O desafio de ficar longe da família por causa da Covid-19

O desafio de ficar longe da família por causa da Covid-19

Professor da UFRGS, Fábio Klamt, se isolou em um apartamento para ficar longe da esposa e filho

Gabriel Guedes

Professor Fábio Klamt durante a internação por coronavírus

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Se distanciar da família, escutar o filho dizendo que o pai não vai voltar mais pra casa. Esta foi uma das piores experiências para o professor do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fábio Klamt, 44 anos. Depois de contrair o novo coronavírus, ele se refugiou em um apartamento, para evitar que o restante de sua família também ficasse doente. “Domingo de Páscoa vai ser a minha redenção”, comemora, aliviado, após se ver perto de encerrar o período de 14 dias de isolamento, cumprido metade dele no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Mas não são apenas as sequelas em seus sentimentos que o vírus deixou. “Sou muito viciado em café e não estou conseguindo tomar café desde então”, conta, ao revelar a perda do olfato e paladar em decorrência da doença.

O professor começou a sentir os primeiros sintomas no dia 13 de março. Uns dias antes ele havia recebido a visita de professores vindos do Reino Unido. “Comecei a marcar no calendário. Tive febre, dor de garganta e um pouco de pressão nos ouvidos. Logo passou. Mas a febre foi constante”, relata. No dia 20, Klamt apresentava febre de 38,6 graus e procurou atendimento médico. “Fiz a triagem e após me examinarem, identificaram que eu estava com uma infecção e que eu era nada de grave”, lembra. Entretanto, o diagnóstico sofreu um revés. No dia 22, o especialista estava se sentindo ofegante, com chiado e tosse bastante seca. de volta ao hospital, no dia 24, foi submetido a um raio X e tomografia, que constatou a pneumonia e acabou internado em um leito de enfermaria. “O normal é a saturação de oxigênio de 98% e estava saturando 92. O exame de sangue também apontou quadro inflamatório”, informa.

Sem o resultado das análises que poderiam revelar se estava com Covid-19, Klamt foi tratado com tamiflu no início. Mas como o exame para H1N1, o vírus da influenza ou gripe, deu negativo, os médicos decidiram interromper o tratamento que estava sendo realizado. “Seguiram só com azitromicina, um antibiótico e eu prontamente respondi ao tratamento. A temperatura estabilizou. Mas a saturação do oxigênio ainda estava baixa”, frisa. Depois da oximetria apontando para uma recuperação, depois de seis dias de internação, o professor teve alta. “Então iniciei minha quarentena. Sozinho, longe da minha família, em outro apartamento”, afirma. “Até ter o diagnóstico e sofrer, eu realmente estava muito mal. Não tinha vontade fazer nada. Não tive dores no corpo, nem diarreia. Mas perdi 7 quilos”, contabiliza.

Klamt passou alguns dias sem saber se a família se contaminou. A esposa e o filho também tiveram alguns sintomas. No entanto, a companheira deu negativo em dois testes para coronavírus. Nos dias de isolamento, o professor seguiu falando com a família diariamente por videochamada. “É difícil, mas não vou reclamar. Meu filho não está entendendo muito. Várias vezes ele falou que o papai não vai voltar mais pra casa”, recorda. Agora sem o risco de espalhar o vírus, Klamt se prepara para retornar ao lar. “Já tenho a presença dos anticorpos, já produzi esta resposta imunológica”, assegura. “Fiz muito esporte, nadei bastante. Minha capacidade respiratória é acima da média. Mas fiquei bem surpreso com o que passei. Mas Quanto à infecção, o vírus é bem democrático, não tem estereótipo que não pegue”, alerta.

 


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