Movimento Tradicionalista Gaúcho completa 48 anos neste mês

Movimento Tradicionalista Gaúcho completa 48 anos neste mês

Entidade reforça identidade gaúcha por todos os cantos

Jéssica Mello

Há Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) em todas as regiões do país e em países como a China

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Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) completa 48 anos neste mês. Congrega 95% das entidades tradicionalistas do Estado, somando 1.654 filiadas. Há Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) em todas as regiões do país e em países como China, Estados Unidos e Espanha, por exemplo.

“Se não fosse o MTG, talvez não tivéssemos resgatado a música nem o hábito do mate”, acredita o presidente Manoelito Savaris. Afinal, a entidade foi criada pela necessidade de criar uma federação para organizar os aproximadamente 200 CTGs no Brasil. O primeiro foi o 35 CTG, de 1948. “O Rio Grande do Sul saía de uma situação social complicada. As bandeiras estaduais foram proibidas e havia uma americanização da cultura”, conta Savaris.

Segundo o presidente, naquele momento não havia mais música local, dança típica nem mesmo o hábito de tomar chimarrão. “Era quase proibido andar de bombacha na cidade e o cinema não permitia a entrada.”

Para o presidente da Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, Rodi Pedro Borghetti, que presidiu o MTG por seis vezes, essa é a maior organização cívico-social da América Latina. “Não tem um município do Estado que não possua um espaço. Acho que a cultura permaneceria, mas não tão forte.”

Savaris considera que os CTGs foram os responsáveis por reviver a história e a identidade local. “Aos poucos tivemos um resgate, quando se conseguiu refazer a cultura regional”, ressalta. Acredita que a globalização não pode sufocar os aspectos locais, pois, para ele, uma sociedade que deseja ter uma autoestima elevada tem de saber sua história. Pois o principal motivo da participação das pessoas é a convivência familiar.

Porém, Borghetti aposta que a dança e a música são o que mais chama a atenção para quem é de fora. “A filosofia do tradicionalismo é do homem do campo, simples, de palavra, amigo e isso é muito sadio.”

Savaris destaca que o modelo de CTG cabe em qualquer lugar do mundo. “Quando fora, representa a saudade de quem saiu daqui. Ninguém pergunta credo, partido político, preferência sexual, conta bancária ou cor”, observa. Mesmo com críticas de que o movimento seja intolerante a mudanças sociais, Savaris afirma que tudo é debatido, mas que algumas regras precisam ser mantidas para que não se perca a identidade. “É preciso um tempo para assimilar. As mudanças tecnológicas são mais simples, mas as de comportamento precisam ser toleradas nos ritmos das famílias.”

Saudade e ambiente sadio atraem
O gaúcho nascido em Aratiba, no Norte do Rio Grande do Sul, Jaime Valentim Morgan, 52 anos, é hoje o presidente do MTG em seis estados: Rondônia, Acre, Roraima, Amazonas, Pará e Amapá. De acordo com ele, a região tem 12 entidades, onde os gaúchos que, assim como ele, nasceram no Sul e precisaram sair possam se sentir em casa. “Todos ficam com muita saudade e dentro do CTG vivem como se estivessem no Rio Grande do Sul”, conta.

Porém, segundo Morgan, os gaúchos são minoria entre os participantes. O presidente conta que os jovens estão muito presentes e alimentam o desejo de conhecer o Rio Grande do Sul. “Eles apenas sabem pelo mapa onde ficam, mas criam no imaginário um lugar perfeito e buscam isso nos CTGs, o jeito simples do gaúcho e o ambiente sadio”, explica.

Para ele, o MTG é o grande responsável por disseminar a cultura do RS. “Nós nos orgulhamos por ter um movimento organizado, por isso precisamos seguir com rigidez as regras e fazer tudo bem-feito, com o acompanhamento, a gestão geral.”

Lá, muitas culturas se misturam, mas, mesmo assim, a gaúcha se destaca e recebe apoio dos governos locais. “A Prefeitura de Ariquemes, em Rondônia, nos dá apoio cultural para que apresentemos a tradição nas escolas e leve turmas aos CTGs”, cita. Para ele, o que chama a atenção dos gestores é o envolvimento dos jovens. “Não temos notícias de jovens que usem drogas e estejam nas entidades”, ressalta Morgan.

Ele relata que os participantes de outros estados têm vergonha no início por ser diferente, mas que, com o tempo, acabam gostando e ficam, cumprindo com as regras e participando das danças típicas. “Eles têm um gingado mais fácil”, acredita Morgan. A esposa dele e seu casal de filhos nasceram em Rondônia e participam constantemente das atividades tradicionalistas gaúchas.

Tradicionalismo organizado é mais antigo
O tradicionalismo gaúcho organizado tem quase 20 anos mais do que o MTG. De 1948, quando foi criado o 35 CTG, a 1966, data da oficialização do movimento, inúmeros debates foram feitos sobre a criação de uma federação de CTGs. A primeira vez que a ideia foi apresentada foi em 1955 no Congresso Tradicionalista e quatro anos depois foi aprovado o Conselho Coordenador, que deu origem ao Conselho Diretor e ao MTG. A primeira organização tinha administração descentralizada dividida em 12 zonas.

Em SC, jovens lideram CTGs
O segundo estado com maior número de entidades é Santa Catarina, com 625 CTGs e 3 mil piquetes. O presidente do MTG da região, catarinense Orides Luiz Pompeo, 50 anos, está envolvido há 25 com a tradição do estado vizinho. “Aqui há muitos descendentes do Rio Grande do Sul e participantes naturais de Santa Catarina”, conta. Para ele, a união e a importância da família são os fatores que mais despertam o interesse de quem frequenta. De acordo com Pompeo, Santa Catarina tem a participação efetiva da juventude. Muitos são patrões de CTGs. “Quando o movimento é organizado, pode se manter e se adaptar sem perder as raízes.” Segundo ele, os jovens que levam os debates sobre possíveis mudanças, o que considera importante para mantê-los perto do movimento.

Sem cair na onda de modismos
Coordenadora da 7ª Região Tradicionalista, a maior do Estado, Gilda Galeazzi acredita que o MTG tem papel fundamental na preservação da cultura, com valores morais e familiares. “Não olhamos cor, ideologia política, marca da roupa ou opções. O CTG é a melhor escola informal de formação do cidadão.” Sobre mudanças nas normas, diz que os temas são debatidos, mas há o cuidado para não entrar em modismos e perder a essência. “Viemos de uma sociedade conservadora, se evoluiu, temos de evoluir. Aceitamos todas as pessoas desde que, naquele ambiente, cumpram as regras propostas”, ressalta, ao se referir à opção homoafetiva.

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