de pelo menos 60 leitos Covid-19 em hospitais que são referências para o tratamento da doença, como Clínicas, Nossa Senhora da Conceição e Santa Casa. O objetivo é evitar o esgotamento da rede hospitalar já no início de janeiro.

Conforme dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), no intervalo de 14 dias, houve variação de 11,86% das internações, passando de 295 pacientes confirmados para a Covid-19, em 6 de dezembro, para 330 no dia 20 de dezembro. Apesar da elevação das internações, o secretário-adjunto da Saúde, Natan Katz, explica que outros indicadores - além das internações - são observados pelo comitê, mas reconhece que o aumento da ocupação de leitos é motivo de preocupação. "Se mantiver essa mesma taxa de crescimento dos últimos dias, a tendência é de esgotamento em janeiro", avalia.

As projeções da SMS apontam que 383 é o número máximo de leitos destinados a pacientes Covid-19. Katz garante que nenhuma mudança deve ser anunciada antes de quarta-feira, quando os representantes do comitê voltam a se reunir para discutir o cenário. "Não muda nada, nem restrição nem flexibilização", ressalta. Ele reconhece que os indicadores de UTI apresentam elevação. "Continua crescendo, não está tão veloz quanto em junho e em julho. Acompanhamos outros indicadores, como os atendimentos em emergências, casos ativos, atendimentos ambulatoriais. Esses indicadores demonstram, nos últimos dias, certa estabilidade. Em alguns há até decréscimo", observa.

Após reunião com representantes de hospitais na segunda-feira, Katz revela que há preocupação com as festas de fim de ano e a possibilidade de aumento de contágio na cidade. "Os hospitais estão relatando dificuldade de aumento de leitos, principalmente por conta dos recursos humanos", afirma, acrescentando que há relatos de desgaste das equipes que atuam na linha de frente no combate à Covid-19. Ele alerta que é preciso avaliar as informações do sistema de saúde diariamente para verificar se é necessário algum tipo de medida no fim de ano. "O que não parece ser apropriado é a flexibilização (das restrições)", completa.

Na avaliação do chefe do Serviço de Infectologia do Moinhos de Vento, Alexandre Zavascki, há pequenas variações nos últimos dias, mas a tendência é de crescimento da ocupação dos leitos de UTI. Ele afirma que casos novos de infecções pelo coronavírus estão crescendo e nenhuma medida de controle para evitar disseminação do vírus tem sido adotada. "É um cenário muito preocupante, porque leito livre não é garantia de sobrevivência. É um erro as pessoas acharem isso", alerta. 

Zavascki explica que para ampliar o número de leitos é preciso reforçar as equipes especializadas. "A falta de leitos vai acarretar em mortes que poderiam ser evitadas com leitos. A situação já é catastrófica e extremamente preocupante só pelo fato de ter muitos doentes em estado crítico", observa. Para o infectologista, mesmo com tratamento adequado, algumas pessoas vão adoecer gravemente por conta da doença e uma parte vai perder a vida. 

Conforme Zavascki, as comemorações de fim de ano também causam preocupação. Ele afirma que será importante observar se as pessoas vão evitar aglomerações. "Vamos ter um começo de ano muito pesado, podemos projetar um começo de ano bem complicado. A restrição não é a solução para a pandemia, a solução é a vacinação para a população. A restrição temporária dá uma folga para o sistema de saúde", compara.


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