Movimento Tradicionalista Gaúcho completa 48 anos neste mês
Entidade reforça identidade gaúcha por todos os cantos
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“Se não fosse o MTG, talvez não tivéssemos resgatado a música nem o hábito do mate”, acredita o presidente Manoelito Savaris. Afinal, a entidade foi criada pela necessidade de criar uma federação para organizar os aproximadamente 200 CTGs no Brasil. O primeiro foi o 35 CTG, de 1948. “O Rio Grande do Sul saía de uma situação social complicada. As bandeiras estaduais foram proibidas e havia uma americanização da cultura”, conta Savaris.
Segundo o presidente, naquele momento não havia mais música local, dança típica nem mesmo o hábito de tomar chimarrão. “Era quase proibido andar de bombacha na cidade e o cinema não permitia a entrada.”
Para o presidente da Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, Rodi Pedro Borghetti, que presidiu o MTG por seis vezes, essa é a maior organização cívico-social da América Latina. “Não tem um município do Estado que não possua um espaço. Acho que a cultura permaneceria, mas não tão forte.”
Savaris considera que os CTGs foram os responsáveis por reviver a história e a identidade local. “Aos poucos tivemos um resgate, quando se conseguiu refazer a cultura regional”, ressalta. Acredita que a globalização não pode sufocar os aspectos locais, pois, para ele, uma sociedade que deseja ter uma autoestima elevada tem de saber sua história. Pois o principal motivo da participação das pessoas é a convivência familiar.
Porém, Borghetti aposta que a dança e a música são o que mais chama a atenção para quem é de fora. “A filosofia do tradicionalismo é do homem do campo, simples, de palavra, amigo e isso é muito sadio.”
Savaris destaca que o modelo de CTG cabe em qualquer lugar do mundo. “Quando fora, representa a saudade de quem saiu daqui. Ninguém pergunta credo, partido político, preferência sexual, conta bancária ou cor”, observa. Mesmo com críticas de que o movimento seja intolerante a mudanças sociais, Savaris afirma que tudo é debatido, mas que algumas regras precisam ser mantidas para que não se perca a identidade. “É preciso um tempo para assimilar. As mudanças tecnológicas são mais simples, mas as de comportamento precisam ser toleradas nos ritmos das famílias.”
Saudade e ambiente sadio atraem
O gaúcho nascido em Aratiba, no Norte do Rio Grande do Sul, Jaime Valentim Morgan, 52 anos, é hoje o presidente do MTG em seis estados: Rondônia, Acre, Roraima, Amazonas, Pará e Amapá. De acordo com ele, a região tem 12 entidades, onde os gaúchos que, assim como ele, nasceram no Sul e precisaram sair possam se sentir em casa. “Todos ficam com muita saudade e dentro do CTG vivem como se estivessem no Rio Grande do Sul”, conta.
Porém, segundo Morgan, os gaúchos são minoria entre os participantes. O presidente conta que os jovens estão muito presentes e alimentam o desejo de conhecer o Rio Grande do Sul. “Eles apenas sabem pelo mapa onde ficam, mas criam no imaginário um lugar perfeito e buscam isso nos CTGs, o jeito simples do gaúcho e o ambiente sadio”, explica.
Para ele, o MTG é o grande responsável por disseminar a cultura do RS. “Nós nos orgulhamos por ter um movimento organizado, por isso precisamos seguir com rigidez as regras e fazer tudo bem-feito, com o acompanhamento, a gestão geral.”
Lá, muitas culturas se misturam, mas, mesmo assim, a gaúcha se destaca e recebe apoio dos governos locais. “A Prefeitura de Ariquemes, em Rondônia, nos dá apoio cultural para que apresentemos a tradição nas escolas e leve turmas aos CTGs”, cita. Para ele, o que chama a atenção dos gestores é o envolvimento dos jovens. “Não temos notícias de jovens que usem drogas e estejam nas entidades”, ressalta Morgan.
Ele relata que os participantes de outros estados têm vergonha no início por ser diferente, mas que, com o tempo, acabam gostando e ficam, cumprindo com as regras e participando das danças típicas. “Eles têm um gingado mais fácil”, acredita Morgan. A esposa dele e seu casal de filhos nasceram em Rondônia e participam constantemente das atividades tradicionalistas gaúchas.
Tradicionalismo organizado é mais antigo
O tradicionalismo gaúcho organizado tem quase 20 anos mais do que o MTG. De 1948, quando foi criado o 35 CTG, a 1966, data da oficialização do movimento, inúmeros debates foram feitos sobre a criação de uma federação de CTGs. A primeira vez que a ideia foi apresentada foi em 1955 no Congresso Tradicionalista e quatro anos depois foi aprovado o Conselho Coordenador, que deu origem ao Conselho Diretor e ao MTG. A primeira organização tinha administração descentralizada dividida em 12 zonas.
Em SC, jovens lideram CTGs
O segundo estado com maior número de entidades é Santa Catarina, com 625 CTGs e 3 mil piquetes. O presidente do MTG da região, catarinense Orides Luiz Pompeo, 50 anos, está envolvido há 25 com a tradição do estado vizinho. “Aqui há muitos descendentes do Rio Grande do Sul e participantes naturais de Santa Catarina”, conta. Para ele, a união e a importância da família são os fatores que mais despertam o interesse de quem frequenta. De acordo com Pompeo, Santa Catarina tem a participação efetiva da juventude. Muitos são patrões de CTGs. “Quando o movimento é organizado, pode se manter e se adaptar sem perder as raízes.” Segundo ele, os jovens que levam os debates sobre possíveis mudanças, o que considera importante para mantê-los perto do movimento.
Sem cair na onda de modismos
Coordenadora da 7ª Região Tradicionalista, a maior do Estado, Gilda Galeazzi acredita que o MTG tem papel fundamental na preservação da cultura, com valores morais e familiares. “Não olhamos cor, ideologia política, marca da roupa ou opções. O CTG é a melhor escola informal de formação do cidadão.” Sobre mudanças nas normas, diz que os temas são debatidos, mas há o cuidado para não entrar em modismos e perder a essência. “Viemos de uma sociedade conservadora, se evoluiu, temos de evoluir. Aceitamos todas as pessoas desde que, naquele ambiente, cumpram as regras propostas”, ressalta, ao se referir à opção homoafetiva.