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Patrimônio imaterial do Mercado Público deve ser considerado em concessão

Ministério Público vai abrir um inquérito civil para investigar a legalidade do processo

Deputada Sofia Cavedon entregou solicitação ao promotor Cláudio Ari Melo acompanhada de representante da Fonsanpotma
Deputada Sofia Cavedon entregou solicitação ao promotor Cláudio Ari Melo acompanhada de representante da Fonsanpotma Foto : Guilherme Almeida

O Ministério Público (MP) e o Ministério Público de Contas do Estado receberam nesta quinta-feira o pedido para analisar a questão da preservação do patrimônio imaterial do Mercado Público de Porto Alegre com a concessão do espaço à iniciativa privada. A deputada Sofia Cavedon (PT), acompanhada do assessor parlamentar e advogado Rosalino Mello, e do coordenador nacional de articulação política da Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais e Matriz Africana (Fonsanpotma), Tata Edson Nogueira, esteve em audiência com o titular da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público, promotor Cláudio Ari Melo, e com o procurador-geral do Ministério Público de Contas, Geraldo Da Camino. A parlamentar defende que seja levantado qual é o patrimônio imaterial do Mercado e que sua preservação seja mantida durante os 25 anos de concessão. O MP vai apurar a legalidade do processo.

O temor levantado pela deputada é que o característico mix de comércio existente no local seja perdido. "O Mercado Público tem floras, a loja da reforma agrária, feiras, como a do Vinil e a do Gibi, e os permissionários, mesmo com prioridade para cobrir as ofertas de locação, conforme constará no edital, poderão não conseguir permanecer ou pagar para manter o negócio. Por que o Mercado é o que é hoje por causa do conjunto ali existente", explicou Sofia. A ideia da deputada é que o MP e MP de Contas possam atuar previamente ao lançamento do edital de concessão pela Prefeitura da Capital.

O Mercado Público também é uma referência para o universo afro-religioso de Porto Alegre. É nele que está o Bará, ou melhor, o próprio Mercado é o Bará, segundo Nogueira, que também participou das audiências para explicar sobre este elemento, que é popularmente conhecido pelo símbolo existente no eixo central do prédio. Nele estaria assentado o Orixá Bará, que na concepção africana, é a entidade que abre os caminhos, sendo também o guardião das casas e cidades. O Bará representa ainda o trabalho, a fartura e o início de todas as coisas. "Tememos pela descaracterização do local. Mais do que um aspecto histórico, há nossas origens, uma significação deste prédio", apontou Nogueira.

O promotor Melo informou que vai abrir um inquérito civil público para analisar a legalidade da concessão. Da Camino afirmou que só irá se manifestar após se inteirar do teor do caso. A Prefeitura pretende lançar o edital no mês de dezembro e a expectativa é de receber as propostas em fevereiro de 2020 para, no mês de maio, assinar o contrato com o parceiro privado. O contrato de 25 anos prevê investimento de R$ 85 milhões e outorga mínima inicial de R$ 28,1 milhões.