Porto Alegre completa 249 anos sob os impactos da pandemia

Porto Alegre completa 249 anos sob os impactos da pandemia

Apesar dos tempos difíceis, vacinação traz esperança de dias melhores

Christian Bueller

Ponte de Pedra, um dos cartões postais de Porto Alegre

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Porto Alegre. Porto dos Casais. Da Ponte de Pedra, da Travessa dos Venezianos, do Theatro São Pedro. Da Usina do Gasômetro, da Casa de Cultura Mario Quintana, do Beira-Rio e da Arena. Uma Porto Alegre de muitos cartões postais, mas também impactada por uma pandemia que fez sua primeira vítima justamente na semana do aniversário da cidade, ainda em 2020. Um ano depois, são mais de 3,3 mil óbitos e um cenário de hospitais lotados e grandes impactos econômicos.

No aniversário de 249 anos, Porto Alegre está apreensiva, mas também esperançosa. A vacinação começou a acelerar e mais de 255 mil doses já foram aplicadas. Cada aplicação traz consigo o alívio da imunização e o sonho de dias melhores.

Zoravia Bettiol admite se programou para enfrentar a pandemia apenas sob o olhar da tristeza. "Fracassei", brinca. A simpática artista plástica de 85 anos gosta que a chamem de 'tu' e fala com orgulho da cidade em que nasceu. "Já morei nos Estados Unidos e Europa, mas adoro Porto Alegre e luto por ela, por isso voltei para cá", salienta. Considera o Guaíba sua paixão, "um tesouro que nós temos", que gosta de avistar da zona sul, onde reside atualmente. "Também acho rica a nossa aproximação com os países do Mercosul. Quando viajo, primeiro compro a passagem de volta, depois a de ida", diz.

Ao invés de ficar parada, Zoravia resolveu trabalhar. Fez uma série de 15 pinturas chamada "Ícones" e iniciou ilustrações sobre a obra clássica Divina Comédia. "Vacinadérrima", como ela mesma diz, garante não esquecer dos protocolos sanitários para evitar a propagação da Covid-19. "Ando de máscara, temos que ter responsabilidade e cuidado", reitera. O mais novo trabalho é a mostra Amazônia Index 2021, que faz parte de importantes exposições sobre aquela região que acontecerão de forma virtual e presencial, no Brasil e no exterior. A curadoria é do antropólogo Ben Berardi, vice-Presidente do Instituto Zoravia Bettiol. "Agora, tudo é on-line, não tem desculpa para não fazermos as coisas, temos que nos adaptar aos meios", ensina.  

Foto: Ricardo Giusti

Morador da Capital há 55 anos, o cantor, compositor e produtor cultural Fausto Prado nem lembra dos cinco anos em que viveu na cidade natal, Rio Pardo. A música o acompanha desde muito tempo e o já levou a ganhar inúmeros prêmios com a sua arte, inclusive em nível nacional. A pandemia afetou os shows, cancelados para evitar aglomerações. "Fomos todos impactados. Por sorte, tenho outras atividades, como produção de jingles e trilhas sonoras, mas não é fácil", comentou. Fausto levou a mãe para morar com ele, a fim de protegê-la de mais perto. "Ela é uma atleta, joga tênis, se cuida bastante", sorri. "Ninguém da minha família foi infectado e continuamos nos preservando, saindo pouco de casa", conta o músico.

É na Cidade Baixa que ele se sente mesmo em casa. "Se fosse mais valorizado, o bairro seria o maior ponto turístico de Porto Alegre. Tem quilombos, personagens históricos e um carnaval que começou na cidade por aqui, no século XIX", lembra. A região foi pano de fundo do documentário "Cidade Baixa - Som e boêmia", dirigido por Fausto, em homenagem ao lugar que formou a cultura urbana da Capital onde circulava Lupicínio Rodrigues e Túlio Piva. O agora cineasta também dirigiu o documentário "Laços do Ofício', sobre as relações entre professores de música e alunos em situação de vulnerabilidade social e deficientes intelectuais em oficinas.

Foto: Ricardo Giusti

O diretor cultural do CTG Estância da Azenha, Márcio Régio, 45 anos, mora no Belém Novo, mas passava boa parte da vida na entidade tradicionalista. Com a chegada do novo coronavírus, os eventos sociais precisaram tomar outra forma. "Muitas instituições ficaram sem ter como se sustentar. Nós passamos a fazer galetos mensais com entregas das refeições no formato drive thru", revela. Das centenas de sócios, os contaminados não enchem uma mão. "Promovemos tertúlias virtuais. Foi um ano difícil, sem uma Semana Farroupilha, que é muito importante para nós, mas temos que pensar, primeiro na saúde das pessoas", pondera.

Régio, ao lado da outra diretora, Gislaine Moreira, desenvolveu vídeos em que apresenta brincadeiras antigas, dos tempos em que não era preciso ligar nada na tomada. "É um resgate para instigar os mais jovens, com bilboquês feito de garrafas pet, cinco marias com feijões e arroz e pular corda, tudo confeccionado de forma artesanal", explica. Os vídeos são transmitidos nas redes sociais do CTG e ficam disponíveis a qualquer internauta. O diretor reconhece que a caminhada até o fim da pandemia será longa. "Será um recomeço para todos. E, depois, quando acabar, uma reconquista para todos", projeta.


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