Nova variante da dengue é mais transmissível e aumenta chance de casos graves

Nova variante da dengue é mais transmissível e aumenta chance de casos graves

"Genótipo cosmopolita" do sorotipo 2 da doença foi detectado pela primeira vez no Brasil em fevereiro

Felipe Faleiro

Mosquito Aedes aegypti, causador da dengue, se reproduz em água limpa parada

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Não bastasse o Rio Grande do Sul estar com o maior número de casos e óbitos registrados por dengue em um ano em 2022, uma nova variante da doença, até então inédita, foi detectada no Brasil. Trata-se do chamado “genótipo cosmopolita” do sorotipo 2 (DENV-2), um dos quatro já em circulação no país, e o mais disseminado no mundo. Um caso foi confirmado no último mês de fevereiro em um paciente de 57 anos da cidade de Aparecida de Goiânia (GO), e, embora não tenha chegado ao RS, conforme a Secretaria Estadual de Saúde (SES), tem potencial para colocar o Estado em alerta.

A médica infectologista Rafaela Mafaciolli, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, afirma que ainda não há muitas informações a respeito desta variante, mas é possível afirmar que ela é mais transmissível. “A chance de a doença evoluir para uma forma mais grave é maior”, alerta. A nova variante foi detectada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública de Goiás (Lacen-GO). “Por ser um genótipo associado à maior transmissibilidade, um maior número de pessoas pode se infectar ao mesmo tempo, e, portanto, há maior necessidade de atendimento médico e hospitalar”, diz Julio Croda, também infectologista e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).

Conforme a Fiocruz, o microorganismo é semelhante ao detectado durante um surto em uma província peruana em 2019, e estaria relacionado a outro anterior em Bangladesh. Sua chegada preocupa, pois há possibilidade de a mesma se disseminar de forma mais eficiente do que a linhagem mais prevalente no Brasil, a asiática-americana. “Mundialmente, ele é muito mais distribuído e causa mais casos do que o asiático-americano”, diz o coordenador da pesquisa, Luiz Carlos Júnior Alcantara, pesquisador do Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Nesta quinta, o RS confirmou mais 11 mortes somente neste ano, ampliando o total para 26. Entre os mais recentes, três foram nos municípios de Igrejinha, e um em Erechim, Estância Velha, Nova Hartz, Novo Machado e Porto Alegre (todos inéditos), Cachoeira do Sul, Horizontina e Novo Hamburgo (já haviam registrado mortes em 2022). Pessoas com 70 anos ou mais somam 19 óbitos. Ainda há 21 mil casos autóctones, e entre os 497 municípios gaúchos, 444 apresentavam infestação pelo mosquito Aedes aegypti. 

Em Santa Catarina, a situação é similar. O ano de 2022 tem o maior número de casos de dengue já registrados no Estado – 32,2 mil confirmações e, destes, 28,7 mil autóctones, bem como o recorde de óbitos, com os mesmos 26. Em todo o ano passado, foram 19,1 mil confirmações e 18,7 mil autóctones, além de sete mortes. Os municípios catarinenses infestados e com focos do mosquito transmissor da dengue eram 127 até o começo de maio, 13,4% a mais do que no mesmo período de 2021.

O Ministério da Saúde está de olho na situação epidemiológica relacionada às arboviroses urbanas, como são denominadas a dengue, zika e chikungunya. Nesta semana, a pasta implantou uma Sala de Situação para monitorar o avanço das doenças em tempo real. A partir das informações coletadas, será elaborado um plano de ação, com orientações para gestores e técnicos tomarem decisões estratégicas. O ministério também divulgará boletins informativos periódicos.

Segundo a SES, “os cuidados de prevenção seguem sendo os mesmos” em relação à nova cepa, e que a vigilância é permanente. Neste sentido, evitar água limpa parada, limpar recipientes expostos e armazená-los tampados ou com a boca para baixo e manter a calha desobstruída, entre outros cuidados, ainda são fundamentais. “Temos que sequenciar e monitorar ainda mais, e de forma mais igual no Brasil, para detectarmos mais precocemente se um destes genótipos mais transmissíveis se tornarem predominantes”, observa Croda.

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