Pandemia cria o FOGO, sigla em inglês para o "medo de sair de casa"

Pandemia cria o FOGO, sigla em inglês para o "medo de sair de casa"

Receio, no entanto, não chega a caracterizar uma síndrome

R7

Pandemia faz com que pessoas tenham medo de deixar residência

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Se em um mundo pré-confinamento muitos tinham receio de ficar de fora de agitos – uma das sensações que caracteriza o FOMO (“Fear of missing out”), o “medo de estar perdendo algo” –, agora o medo é exatamente o oposto: o de sair de casa. Este fenômeno tem sido descrito como "Fear of going out" (FOGO).

Um levantamento da Engaje Pesquisas revela que a maioria dos brasileiros se sente totalmente insegura em voltar a frequentar cinemas (76%), rodoviárias (66%) e aeroportos (58%) e apenas parcialmente segura em voltar a frequentar shoppings (45%), bares (48%), academias (44%), restaurantes (49%) e salões de beleza (49%).

Segundo o psiquiatra e doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), Ivan Mario Braun, não se trata de uma síndrome. "'Fear of going out' nada mais é do que o medo de sair de casa. Nas circunstâncias atuais, é natural que as pessoas, sobretudo as mais ansiosas, fiquem mais receosas ao retornar às suas atividades fora de casa, o que não necessariamente significa que elas sejam fóbicas.”

O medo se torna um problema quando passa a ser uma fobia, isto é, é desproporcional ao risco que a situação representa. “A fobia é descrita como um medo exagerado de algo específico que faz com que o indivíduo deixe de fazer algo importante para sua vida ou o faça com muita dificuldade”, explica.

De acordo com o médico, quando expostos ao objeto ou situação fóbica, além de medo exagerado e ansiedade, os pacientes podem apresentar sintomas físicos como palpitação, sudorese e tremores.

Apesar dos sintomas de fobia e transtorno do pânico (TP) serem semelhantes, Braun ressalta que o TP é caracterizado por ataques súbitos inesperados que podem vir à tona sem qualquer razão aparente. Tratam-se, portanto, de transtornos distintos.

Para o psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática (ABMP) Wimer Bottura, o diálogo, com um profissional ou não, pode contribuir para a superação da fobia. “A fobia está atrelada a uma hiperdimensionalização da realidade, isto é, enxergar uma circunstância ruim pior do que ela realmente é. Nesse sentido, qualquer diálogo é benéfico na medida em que auxilia a pessoa a desconstruir pensamentos hiperdimensonalizados.”

Outra forma de combater a fobia, segundo Braun, é a exposição ao medo, sobretudo se feita de forma gradativa. “Algumas pessoas, como os que foram convocados a retornar ao trabalho, não têm essa opção. Mas se o indivíduo puder fazer aos poucos, a probabilidade de dar certo é maior.”

De acordo com os especialistas, caso o medo persista, a maioria dos casos de fobia pode ser tratada com terapia cognitivo-comportamental. Em alguns casos, no entanto, é necessário fazer uso de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos, que devem ser sempre orientados por um psiquiatra.


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