Pandemia em 2021 escancara aumento na demanda por oxigênio no RS

Pandemia em 2021 escancara aumento na demanda por oxigênio no RS

Estado receberá 55 respiradores que serão enviados pelo Ministério da Saúde

Christian Bueller

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Respirar é um ato tão natural que, mesmo com a sucessão de mortes por conta da Covid-19 no mundo todo, ainda assusta saber que muitas pessoas perdem suas vidas por falta de ar. Mesmo para quem trabalha com fornecimento de oxigênio, que auxilia no trabalho de profissionais em clínicas, unidades de saúde e hospitais, a pandemia trouxe uma inusitada realidade em que a demanda de empresas no setor aumentou proporcionalmente ao desespero de famílias com pacientes convalescentes.

“Depois do Carnaval foi um caos total, a ponto de ter que esperar alguém ficar bom ou outro falecer para liberar mais cilindros”, desabafa Clenio Isquierdo, que mantém com os irmãos a empresa OxiSul que, desde 1989, mercado de fornecimento de gases industriais, especiais e medicinais. Ultimamente, o expediente médio diário de cerca de 20 horas se dedica ao terceiro, especificamente o oxigênio. Segundo ele, a demanda, que se divide em instituições de saúde da região metropolitana e clientes particulares, aumentou cerca de 500% desde o início da pandemia. “As pessoas pedem ‘pelo amor de Deus’ que eu ajude para que um familiar não morra. Não faço mais fila de espera: se pediu, já entrego, desde que tenha cilindro disponível”, conta.

Isquierdo conta que precisou “tirar o site do ar” em dado momento durante a pandemia para diminuir um pouco o volume de trabalho. “Até que, desde domingo, senti uma pequena queda nos pedidos. Acho que algumas pessoas estão ficando mais em casa e o comércio mais restrito”, diz o comerciante. A dica de Isquierdo para os clientes em potencial é a mesma de médicos e especialistas desde março de 2020, mesmo que possa afetar o seu negócio. “Fiquem em casa e evitem aglomerações”, alertou.

Trabalhando na área há 21 anos, Fernanda Andreoli, da empresa Gasman, diz nunca ter visto algo igual a este período impactado pelo novo coronavírus. “Atendemos mais de 50 pessoas por dia. Com certeza, 90% da demanda é de gases medicinais, oxigênio”, garante. Ela afirma perder a conta de quantas vezes já explicou aos clientes particulares – público-alvo da empresa – qual os procedimentos para alugarem os cilindros disponíveis. “Primeiro, é necessária a prescrição médica, até para saber qual o tipo de produto será utilizado”. A média da locação do cilindro é de R$ 60 e a recarga varia de R$ 110 a R$ 300, mais os equipamentos necessários para o uso do paciente.

A White Martins fornece oxigênio regularmente a clientes de saúde pública e privada do Rio Grande do Sul. O consumo de oxigênio destas instituições registrou um aumento médio de 93% nas duas primeiras semanas de março deste ano comparando com o mesmo período de fevereiro. “A companhia tem mantido constante contato com os seus clientes e autoridades de saúde locais sobre as variações de consumo de oxigênio”, diz assessoria, por nota. Nestas oportunidades, a empresa solicita que sejam comunicadas formalmente e previamente as necessidades de acréscimo no fornecimento do produto bem como a previsão da demanda. “Isso porque compete às instituições de saúde públicas e privadas sinalizar qualquer incremento real ou potencial de volume de gases às empresas fornecedoras”, acrescenta a empresa.

A empresa prefere não projetar evolução abrupta ou exponencial da demanda no futuro da pandemia. Segundo a assessoria da White Martins, são os estabelecimentos “responsáveis pela gestão da saúde e têm acesso a dados que compõem o panorama epidemiológico da Covid-19, como o índice e a velocidade de contágio da doença, o crescimento da taxa de ocupação de leitos, a abertura de novos leitos, a implantação de hospitais de campanha, a quantidade de pacientes atendidos, bem como a classificação dos casos”.

RS receberá 55 respiradores e não projeta desabastecimento de oxigênio 

Apesar de uma demanda por oxigênio que ultrapassou 300% em relação ao início da pandemia, a Secretaria Estadual de Saúde não acredita que logística de entrega e reabastecimento no RS seja um entrave para o abastecimento das instituições hospitalares, unidades de pronto atendimento (UPAs) e pronto atendimentos. Para auxiliar o Estado no combate à Covid-19, o Ministério da Saúde enviará 55 respiradores, atendendo a pedido feito pela secretária da Saúde, Arita Bergmann.

O anúncio ocorreu durante reunião virtual entre o secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Franco Duarte, e secretários estaduais. Serão 38 respiradores de transporte e 17 beira-leitos, equipamentos que serão distribuídos aos hospitais gaúchos nos próximos dias. São as instituições de saúde que adquirem o oxigênio medicinal, ao contrário do ocorre em outros estados, quando as secretarias estaduais de Saúde é que compram. Os principais fornecedores no Estado são White Martins e Air Liquide. A entrega de oxigênio no RS é contínua e ocorre de acordo com a solicitação dos serviços às empresas fornecedoras.

A SES, por meio do Departamento de Gestão da Atenção Especializada, informa que envia um link semanal aos hospitais para acompanhar se há risco de falta de oxigênio e se as instituições possuem disponibilidade de estoque ou aquisição rápida por um período de duas semanas. “Este período de 15 dias é utilizado porque o oxigênio é um produto que não deve, teoricamente, ser armazenado em grande quantidade em locais que não sejam especialmente preparados para isso, como as indústrias de O², por exemplo”, informa o órgão, por nota. O Estado mantém contato constante com as maiores indústrias de oxigênio medicinal para monitorar o fornecimento, logística e capacidade de atendimento, conforme a demanda.

Outro reforço aos hospitais veio de uma parceria entre SES e Exército, que iniciaram a entrega de cerca de 35 mil anestésicos e bloqueadores neuromusculares para 51 hospitais em 45 cidades gaúchas, Os medicamentos fazem parte do chamado kit intubação, utilizados para intubar pacientes com dificuldade de respirar em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI). A responsabilidade pela compra desses medicamentos também é dos hospitais, mas diante da dificuldade de aquisição em nível nacional e ao aumento da demanda, o governo do Estado e o Ministério da Saúde se articularam para comprá-los excepcionalmente e distribuí-los às instituições com estoques críticos e que prestam serviços pelo SUS.

“Precisamos mais uma vez auxiliar os hospitais para garantir a continuidade do atendimento dos pacientes Covid”, explicou o diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica da SES, Roberto Eduardo Schneiders.


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