Ocupação de leitos de UTI em Porto Alegre aumenta nas últimas duas semanas

Ocupação de leitos de UTI em Porto Alegre aumenta nas últimas duas semanas

Nesta sexta-feira, rede hospitalar tinha 232 casos confirmados de coronavírus

Felipe Samuel

Nesta sexta-feira, rede hospitalar tinha 232 casos confirmados de coronavírus

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A flexibilização das medidas restritivas e a maior circulação da população em Porto Alegre e no Litoral podem ter relação direta com aumento das internações de pacientes com o novo coronavírus em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Nesta sexta-feira, os hospitais de Porto Alegre tinham 232 casos confirmados para a doença, o que representa 10,5 ponto percentual a mais do que registrado há duas semanas, quando 208 pacientes diagnosticados com a Covid-19 estavam internados. Por conta da demanda elevada, o Moinhos de Vento restringiu atendimento a pacientes com o novo coronavírus, enquanto Cristo Redentor operava com lotação máxima. 

Outros dez hospitais registravam taxas de ocupação acima de 80%. No Litoral, o cenário se repetia e a taxa de ocupação média das UTIs da região atingia 98% de lotação. Embora especialistas afirmem que é preciso observar os desdobramentos da ampliação do horário de funcionamento de diversos setores, como do comércio, os números atuais das internações deixam em alerta a comunidade médica. Professor de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Paulo Petry observa que a internação representa o "final da cadeia de um ciclo" e destaca as medidas de flexibilização anunciadas nas últimas semanas, como abertura de cinemas, extensão do horário de funcionamento de shoppings e restaurantes. "Dá para ligar o alerta, pois estávamos numa fase constante de redução das internações", pondera. 

Ele afirma que há relaxamento das medidas protetivas em função do longo período de duração da pandemia, mas alerta que a população deve seguir as recomendações das autoridades de saúde, como usar máscaras e evitar aglomeração. "Há correlação inequívoca entre aglomerações e adoecimentos", ressalta. Petry observa que as medidas de liberação de diversas atividades podem impactar na ocupação de leitos. "Demora de 10 a 14 dias para ter reflexos. Agora a gente está começando a ver isso, com as pessoas se soltando mais, deixando de observar recomendações sanitárias, no que resulta no aumento de novos casos e, consequentemente, das internações", avalia.

Sobre a elevação de casos no Litoral, Petry explica que cada vez mais as pessoas têm a sensação de liberdade por estarem ao ar livre e acabam se aglomerando. "Mesmo ao ar livre as pessoas se contaminam, as pessoas conversam, o vírus circula em aerossóis, partículas, gotículas. Essa falsa sensação de imunidade por estar ao ar livre é muito prejudicial", alerta. Ele reforça que fenômeno semelhante ao que ocorre na Europa e nos EUA - onde as taxas de novos infectados pela doença dispararam nos últimos dias - pode acontecer no Brasil. "Pessoal começou a se aglomerar em bares e o vírus voltou a circular com força na Europa. Esse mesmo fenômeno pode ocorrer aqui", frisa.

Epidemiologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Jeruza Lavanholi Neyeloff explica que é preciso observar a evolução das internações durante fim de semana e o começo da próxima para ter "noção do que está acontecendo". "Estamos bem apreensivos, pois afinal de contas no meio da pandemia não gostaríamos de perder controle da situação. Acho cedo para afirmar que estamos tendo aumento ou não, pois tivemos movimento similar na segunda quinzena de agosto, quando houve queda e subida de casos no CTI", lembra, acrescentando que há um mês atrás eram 230 pacientes internados em UTIs. 

Ao destacar que é preciso cautela nesse momento, Jeruza reforça que a população precisa evitar comportamentos de maior risco, como aglomerações em locais fechados, embora reconheça que é bastante compreensível que as pessoas queiram retomar algumas atividade. "Se quisermos manter as escolas abertas, não podemos ter grandes aglomerações no comércio", destaca. Ela afirma que a população precisa colaborar e se conscientizar sobre a importância de seguir as recomendações sanitárias. "É importante usar máscara e manter distanciamento entre grupos. É possível se permitir algum lazer sem abrir mão de alguns cuidados", observa.

Capital

Com o aumento dos casos de Covid-19 registrados nas últimas semanas, o Hospital Moinhos de Vento informou nesta sexta-feira, por nota, que o setor de Emergência está com atendimento restrito para pacientes com suspeita de Covid-19, com sintomas leves ou quadro de menor gravidade. Conforme a nota, assinada pelo superintendente médico, Luiz Antonio Nasi, e o chefe do Serviço de Infectologia, Alexandre Zavascki, a medida é válida pelo período de 72 horas. A Emergência seguirá atendendo pacientes graves e pessoas sem suspeita de coronavírus. 

Litoral 

O aumento dos casos relacionados à Covid-19 também atinge o Litoral, onde não há leitos disponíveis nos hospitais de Osório, Torres e Tramandaí. Em boletim divulgado hoje, a 18 Coordenadoria Regional de Saúde (18° CRS) - que reúne 23 municípios do litoral - informa 11.626 casos confirmados e 1 novo óbito (em Imbé), totalizando 219. Há 1.354 pessoas com doença ativa e 96 pacientes internados. A taxa de ocupação média das UTIs da região se mantém em 98%. Não há leitos disponíveis nos hospitais de Osório, Torres e Tramandaí. Balneário Pinhal não preencheu a planilha de monitoramento. 


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