Pesquisadores da Ufrgs criam simulador de progressão da Covid-19

Pesquisadores da Ufrgs criam simulador de progressão da Covid-19

Ferramenta digital, disponível à população, permite que o usuário entenda a complexidade da pandemia em sua realidade local

Jessica Hubler

Ferramenta permite que o usuário entenda a complexidade da pandemia em sua realidade local

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Um simulador que analisa a progressão da Covid-19 foi lançado por pesquisadores do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O diferencial da ferramenta, que está disponível em um site exclusivo, é permitir que o usuário ajuste os parâmetros – inclusive as intervenções que podem ser adotadas no combate à pandemia – e possa perceber a influência dessas variáveis no número de casos, por exemplo. A coordenadora da equipe que criou o simulador é a professora do IME Gabriela Cybis. Ela conta que o grupo já estava trabalhando com a ideia de fazer projeções sobre o novo coronavírus, mas o resultado dessas simulações variava bastante dependendo dos parâmetros escolhidos.

“Os modelos podem levar a combinações diferentes desses parâmetros, e a limitação que temos nos dados dificulta ainda mais as estimativas relativas à doença. Assim, uma das ideias do simulador é permitir que o usuário interaja com essas questões e entenda um pouco da complexidade e da incerteza associadas a essas projeções”, explicou. Outra coisa que motivou o grupo, segundo Gabriela, foi a ideia de colocar conjuntos de dados relevantes para a nossa realidade local, como dos estados do Brasil, por exemplo, de modo que o usuário possa fazer a análise do curso da epidemia no seu local de interesse e entender como ela é diferente de outros locais.

“Uma terceira motivação foi permitir considerar diferentes estratégias de intervenção, de uma forma exploratória. O que aconteceria se tivéssemos uma vacina? O que aconteceria se escolhêssemos uma estratégia intermitente de tempos de restrição de contatos e tempos de normalidade?”, questionou. O objetivo é permitir que o usuário interaja com essas variáveis, além de possibilitar uma compreensão maior do momento que estamos vivendo e do processo da epidemia. “Isso pode ser interessante para o público em geral, mas também pode servir para ajudar a informar tomadores de decisão”, destacou.

As projeções são feitas a partir do SEIR (Suscetível-Exposto-Infectado-Recuperado), um dos modelos usados para descrever a evolução de epidemias. “Interagir com esses dados talvez carregue essa mensagem de forma mais forte do que alguém falando sobre isso. Se a pessoa olhar para os dados, enxergar que se a gente continuar as ações que estão sendo feitas hoje, esse é o tipo de cenário que pode acontecer. Transmitir essa mensagem também é uma coisa importante pra gente”, reiterou.

“Estamos trabalhando em várias atualizações, uma delas é que os dados sejam atualizados diariamente, de forma automática, e também queremos integrar esse modelo para trabalhar com dados de mortalidade e hospitalização. Essa é uma primeira versão do modelo e temos intenção de que novas atualizações permitam a ele uma abordagem mais abrangente”, enfatizou.

De acordo com Gabriela, uma das principais metas do simulador, é a apresentação desses modelos para o público em geral. “Temos o recurso da ciência para nos ajudar a entender como essa epidemia funciona, não estamos tateando completamente no escuro. Apresentar essa mensagem é uma das coisas que esse simulador faz”, definiu.

Sobre a plataforma

A página conta com três abas. Na aba “Simulador”, o usuário pode alterar os parâmetros que governam o modelo teórico, como “Fração dos infectados detectados pelo sistema de saúde” e “Taxa reprodutiva básica”. Gabriela explica que, quando o usuário altera essas variáveis, os gráficos vão se atualizando e mostram a evolução da epidemia de acordo com suas escolhas, como, por exemplo, a quantidade de pessoas em cada status (suscetíveis, expostos, infectados e removidos). Nessa aba também é possível determinar diferentes medidas de intervenção e verificar seus efeitos sobre as curvas nos gráficos. Dessa forma, o usuário pode explorar e se familiarizar com o modelo e investigar os efeitos das intervenções escolhidas.

Na aba “Covid-19”, é possível ajustar os parâmetros do modelo ao número real de casos de Covid-19 registrados em estados brasileiros ou em outros países. Assim, o usuário pode adaptar o modelo escolhido a diferentes realidades e verificar as projeções para cenários diversos. Na seção “Sobre”, estão disponíveis explicações sobre o modelo, como as definições de cada parâmetro e de cada intervenção possível.

Gabriela destacou a importância da iniciativa. “Permitir que o usuário interaja com essas variáveis possibilita uma compreensão maior do momento que estamos vivendo e do processo da epidemia”. “Isso pode ser interessante para o público em geral, mas também pode servir para ajudar a informar tomadores de decisão”, concluiu.

Além de Gabriela, integram a equipe os professores do IME Diego Eckhard e Márcio Valk, o aluno de mestrado Felipe Pinheiro e a aluna da graduação em Estatística Mariana Garcia.


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