Mudança climática, mesmo que moderada, aumentará demanda global de energia

Mudança climática, mesmo que moderada, aumentará demanda global de energia

Temperatura média da superfície da Terra está a caminho de aquecer 4ºC até 2100

AFP

Com ondas de calor mais fortes, europeus descansam perto de uma lagoa, em Paris

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A mudança climática, mesmo que seja moderada, aumentará a demanda global de energia em até um quarto antes da metade do século, e em quase 60% se a humanidade não conseguir reduzir as emissões de gases do efeito estufa, disseram pesquisadores nesta segunda-feira. Na medida em que essa energia vem de combustíveis fósseis, a energia extra necessária para resfriar indústrias, residências e lojas de varejo nas próximas décadas contribuirá para o aquecimento, segundo o estudo publicado na revista Nature Communication.

Em 2018, o petróleo e o gás representaram dois terços da geração global de eletricidade, enquanto a energia solar e eólica contribuíram com menos de 10%, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE). Mesmo sob cenários otimistas, as energias renováveis não podem ser ampliadas com rapidez suficiente para substituir os combustíveis fósseis até 2050, mesmo se as necessidades de energia mais altas devido à mudança climática forem deixadas de fora.

As energias hídrica e nuclear - que não emitem CO2 - alimentam um quarto da eletricidade global, mas também têm potencial limitado para aumentar rapidamente. "Se o uso de energia aumentar e levar a emissões adicionais de gases do efeito estufa, o aumento do consumo de energia para ar-condicionado pode tornar mais difícil e custoso atenuar o aquecimento futuro", afirmou a coautora Ian Sue Wing, pesquisadora da Universidade de Boston.

As necessidades de energia aumentarão mais rapidamente no sul da Europa, na China, nos Estados Unidos e, especialmente, em países mais pobres dos trópicos, disse a pesquisadora. O mercado de ares-condicionados de unidade única na Índia, por exemplo, deverá passar de 30 milhões para um bilhão de unidades até 2050, de acordo com pesquisas anteriores. Globalmente, as unidades de ar-condicionado devem consumir até três vezes mais energia até 2050, e exigiriam eletricidade adicional equivalente à capacidade combinada de 2018 dos EUA, da União Europeia e do Japão, calculou a AIE.

Estimativas anteriores de novas necessidades de energia sob diferentes cenários de mudança climática foram limitadas a alguns países, a um setor específico ou a um ou dois modelos climáticos. O novo estudo combina projeções de temperatura global de 21 modelos climáticos com cinco projeções diferentes para os crescimentos econômico e populacional. Na metade do século, as mudanças climáticas aumentarão a demanda global de energia em entre 11% e 27% com um aquecimento moderado, e em entre 25% e 58% com um aquecimento "vigoroso", descobriram os pesquisadores.

No acordo de Paris sobre o clima, de 2015, 195 nações se comprometeram a limitar o aquecimento global "bem abaixo" de dois graus Celsius em comparação com os níveis do meio do século XIX. Com apenas 1°C de aquecimento até agora, o mundo registrou um aumento de ondas de calor, clima instável e tempestades gigantescas, que se tornaram mais destrutivas pelo aumento do nível dos mares.

Nas tendências atuais, a temperatura média da superfície da Terra está a caminho de aquecer 4ºC até 2100, uma receita certa para a miséria humana generalizada, dizem os cientistas. Os países pobres da África, Ásia e Oriente Médio terão dificuldades para se adaptar, de acordo com o autor sênior Bas van Ruijven, um pesquisador do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (IIASA).

"Aumentos de temperatura até 2050 podem expor meio bilhão de pessoas nos países de rendas mais baixas a aumentos na demanda de energia de 25% ou mais", disse. "Em áreas que têm fornecimento de eletricidade não confiável, ou carecem de conexões de rede, o aumento da exposição a dias quentes aumenta o risco de doenças e mortalidade relacionadas ao calor".

Cerca de 850 milhões de pessoas no mundo ainda não têm acesso à eletricidade, de acordo com um relatório recente divulgado em conjunto pela AIE, as Nações Unidas e o Banco Mundial.


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