Movimento tenta abrigar 70 famílias após desocupação no centro de Porto Alegre

Movimento tenta abrigar 70 famílias após desocupação no centro de Porto Alegre

Pessoas foram encaminhadas para local sem colchões, chuveiros, gás, água e luz

Henrique Massaro

Relatos apontam que policiais debocharam dos pertences de alguns moradores

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Após a reintegração de posse feita pelo Estado na Ocupação Lanceiros Negros na noite de quarta-feira, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) tenta abrigar as 70 famílias em um novo local, considerado seguro, já que o galpão cedido pelo governo precisava ser desocupado. O prédio de onde a Ocupação foi retirada, localizado na esquina das ruas General Câmara e Andrade Neves, no Centro Histórico da Capital, que na manhã desta quinta era vigiado pela Brigada Militar (BM) deverá ser sede da Defesa Civil e de setores da Casa Civil após reformas.

Após ordem judicial e consequente retirada das famílias feita pelo Batalhão de Choque da BM, que causou muito tumulto no final da noite de quarta-feira, parte dos integrantes da ocupação foram levados para um galpão cedido pelo Estado no Vida Centro Humanístico da Fundação Gaucha do Trabalho e Ação Social (FGTAS). Segundo representantes do MLB, foi informado que o local teria estrutura para receber as pessoas, que poderiam ficar por tempo indeterminado. No entanto, ao chegar lá a realidade encontrada foi outra. 



Não havia colchões, chuveiros, gás, água e luz, por exemplo. Além disso, o Estado não chegou a levar todos os pertences das famílias para o local. Uma parte ficou trancada dentro do antigo prédio e, parte do que foi levado para o galpão chegou molhada. Ao verificar a situação, a maioria das pessoas não quis ficar no espaço e começou a ser realocada para um lugar que, por questões de segurança, não está sendo divulgado pelo MLB. Apenas um pequeno grupo permanecia no Vida Centro Humanístico na manhã desta quinta para vigiar os pertences que lá estavam. “Nós estamos fazendo o que o Estado deveria fazer”, afirmou uma das coordenadoras do MLB, Nana Sanches.

Para piorar o quadro, os integrantes da Ocupação e do Movimento foram informados de que o espaço poderia ser cedido apenas por 24 horas, ao contrário do que havia sido informado a eles durante a desocupação. Por isso, corria-se contra o tempo para conseguir algum frete para levar os pertences para o novo local.

De acordo com o coordenador do Vida Centro Humanístico, Tiago Machado, a informação recebida por ele era de que só era necessário este tempo para as famílias. Ele também não foi informado pelas autoridades que seriam trazidos utensílios. Segundo o coordenador, o espaço só foi cedido em virtude do feriado de ontem, já que, em outros dias, cerca de 600 pessoas utilizam as dependência do local. “Espaço tem, mas é frio, descoberto, não é humano”, explicou.

Segundo os relatos de Nanda, a desocupação foi uma “tortura psicológica” das autoridades. De acordo com relato dos integrantes do MLB, os policiais debocharam dos pertences de alguns moradores e ainda separaram crianças de seus pais na transferência para o galpão. Além disso, eles afirmam que pessoas ficaram feridas, entre elas um adolescente que teria sido atingido por uma bala de borracha na cabeça.

Em nota, o governo do Estado informou que, desde 2015, quando o prédio foi ocupado, foram feitas seis sessões de conciliação e mediações sem sucesso, esgotando todas as alternativas de resolução consensual de conflito, na presença de representantes do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), seja perante o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) ou no Centro de Conciliação e Mediação da Procuradoria-Geral do Estado (PGE/RS). Segundo o Executivo, o prédio oferece risco “por ser histórico, impróprio para habitação, sobretudo pelo piso antigo estar cedendo”. O Estado também informou que foi oferecido aos “invasores” abrigo e atendimento social no Vida Centro Humanístico, caminhões e ônibus de transporte, com apoio do Corpo de Bombeiros, Conselho Tutelar e Samu.

Por meio da página no Facebook, o grupo pede que interessados em ajudar entrem em contato. Doações como colchões, cobertas de cama e alimentos são aceitas e podem ser feitas diretamente na Ocupação Mulheres Mirabal, localizada na rua Duque de Caxias, 380.

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