Onda de solidariedade ajuda mãe que entregou filho ao Conselho Tutelar em Porto Alegre

Onda de solidariedade ajuda mãe que entregou filho ao Conselho Tutelar em Porto Alegre

Carioca, ela chegou há um mês em Porto Alegre, mas não conseguiu trabalho e nem escola para menino de quatro anos

Correio do Povo

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Com o filho de quatro anos nos braços, a carioca de 42 anos agradece a onda de solidariedade que se formou depois que a reportagem do Correio do Povo acompanhou o seu drama, no início da noite da última quinta-feira. Assustada, com os olhos inchados depois de chorar, ela chegou ao plantão do Conselho Tutelar de Porto Alegre, no bairro Rio Branco, pedindo um abrigo para o menino porque ela estava desempregada e sem ter condições de cuidar dele. As conselheiras então, acolheram o garoto, e, pela primeira vez, ela dormiu sem o pequeno nos braços.

A dor daquele momento ainda está nas palavras aceleradas da mulher. “Eu estava desesperada. Agora, as coisas estão se ajeitando. Ainda não sei o que vai acontecer, sei que as pessoas estão depositando valores em minha conta e muitos contatos estão sendo feitos com o conselho. Nesta segunda é que vou lá, ver o que está acontecendo”, detalhou. Desde sexta-feira ela está em um apartamento “cedido” por uma pessoa que ficou sensibilizada com sua história, no bairro Cidade Baixa. “Alguém alugou esse espaço para que eu pudesse pegar o meu filho, por três dias. Alguém viu a situação que eu estava enfrentando e me ajudou. Não sei quem foi, mas só tenho a dizer, muito obrigada. Sou eternamente grata."

O menino, que sofre de bronquite asmática alérgica, está medicado também devido à solidariedade. “Muitas pessoas colaboraram comigo. Devido a isso eu comprei comida e as coisinhas para ele. Graças a Deus estou com meu filho ao meu lado, tem muita gente boa, com coração maravilhoso, a gente fica até assustado e surpreendido quando isso acontece, pelo jeito que o mundo está”, expressa. Para que a situação que os dois viveram não se repita, ela precisa de um trabalho e uma moradia. “Ainda não tenho nenhuma proposta de emprego, mas através do Conselho Tutelar, me disseram que tem muita coisa chegando. Estou ansiosa para saber o que acontecerá. Tenho muita fé. Antes da matéria as portas se fechavam para mim.” Na Capital desde o dia 14 de julho, a carioca contou que apenas um “conhecido” havia conseguido uma entrevista de emprego. “Fiquei um mês caminhando e nada surgiu. Hoje, vejo que a minha vida pode começar a mudar.”

A história

Há três anos vendendo salgados de porta em porta, a carioca, separada, contou que vivia dias normais no Rio de Janeiro. Não tinha luxo, mas conseguia dar o mínimo para o filho de quatro anos. Não faltava alimentação e nem um teto seguro. Até que chegou um momento em que os clientes começaram não pagar pelos produtos que comercializava. Foi então que algumas pessoas a aconselharam a arrumar as coisas e morar em Florianópolis, capital catarinense. “Me disseram que teria vaga em creche, mais conforto e segurança. Não pensei muito. Vendi tudo, geladeira, fogão, cama e fui. Cheguei lá no começo de maio”, revela. Os cerca de R$ 6 mil conseguidos não duraram muito.

Sem encontrar trabalho e nem escola para o pequeno, foi orientada por um amigo a escolher Porto Alegre para recomeçar. Foi o que fez. Porém, o drama se repetiu. “Não consegui alugar nada para morar, ninguém aceita criança pequena. Comecei a peregrinação no dia 14 de julho. Consegui alugar um espaço, mas o dinheiro foi acabando. Todo dia ia na Secretaria de Educação do Município, mas não conseguia creche”, relembrou. Assim, o dinheiro foi terminando. Sem emprego, moradia e escola para o filho, precisou sair do endereço que vivia. Nesse período, o pequeno adoeceu. Teve uma crise de bronquite asmática alérgica e precisou ser levado ao hospital. “Isso foi na quinta-feira, dia 15. Estava lotado. Demorei mais de duas horas para ser atendida”, lamentou. Se não bastasse, no dia seguinte precisaria sair do espaço alugado. “Fiquei desesperada. Fui para o Conselho e pedi que arrumassem um local no abrigo. Porque senão eu ia ficar na rua com meu filho.” A esperança da mulher é que a partir de hoje uma nova história comece a ser escrita.


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