Mudança de paisagem e risco de incêndios: as consequências do tempo seco em Porto Alegre

Mudança de paisagem e risco de incêndios: as consequências do tempo seco em Porto Alegre

Estiagem que atinge todo o Rio Grande do Sul tem mudado o aspecto de áreas verdes da Capital

Henrique Massaro

Tempo seco em Porto Alegre deixa gramados, como o da orla do Guaíba, danificados e com coloração amarelada

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A escassez de chuvas que marca esse começo de 2020 em Porto Alegre altera também o aspecto cidade. Com o sol forte e o calor do final de dezembro e que permanecem constantes nestes primeiros dias de janeiro, as áreas verdes da Capital mudam de cor. Os gramados de parques e praças, além da vegetação de terrenos baldios, vão ficando cada vez mais amarelados e adquirindo outra consistência. A grama endurece e mais parece palha, o que não representa apenas uma mudança na paisagem, mas um risco iminente.

Dois incêndios em um intervalo de dois dias no mesmo local mostram o perigo da época seca. Em 27 e 30 de dezembro, parte do matagal que cobre o ponto mais alto de Porto Alegre, o Morro Santana, pegou fogo. Neste último, a população teve dificuldades de apagar as chamas em função da falta de água na região e um morador chegou a ser encaminhado para o hospital em função da fumaça. Situações semelhantes também ocorreram em outros locais altos da Capital, como o Morro da Embratel. Cada caso precisa de apuração, já que muitas vezes há acúmulo de lixo, latas de tinta ou resquícios de rituais religiosos, mas sabe-se que uma combinação de fatores pode iniciar e potencializar as chamas: alto calor, baixa umidade, ventania e vegetação seca.

Nessas áreas, muitas vezes o Corpo de Bombeiro Militar tem dificuldades de acesso com o caminhão e o combate ao fogo acaba sendo feito manualmente, explica o tenente Maximiliano Pires, da Divisão de Operação e Defesa Civil do 1º Batalhão de Bombeiro Militar. Segundo ele, em dezembro essas ocorrências aumentaram consideravelmente e é necessário que os moradores dessas regiões tomem certos cuidados, como não acender fogueiras, manter a limpeza em torno do seu terreno e denunciar despejo irregular e queima de lixo. “Venta muito e o fogo se alastra fácil, uma fagulha em um local passa para outro”, explica.

Áreas de vegetação plana e sem mato, como praças e parques, apesar de não apresentarem os riscos de locais ermos, também se mostram danificadas nessa época do ano. A beleza da orla do Guaíba, por exemplo, é uma das que mais impactadas em Porto Alegre. O paisagista Ricardo Rodrigues da Silva, da empresa Athena, contratada pela Uber para cuidar da orla, diz que no mês de dezembro deveria ter chovido 100 milímetros, mas foram registrados apenas 20 milímetros. Mas, segundo ele, o local tem aspecto ainda mais degradado que outras áreas da cidade em função da festa de Ano Novo, que reuniu cerca de 160 mil pessoas pisando e, consequentemente, danificando o gramado. Conforme o paisagista, a grama do entorno da Usina do Gasômetro não havia se recuperado totalmente nem da celebração do ano anterior.

Estiagem preocupa em todo o Estado

Além da vegetação, outras mudanças têm sido registradas em Porto Alegre em função da estiagem que atinge o Rio Grande do Sul. No último domingo, pela segunda vez a prefeitura precisou, por exemplo, abastecer com 40 mil litros de água o lago do Parque Moinhos de Vento (Parcão), que estava seco, para evitar que animais morressem. Outro reflexo é a diminuição do nível do Arroio Dilúvio e do Guaíba, que chegou ter a formação de um banco de areia próximo ao Cais do Porto, no Centro. Para que os efeitos sejam atenuados, a necessidade, conforme a Metsul Meteorologia, seria de que chovesse 200 milímetros em todas as regiões do Estado. Apesar das previsões de chuva para o final da semana, em Porto Alegre a tendência é de uma quarta-feira com tempo nublado e uma quinta-feira com sol e temperaturas que podem chegar aos 39º.

A preocupação da estiagem é para todo o Estado e, por causa disso, na manhã desta terça-feira, Defesa Civil, Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Emater se reuniram para definir procedimentos para decretar situação de emergência nos municípios. Camaquã, Chuvisca, Sinimbu e Encruzilhada do Sul já haviam feito o pedido e Maquiné abriu protocolo no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS) pediu aos governos federal e estadual atenção especial aos agricultores. Plantações de soja, milho e tabaco foram seriamente afetadas e deve ser solicitado junto aos agentes financeiros o pedido do Proagro (Programa de Garantia da Atividade Agropecuária). Um grupo de acompanhamento foi criado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural para tratar dos efeitos e discutir formas de amenizar os prejuízos decorrentes da estiagem.


 


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